Redução de mães jovens e a participação nas funções ligadas à segurança são destaques
O estudo “Igualdade de gênero e empoderamento das mulheres e meninas no Rio Grande do Sul”, divulgado pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag), mostra uma redução no número de mães jovens e a participação feminina em evolução, nas funções ligadas à segurança pública. Os dados são relativos ao período compreendido entre 2015 e 2019. Apresar do resultado, a taxa de homicídios de mulheres superior à média brasileira, rendimento salarial 26% menor do que o dos homens e uma queda na presença em posições de chefia ainda são alguns dos principais desafios do Estado para alcançar a igualdade de gênero.
O material destaca a evolução dos indicadores do Rio Grande do Sul na busca pelo cumprimento de um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da promoção da igualdade de gênero como forma de reduzir as desigualdades sociais. Questões referentes à violência de gênero, inserção da população feminina no mercado de trabalho, diferenças salariais, acesso a políticas públicas, participação em cargos de chefia e eletivos e saúde sexual e reprodutiva das mulheres estão entre os aspectos analisados.
No Rio Grande do Sul, em 2019 as mulheres representavam 51,3% da população, mas apenas 46,2% da força de trabalho, ainda assim, isso representa um avanço em relação ao ano anterior (45,6%). Mesmo sendo minoria, o contingente feminino tem a maior participação do quadro de desempregados (56,5%), percentual mais elevado quando comparado à média nacional, que fechou 2019 em 53,1%, de acordo com o IBGE.
Para a coordenadora do Instituto Embelleze Montenegro, Letícia Ribeiro, 36, no mercado de trabalho a desigualdade de gênero é ainda mais explícita. “Como eu trabalho na área comercial, acredito que essa questão não implica muito, mas em relação a cargos de maior responsabilidade já senti essas diferenças”, relata a sócia da empresa. “Em alguns momentos, por exemplo, para se dirigir como franqueada parece que a mulher não tem tanto poder de decisão”.
A evolução da participação da mulher em posição de gerente ou diretora registrou queda entre 2015 e 2018. No primeiro ano da avaliação, o percentual era de 34,8%, chegou ao patamar máximo da série histórica em 2017 (39%) e voltou a cair em 2018, quando chegou a 33,8%. Do lado oposto, na Brigada Militar apenas 10,2% dos servidores e 10% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres. Na Polícia Civil há mais mulheres no quadro – 29,2%, sendo que 55% dos cargos de chefia são ocupados por elas. Entre os secretários de Estado, as mulheres ocupam 24% dos cargos.
Violência contra a mulher é um desafio
No Brasil, em 2019, quase três de cada dez mulheres sofreram algum tipo de violência ou agressão e quase quatro de cada 10, algum tipo de assédio. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a taxa de homicídios de mulheres no Rio Grande do Sul era superior à do Brasil em 2017. No Estado, foram registradas 5,1 mortes de mulheres a cada 100 mil pessoas contra uma taxa de 4,6 a cada 100 mil no país.
Enquanto a taxa de homicídios de mulheres negras no Estado ficou em um patamar próximo ao do país (5,4 contra 5,7 no Brasil), a de mulheres brancas foi muito superior (5 contra 3,2). Dos 300 casos de homicídios de mulheres no Estado, 83 foram classificados como feminicídio (quando o assassinato é cometido em função do gênero). Quanto aos autores de algum tipo de ato violento contra as mulheres, o estudo aponta que 76,4% dos agressores eram conhecidos, na maior parte dos casos parceiros ou ex-parceiros das vítimas.
Mudança de comportamento influenciou nos resultados
Casamentos prematuros e a maternidade de meninas também são práticas que a ONU visa a combater para alcançar a igualdade de gênero. Na região metropolitana de Porto Alegre, entre 2016 e 2018, não foram registrados casos de casamento de menores de 15 anos, e no Rio Grande do Sul este número chegou a dois casos. Quanto aos dados relativos a mães meninas e adolescentes que deram à luz no Estado, os números caíram. Em 2015, 869 mulheres de 10 a 14 anos tiveram filhos, contra 589 em 2017. Entre mães de 15 a 19 anos, os nascimentos caíram de 20.700 para 17.574.
Faltando pouco para concluir o ensino médio, a jovem Amanda Cauana Brand, 15, tem o casamento distante dos planos “Não pretendo casar e nem ser mãe antes do tempo porque isso é um compromisso muito sério, requer muitas responsabilidades”, enfatiza Amanda, que ainda destaca a importância do empoderamento feminino para reduzir as desigualdades sociais.
“Inúmeras mulheres morrem por abuso ou feminicídio, e infelizmente muitos homens não levam essa questão a sério. A cada cinco minutos uma mulher é violentada ou até mesmo estuprada e não tem coragem de denunciar, mas elas precisam fazer isso e não ter medo. Se todas denunciarem, isso pode mudar”, orienta a estudante, mostrando que a nova geração não está alheia à situação.