Situação começou no verão passado e se intensificou neste. A poluição da água contribui para o problema
Os fins de tarde de verão na casa da família Padilha beiram o insuportável. Há dois anos, o casal Alceu, 56 anos, e Eloir, 49, convive com uma assustadora infestação de mosquitos nessa época. E não é pouca coisa. Dá pra sentir a enorme quantidade de insetos no ar com um simples movimento de braço. É preciso cuidado até ao caminhar pelo pátio. “Entra bicho nos ouvidos, entra nos olhos, entra na boca”, conta Alceu. “É tenebroso”.
Os dois moram com um filho no bairro Imigração. É uma unidade rural que faz fundos com a JBS Aves, onde eles criam patos, ovelhas, cavalos e outros animais. O terreno é cortado por um curso d’água, que passa pela empresa e vem descendo em direção à propriedade. Os Padilha vivem ali, da pecuária, há mais de seis anos, vindos do interior do Estado.
Quando o problema dos mosquitos começou, no verão de 2018, Alceu procurou a JBS. “Eu não tenho conhecimento, então fui pedir uma ajuda da empresa”, conta. O morador acreditava que a alarmante quantidade de mosquitos pudesse ter relação com algo que estivesse sendo descartado na água. “Eles vieram, mas aí me disseram que era da grama o problema”, recorda.
A família tentou de tudo quanto foi inseticida. “O veneno mata, mas eles voltam. Nós não vencemos de matar”, diz a esposa, Eloir. Tornou-se rotina que, passado das 19h, todos os dias o barulho do “enxame” começasse a ser ouvido e algumas medidas precisassem ser tomadas.
Todo aquele verão – e ainda mais neste, quando os insetos voltaram em maior quantidade – os Padilha têm jantado e passado as noites com o mínimo de luzes acesas possível. Comem sob a penumbra da luz da área de casa, que acendem para atrair os mosquitos para longe e conseguirem alguns minutos de sossego. Até em volta da TV, os insetos ficam. Na rua, a alguns metros da casa, uma lâmpada fluorescente também foi colocada para “chamar” os incômodos animais.
Quando eles morrem, aí eles parecem se esfarelar. A esposa acaba tendo que tirar sacos cheios dos bichos secos e sem vida, varridos do chão, grudados no forro e até acumulados pelas janelas. Isso, todos os dias.
Sem ter a ajuda de ninguém, o sentimento é de impotência. “Eu não sei do que é isso aí. Se nós tivéssemos condições, nós tínhamos levado para um laboratório”, coloca Alceu. “Eu até pensei em abandonar tudo, mas para onde é que eu vou ir?”, lamenta. O casal chegou a ser recebido pela Vigilância Sanitária da Prefeitura. A resposta, no entanto, não foi nada animadora.
Prefeitura sugere que se evite abrir a casa
Em visita à propriedade, a Vigilância Sanitária coletou amostras dos mosquitos e da água que passa pelo terreno. O resultado é a constatação de que o inseto é da espécie Díptero Chironomidae, que não pica, não transmite doenças e, por isso, “não se trata de inseto de interesse público”, conforme o órgão.
Em nota enviada à reportagem, a Vigilância explicou que, mesmo não tendo um biólogo na equipe, realizou uma pesquisa bibliográfica sobre o mosquito encontrado no bairro Imigração. Trouxe que “sua presença é associada, por muitos autores, com a poluição orgânica e a degradação dos ecossistemas aquáticos; e tem sido utilizada como importante ferramenta em estudos de avaliação da qualidade ambiental da água”. O órgão adicionou que cabe ao setor ambiental da Prefeitura aprofundar a situação, “para poder oferecer à família quais seriam as medidas a serem adotadas.”
Contatado pelo Ibiá, o secretário municipal de Meio Ambiente disse que o caso se trata de um desequilíbrio por fatores associados à urbanização e a poluição do meio ambiente, com o fim de algumas espécies que são predadoras do mosquito e sua consequente proliferação. “Infelizmente, a infestação por mosquitos atinge grande parte da população do mundo hoje em dia; e com as temperaturas elevadas aqui na nossa região e a escassez de chuvas, existe um decréscimo nos predadores naturais”, colocou.
Mesmo com o apontamento da Vigilância sobre a relação direta da situação com o curso d’água que passa pela empresa e vai para a propriedade da família, Adriano Chagas não falou em nenhuma ação possível por parte do Poder Público para auxiliar os Padilha. “Não há nada que se possa fazer a não ser utilizar repelentes, inseticidas e evitar abrir a casa nos horários de maior circulação de mosquitos, no amanhecer do dia e no anoitecer”, disse. No Imigração, o casal segue em meio aos insetos.