Internet está colocando o meio rural em contato

Online. Mas fomento da Prefeitura ainda é questionado pela burocracia

O Programa de Fomento Internet Rural, lançado pela Prefeitura de Montenegro no final do ano passado, tem resultado sensível, mas aprovado por quem é beneficiado. Neste momento a grande mudança é o interesse da empresa parceira em levar a fibra ótica; enquanto os moradores aguardam o repasse do valor investido na rede.

A produtora rural de Linha Catarina, Rutinéia Reidel Souza, está convicta de que a mediação da Prefeitura com a empresa provedora foi fundamental. O martelo foi batido em reunião na localidade, com a presença do prefeito Gustavo Zanatta e secretários, na qual 34 moradores se comprometeram a contratar o serviço. “Toda a comunidade de Linha Catarina se uniu”, recordando que foram dois anos de luta.

Com mais segurança de retorno, a empresa puxou a linha de fibra ótica até um ponto da estrada que liga a Campo do Meio. O investimento da família Souza foi de R$ 1.100,00, dos quais apenas os cerca de R$ 300,00 do roteador não serão ressarcidos pelo Município. Ela entregou os últimos documentos à Secretaria de Desenvolvimento Rural em janeiro, e ainda aguarda retorno a respeito da aprovação.

Ao menos agora, o acesso à Internet está “ótimo”, tanto que a moradora deu entrevista ao Ibiá pelo WhatsApp. “As crianças conseguem olhar o tão sonhado Youtube e fazem pesquisa para a escola”. Ela se referia ao Kauã, de 6 anos, que revelou ser um jovem nostálgico dos desenhos do Pica-Pau, além de vídeos de trilha de moto.

“Tá on”: Katiele mandou uma “selfie” ao Ibiá. Foto: Arquivo Pessoal

Já a filha Katiele Reidel de Souza, 15, está iniciando o Ensino Médio e terá muita tarefa para realizar, além dos contatos com as amigas pelo WhatsApp e Instagram. Para Rutinéia e o esposo, Valdir Odair de Souza, o benefício é profissional, sem precisar mais esperar para apareceram as barrinhas do 4G para contatar clientes e fornecedores. “Ainda não temos a nota eletrônica. Mas, com o passar do tempo, será necessário”.

Rutinéia se lembra dos dias sem contato com o mundo, rememorados pela ausência do sinal de telefone celular. Ligar para alguém usando o sistema convencional das antenas (que não há em Linha Catarina) é impossível, a não ser “subindo no morro”. A agricultora confirma que na Zona Rural as empresas provedoras cobram mais caro, dividindo o custo da infraestrutura externa pelo total de moradores interessados.

Ressarcimento é burocrático
Após pouco mais de três meses de implantação, até esta sexta-feira, dia 10, nenhum benefício foi pago, e não há previsão para isso acontecer. O secretário de Desenvolvimento Rural, Ernesto Kasper, atribiu a morosidade aos procedimentos legais comuns à Gestão Pública, especialmente quando se trata de repassar dinheiro ao privado.

A burocrácia é alinhada ainda à lei federal de licitações, e os documentos são lançados dentro do sistema Gov.BR do Governo Federal. A pasta promete ainda resolver, nesta semana, uma questão técnica dentro do seu recém contratado sistema informatizaodo.

O Programa é permanente, não retroativo a data da regulação e pode ser solicitado uma só vez. O auxílio é de 250 URM (R$ 4,42), o equivalente a R$ 1.107,00.

Em Bom Jardim há incerteza
Em Bom Jardim, o casal de agricultores Ana Eromilda e Almiro Lopes de Sousa também percebe uma mudança significativa no contato com o mundo. Ela apenas lamenta que a rede de fibra ótica ainda não tenha chegado a outras regiões e que alguns agricultores não se encaixam nos critérios para adesão. “Minha filha e meu genro têm Talão do Produtor e não conseguem fazer”, diz. Neste caso, é uma questão legal em relação à propriedade da terra onde plantam.

Quanto ao subsídio pelo Município dos R$ 1.000,00 investidos, Ana concorda que ajudará. “Se é que ele virá! Cada vez que fomos lá (na Secretaria) faltava algum documento”, reclama. Ana mandou “print” das conversas com um servidor da Agricultura para justificar sua queixa em relação a demora. A pasta alega que há ruído de comunicação, sendo que houve equívoco do cidadão na primeira entrega de documentos.

A angústia é porque recorda do martírio das comunidades do campo dependentes do acesso à Internet pelo sistema convencional (antenas distantes) ou sinal de rádio. Entre setembro e outubro do ano passado, os moradores de Bom Jardim sofreram com períodos de até três dias sem acesso à rede de computadores.

Em paralelo está o desinteresse das empresas na área rural, repetindo a postura das operadoras de celular que vêem pouca atratividade comercial. “Cobraram um absurdo. Pelo fato de não ter quase moradores”, comenta. Na vizinhança, 12 famílias assinaram com a única empresa que mostrou interesse.

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