Problemas. Além de faltarem educadores, há várias ausências por doenças
O ano letivo de 2017 avança para o segundo semestre e ainda faltam professores na Escola Estadual Técnica São João Batista. A instituição possui quase 1.200 alunos e, para se ter uma dimensão dos problemas, nesta segunda-feira (15), das 14 turmas, metade estava sem mestres: cinco faltaram, alegando problemas de saúde, e dois estão de licença por até 15 dias. Há turmas inteiras sendo dispensadas por falta de alternativas. Desde a volta às aulas, faltam profissionais para as disciplinas de Literatura/Português e Biologia para os alunos do ensino regular. No Técnico, não há professor de Eletrônica e, há duas semanas, um de Biologia pediu rescisão do contrato.
E não é só isso. A escola ainda sofre com a falta de funcionários para serviços essenciais no plano administrativo. Dos três secretários, dois estão em licença médica. Não há pessoal para o Serviço de Orientação Educacional nos turnos da tarde e noite, falta supervisor de cursos técnicos e nem existe servidor para ocupar o cargo de vice-diretor no turno da noite.
Diante dessa situação, pais de alunos estão buscando por soluções junto à direção e alguns já reclamaram diretamente na 2ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), em São Leopoldo. “A Coordenadoria diz que a escola é quem não preencheu a ‘burocracia’ para pedir novos professores”, diz um pai de aluno da escola, que não quis ser identificado. Outra mãe se mostra preocupada com o futuro dos estudantes. “Os que querem dar continuidade na vida escolar, que sonham em passar no Enem para entrar em uma faculdade, como é que ficam? Essa é a nossa preocupação, com os que se dedicam e querem melhorar de vida”, aponta.
Sistemas online de controle x realidade escolar
A diretora do São João Batista, Valéria Rodrigues Graça, reconhece a falta de professores. “Assim que comecei a ouvir as respostas dos pais que ligaram para a CRE, de que a responsabilidade recai unicamente sobre a escola, distribuí e-mails para todos os setores da Coordenadoria. Peço providências desde fevereiro e só agora nos chamaram para conversar”, desabafa Valéria.
Segundo a diretora o maior impasse é quanto ao modelo de avaliação da Escola, que é por competências. Ou seja, não existem notas para os alunos, apenas os conceitos “apto” e “não apto” para determinar a aprovação. Esse modelo foi adotado no Ensino Técnico e causa inúmeros problemas para o preenchimento de dados nos sistemas online da Secretaria de Educação. “A rede é a mesma para todas as escolas do Estado. Não existe uma interface entre esses sistemas online, o ISE e o PGRH, que sejam compatíveis com o modelo de avaliação por competências. Por essa razão, não temos como atualizar os dados da escola”, explica.
Ainda segundo a diretora, para manter a atualização da escola até o ano passado, havia relacionamento direto com a CRE para interpretar e lançar as informações. “Os administradores na Coordenadoria têm senhas e acessos a áreas do sistema, com prioridades acima das nossas, para fazer os ajustes que sempre foram necessários”, afirma.
A diretora explica que a escola não segue a mesma lógica das demais da rede, onde normalmente há um professor por disciplina. Pelo modelo de avaliação por competências, existe uma espécie de pacote de disciplinas que um determinado professor tem de lecionar.
“Disso o sistema de dados não dá conta e, por isso, precisamos desse diálogo com o setor de Recursos Humanos da CRE. Em 2017, houve troca de funcionários e os que assumiram simplesmente não nos ajudam mais como ocorria nos anos anteriores”, explica.
Além disso, ainda há uma rotina de professores que seguidamente deixam de comparecer à sala de aula. “Isso ocorre não apenas com os que são contratados, mas com os de carreira também. Há casos em que comparecem dois, três dias na semana e não completam a carga horária”, relata.
A boa notícia é que o método de avaliação por competências vai acabar em agosto. “Apresentamos nossa situação para o Estado e, a partir de agosto, esse modelo de gestão deixa de existir, pondo fim a esses problemas de atualização cadastral. A vida dos alunos não vai ser prejudicada em nada, mas, com a mudança, melhora o diálogo com os sistemas online de controle escolar”, pondera a diretora.
E para resolver os impasses atuais, como a falta de professores, está agendada para hoje uma reunião entre a direção da escola e a Coordenadoria Regional de Educação.
Ânimo e força para superar as adversidades
Entre os alunos, o clima é de apreensão, principalmente para os que já estão em vias de concluir o Ensino Médio. É o caso da estudante do terceiro ano Eduarda de Oliveira. Ela conta que, entre os colegas, a regra é não desanimar. “Estamos sem professor de Literatura e Física. Estamos preocupados, pois teremos que recuperar essas aulas em janeiro. Vai atrasar nossa formatura e há risco de perder a vaga na universidade por causa disso”, aponta a estudante.
O esforço coletivo tem servido de motivação para não desanimar nesta etapa da vida e, mesmo sem aulas por falta de professor, eles não deixam de estudar. “Nos reunimos mais cedo para fazer trabalhos, estudar para provas, ler livros de Português indicados pelos professores. A gente não quer ficar parado! O Enem está aí, o pessoal quer montar grupos de estudo”, revela Eduarda.