Sonhos interrompidos. João Vitor dos Santos dividia seu tempo entre a família e a preparação para um futuro melhor
Um jovem alegre, sonhador e amoroso. Assim era João Vitor da Silva de Matos, 17, morto após uma colisão entre sua bicicleta e um caminhão, no início da noite dessa quarta-feira, 27. João, forçadamente, deixou para trás um filho pequeno, que irá completar dois anos no dia 19 deste mês. Também ficaram a companheira, que ele conheceu ainda na escola, e com quem tinha um relacionamento há seis anos, amigos, a família, que não se conforma com sua partida, e o sonho de se tornar jogador de futebol.
Os sonhos de João Vitor foram interrompidos quando retornava do Curso de Mecânica que fazia na Escola Senai. Apesar de jovem, ele mostrava preocupação com o futuro da família que constituiu há pouco mais de dois anos. Quando sua namorada, Eduarda da Silva da Conceição, engravidou, pouco antes de completar 15 anos, o João não fugiu da responsabilidade. O casal se uniu ainda mais e passaram a morar juntos na casa da família de Eduarda.
“Ele era como um filho pra mim”, diz Elisângela de Jesus da Silva, sogra de João. “Ele tinha um amor enorme pelo meu neto e pela minha filha. Cuidava muito bem do filho dele. Era uma pessoa alegre que estava sempre sorrindo. Todos adoravam ele”, conta. O namoro do casal começou ainda na escola, quando eram apenas crianças. Desde lá, João Vitor cultivou o amor por Eduarda junto aos planos de se tornar um grande jogador de futebol.
O romance deu um fruto, um bebê. Infelizmente, o pai não irá acompanhar o crescimento do menino, o que aumenta ainda mais a dor de Eduarda. Ela e o companheiro planejavam a festa de aniversário de dois anos da criança. Mas faltando menos de um mês para a celebração, João partiu sem tempo para se despedir do filho, da família e dos sonhos que não teve tempo para realizar.
O velório de João Vitor teve início às 17h 30min dessa quinta-feira. O sepultamento ocorre às 9h desta sexta-feira, 1º de março no Cemitério Municipal.
A preparação para a futura carreira de atleta
João Vitor sempre foi “louco” por futebol. Ainda criança, seus pais lhe matricularam em escolas onde pudesse adquirir técnica e, quem sabe no futuro, realmente se tornar um jogador profissional.
Durante cinco anos, dos 10 aos 15 anos, João participou das turmas da Olé Escola de Futebol. Nessa quinta-feira, a direção da entidade publicou uma mensagem de pesar em sua página do Facebook. “Um menino cheio de vida, de bom coração, que valorizava as amizades e sempre trazia consigo um sorriso no rosto. Era um grande jogador de futebol, tinha um enorme potencial. Nesse momento nos solidarizamos com a família e amigos do João, e desejamos muita força a todos”, diz parte do texto.
Para o diretor da escola, Gustavo Hoffmeister, João era um menino de coração muito bom. Ele também destaca o sorriso como principal característica do jovem. “Sempre sorrindo, de bom humor e brincando. Tinha excelente relacionamento com os colegas e professores. Era um grande jogador. Sempre se destacava nos jogos, tanto que chamou a atenção de outras equipes. Ele era um atacante de velocidade e drible fácil”, avalia. “Não tinha quem não gostasse do João na nossa escolinha. Ele jogava com categorias até dois anos mais velha, de tão acima da média que ele era aqui”, conta.
João Vitor teve passagens por times como o Aimoré e Lajeadense, passou também por um período de avaliação no Sport Clube Internacional e, em 2016, no CT Hélio Dourado, do Grêmio, em Eldorado do Sul.
“Eu fazia de tudo por ele”
João Vitor era o filho do meio do ex-casal Gilson de Matos e Simone da Silva. Renan, 22, e Maria, 10, são irmãos do primeiro casamento. Conforme informações, há poucos dias a mãe de João Vitor lhe deu mais um irmão, de um novo relacionamento. A reportagem não conseguiu encontrar Simone, mas falou com Gilson, pai do jovem.
“Eu fazia de tudo por ele. Cuidava dele e dava tudo que ele queria. Era um ótimo guri. O vício dele era jogar bola”, assegura Gilson. Ele esteve com o filho pela última vez na terça-feira, quando foi levar dinheiro ao garoto. “Ele me pediu dinheiro para voltar de ônibus do Curso. Ele queria voltar sempre de ônibus, mas por algum motivo naquele dia foi de bicicleta”, revela.
Gilson relata que tinha uma ótima relação com o filho. “Foi um super filho. A gente conversava muito. Sempre que eu levava ele nos jogos, nos despedíamos com um beijo. Hoje quando fui buscar ele, não recebi o beijo dele. Eu assinava para ele poder jogar futebol, dessa vez tive que assinar para trazer o corpo dele pra cá”, desabafou emocionado.
Gilson afirma que ainda não parou para pensar se irá processar o caminhoneiro. Esse é um assunto que a família irá tratar em outro momento.
Relembre o caso
João Vitor de Matos dos Santos anos foi atingido, em sua bicicleta, por um caminhão. O acidente ocorreu por volta das 18h dessa quarta-feira, 27, na ERS-124, entre os acessos aos bairros Germano Henke e Aeroclube. Ele sofreu traumatismo craniano e não resistiu.
O motorista do caminhão não quis ser identificado. De acordo com ele, o jovem estava sobre a pista na contramão e não houve como desviar. A condutora de um outro veículo viu tudo, e confirma que não havia como desviar do garoto.