Afeto. Em decisão coletiva, denominação será a primeira a celebrar união homoafetiva religiosa em Montenegro
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) será a primeira a celebrar casamento religiso homoafetivo em Montenegro. No dia 1º de junho, aniversário de 128 anos da instituição, a congregação nacional tornou legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seguida no último final de semana pela Diocese Meridional – com sede em Porto Alegre – durante o 126º Concílio Diocesano. Inclusive, um casal montenegrino já manifestou seu interesse em contrair o matrimônio no templo da rua Osvaldo Aranha.
O Casamento Igualitário foi aprovado no Sínodo (reunião geral quadrienal e instância máxima) da IEAB, que em 2018 foi realizado em Brasília. O reverendo Ives Vergara Nunes, pároco da Paróquia do Espírito Santo, em Montenegro, explica que, no entanto, essa decisão não é uma ordem. Para acontecer nas comunidades, precisava ser validada pelo Concílio, que é a instância máxima de cada Diocese. “A Diocese da qual Montenegro faz parte aprovou-o no último final de semana”, reitera.
A liberdade de debate é uma característica da Igreja, que dá a cada Comunhão Anglicana pelo mundo autonomia para decidir a respeito de cada assunto. Vergara explica que a Episcopal do Brasil é uma das 38 igrejas que seguem a linha da matriz Anglicana, fundada na Inglaterra. Assim, há 21 anos o tema Sexualidade Humana – não especificamente com foco na homossexualidade – é discutido pela congregação nacional.
O debate culminou na decisão deste mês, que coloca a brasileira como a quarta Anglicana no mundo a permitir o Casamento Igualitário. Quem defende essa união aponta que afetividade e sexualidade são dons dados por Deus, alicerces da felicidade individual e a constituição de uma família. O reverendo observa, ainda, que há bastante tempo os homossexuais participam da vida da Igreja. Assim, apesar de alguns não se assumirem publicamente, sua presença não causará estranheza às comunidades.
“Esses casais, na verdade, já estão na nossa Igreja”, ratifica. Essa certeza dá-se pelo fato dos religiosos se aproximarem dos fieis para ouvir suas confissões e tentar amenizar suas angústias. Alguns, mais sensíveis, faziam o acolhimento desses casais, mantendo as relações sob sigilo. A legalização põe fim a essa informalidade. “Isso diz respeito à aproximação e aceitação”, declara Vergara.
O religioso concorda que haverá posições contrárias, tanto que a decisão de maio causou desligamentos da Anglicana. Por outro lado, observa que dos 62 delegados presentes em Brasília, 57 foram a favor (3 contra e 2 abstenções). Em Porto Alegre, 48 de 54 apoiaram a legalização. “Também vencemos com larga margem de apoio”, comemora. Além do mais, essa postura de tolerância acaba promovendo a aproximação daqueles que se vêem representados pelo posicionamento.
É o caso de duas jovens que, dois dias após a decisão na Capital, foram à sede em Montenegro se informar a respeito. Inclusive, estariam ansiosas para receber a bênção de Deus. Ainda quanto à eventual contrariedade, o pároco comenta que mudanças desta natureza sempre são polêmicas e dividem opiniões. O mesmo aconteceu quando a Anglicana aprovou a ordenação de mulheres ao sacerdócio; ou ainda a decisão de casar pessoas divorciadas.
Vergara acredita que, entre as igrejas históricas e tradicionais, a Episcopal Anglicana do Brasil é a primeira no país a aprovar a união homoafetiva. Para a celebração de matrimônio não serão necessárias mudanças litúrgicas, visto que o rito matrimonial do Livro de Oração Comum de 2015 foi adequado à neutralidade de gênero, não havendo mais a declaração de “marido e mulher”. Em 2019, a Paróquia do Espírito Santo em Montenegro fará 110 anos.