Instituição opera com 466 profissionais de diversas áreas da medicina e atende a 14 municípios
O Hospital Montenegro (HM) 100% SUS completa hoje seus 87 anos de história. Em meio a muitas conquistas a comemorar, surgem vários objetivos no horizonte. Eliane Maria Leser Daudt, presidente da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (Oase), mantenedora da instituição de saúde, fala com satisfação do momento atual do HM.
Eliane está completando, em 2018, uma década à frente do hospital, pouco se comparado ao tempo que tem vivenciando sua história. Sua mãe ficou 17 anos na presidência. “Eu nasci aqui, em 1947. Cresci sempre estando aqui. Em casa, o hospital sempre foi muito presente”, conta ela. Foi e continua muito presente em sua vida. Ao caminhar com ela pelos corredores, é fácil perceber isso. Funcionários e pacientes a cumprimentam e cada cantinho recebe um pouco de atenção.
Recordações não faltam. Algumas, de um período difícil, em que a instituição esteve muito próximo de fechar. Elas trazem alguma tristeza, é claro, mas, principalmente, deixam ensinamentos para que erros não sejam repetidos. “Passamos momentos muito difíceis. Em que o HM quase fechou. E trabalhamos para que eles não voltem. Acompanhamos muito de perto, sabemos o que se passa aqui no hospital. E queremos que quem chega aqui mal saia bem”, diz Eliane, lembrando o lema do hospital “viver para servir” e o ideal de jamais deixar de prestar acolhimento a quem necessita de saúde.
Na reestruturação pela qual a instituição de saúde passou, a presidente da Oase destaca a chegada de dois profissionais: o diretor administrativo Carlos Batista da Silveira e o diretor técnico Fabrício Fonseca. “Era necessário fazer algo, mudarmos. E eles trouxeram ideias novas”, complementa. Assim, o HM se reestruturou nos últimos anos e agora começa a planejar investimentos.
O diretor administrativo do HM detalha que a instituição é referência para 14 cidades do Vale do Caí e que recebe pacientes de ainda mais municípios. Até o final do ano, o HM conseguirá quitar os R$ 15 milhões de dívidas tributárias que tem com o governo federal. O pagamento significa estar apto para receber verbas federais. Uma série de recursos estão previstos para chegar durante 2018, oriundos de emendas parlamentares. Uma delas, no valor de R$ 349.698,00, do deputado Pompeu de Mattos (PDT), oportunizará a reforma dos quartos da internação clínica. Outra, do parlamentar Ronaldo Nogueira (PTB), no valor de R$ 500.112,00, reverterá na reforma do Centro Obstétrico.
A chegada desses recursos só é possível porque a saúde financeira voltou. “O Hospital Montenegro sempre atendeu a todos. Tornar-se 100% SUS era uma obrigação. O hospital de estruturou para agora poder investir em saúde”, destaca Carlos Batista.
Os números da instituição impressionam. Somente em 2017, foram 50.284 atendimentos na emergência e, desses, 36.394 são pacientes de Montenegro. O número de internações alcança 5.384. O HM realizou, no ano passado, 1.132 partos e 2.787 cirurgias gerais. Já os atendimentos por especialidade alcançaram 28.654. A equipe é composta por 466 colaboradores em regime de CLT e, desses, 43,78% representam a área assistencial, 36,69% apoio, 10,30 administrativo, 7,30% o Samu e 1,93% o programa Menor Aprendiz.
Recursos e equipamentos previstos
– R$ 349.698,00, emenda do deputado federal Pompeu de Mattos (PDT): reforma dos quartos da unidade de internação clínica, num total de 386,71 m².
– R$ 399.753,60, emenda do deputado federal Danrlei de Deus Hinterholz (PSD): aquisição de 4 computadores, 5 monitores multiparâmetro, 1 arco cirúrgico e 1 desfibrilador convencional.
– R$ 250.020,00, emenda do deputado federal Ronaldo Nogueira (PTB): reforma de quartos da unidade de internação clínica, num total de 270m².
– R$ 200.000,00, emenda do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT): aquisição de gerador acima de 300 KVA).
– R$ 189.000,000, emenda do deputado federal Cajar Nardes (PR): aquisição de 2 monitores multiparâmetro, 2 oximetros de pulso e 1 autoclave.
– R$ 500.112,00, emenda do deputado federal Ronaldo Nogueira (PTB): reforma do Centro Obstétrico.
– R$ 634.477,50, consulta popular 2016/2017 dos municípios de Barão, Brochier e Maratá: aquisição de 4 monitores multiparamétrico para paciente, 3 monitores multiparamétrico, 1 monitor cardiotocógrafo, 1 eletrocardiógrafo portátil, 5 oxímetros portáteis, 3 ventiladores pulmonares, 1 eletroencefalógrafo, 1 raquimanômetro, 1 mesa cirúrgica elétrica, 1 serra/perfurador ósseo, 2 elevadores de transposição de leito, 2 bombas de retorno venoso, 1 foco cirúrgico móvel de solo e 1 ultrassom diagnóstico portátil.
Centro de atendimento para AVC reduz óbitos e sequelas
No dia 10 de abril de 2017, o Hospital Montenegro deu um grande passo em sua história. Após o processo iniciado dois anos antes, casos de Acidente Vascular Cerebral mais complexos, de tipo 3, passaram a ser atendidos pela instituição. O processo teve início com a solicitação ao Ministério da Saúde para credenciamento do serviço e a mudança levou o HM para outro patamar de instituição de saúde. O incentivo que vem para o hospital prestar esse serviço é de R$ 98 mil reais por mês, o que não cobre os custos. Na região, apenas o HM oferece esse atendimento, recebendo também os pacientes da rede privada.
O diretor técnico Fabrício Fonseca explica que, na prática, isso representa grande evolução no tratamento e melhores chances de sobrevivência e/ou redução de sequelas aos pacientes. Até abril do ano passado, casos desse tipo tinham de ser encaminhados para Canoas. “Isso significa um tempo para conseguir o transporte e todo o trajeto até lá. E, ainda, havia a possibilidade de Canoas não poder receber o paciente”, exemplifica Fonseca. “Hoje é mais adequado. Agora tem o que ser feito, antes não havia tratamento a oferecer para casos agudos”, complementa.
O paciente que chega ao HM com quadro de AVC é tratado com prioridade, num protocolo claro e com linha de cuidados estruturada. Há equipe neurocirúrgica atuando em plantões 24 por 7, ou seja, sempre disponível. A principal dificuldade agora, segundo Fabrício, está em fazer com que os pacientes cheguem no HM em tempo hábil, já que se corre contra o relógio nesse tratamento. “O limite para receber o medicamento é 4h30min da ocorrência do AVC. E, mesmo assim, pode haver complicações. Não quer dizer que, em 100% dos casos, os pacientes sairão sem complicações. Mas a oferta de tratamento melhorou muito”, resume.
Sinais de AVC e etapas de atendimento
– Ao suspeitar de AVC, o primeiro passo é identificar os sintomas, que podem incluir adormecimento em um lado do corpo, dificuldade para falar, entender e se locomover, engolir e enxergar, além de dor de cabeça forte;
– Perda de força na musculatura do rosto, deixando a boca torta.
– Após o pós-hospitalar, que é fundamental em todos os casos, o paciente deverá dirigir-se ao HM, onde será atendido preferencialmente. A triagem realizará um exame dirigido e a vítima logo será encaminhada para a sala vermelha, onde são acolhidas as emergências;
– O Centro de Atendimento em AVC entra, então, com o protocolo, que se trata de uma ficha, e todos os setores do hospital ficarão cientes sobre o acolhimento do paciente;
– O paciente manejado clinicamente ficará um período de 36h para estabilização. Em casos de instabilidade no quadro clínico, ele será encaminhado, conforme protocolo e emergência, a outros setores, como UTI.
Captar órgãos para salvar vidas já é uma realidade na casa de saúde
Durante o ano de 2017, a campanha “Cultura Doadora” trouxe à tona o tema da doação de órgãos. Em diversas ações o Hospital Montenegro 100% SUS reiterou ter condições de tornar-se um hospital captador de órgãos e, para isso, capacitou sua equipe. Ano a ano, cresce o número de potenciais doadores. Mas, na maior parte dos casos, há a negativa familiar. Avançar na conscientização da comunidade e na capacitação da equipe está entre os objetivos da instituição de saúde.
Em 2015, o HM teve três mortes encefálicas. Em dois desses casos, o coração parou, tornando impossível manter os órgãos e, no terceiro, houve a negativa familiar para doação. Em 2016, foram quatro mortes encefálicas e, em nenhum caso, os familiares autorizaram. Em 2017, o HM registrou sete mortes encefálicas, todas também com negativas familiares. Já em 2018, houve, até o momento, dois casos. E em um deles a família autorizou a doação.
O momento de contatar a família e expor a possibilidade de, a partir de uma morte salvar várias vidas, é dos mais difíceis. Há de se respeitar o momento sofrido de quem perdeu um familiar. A médica nefrologista Tatiana Michelon, diretora clínica no HM, enfatiza que a possibilidade de uma doação só é pensada depois de atestado o óbito. “Até o último momento, pensamos no paciente. Depois, se constatado o óbito e atestado que há condições dos órgãos serem doados, aí sim, é conversado com a família”, diz Tatiana.
Falar de doação, tornar o tema mais cotidiano e gerar o questionamento nas famílias é importante. Só assim, no momento de decidir a respeito, é que os familiares irão conseguir se permitir a generosa e grandiosa decisão pelo sim. “A humanização deve ocorrer em todos os momentos no hospital. Não deve estar em buscar a família apenas na hora de informar a morte e falar da doação. Mas esse é um dos momentos mais difíceis. Porque se compreende a dor daquela família”, diz Tatiana.
Para a equipe, isso significa estar disponível 24h porque o tempo entre a morte encefálica e a retirada dos órgãos precisa ser curto. A capacitação dos profissionais do HM ocorre junto à Santa Casa de Porto Alegre, que conta com o hospital Dom Vicente Scherer, referência nacional em transplantes. O recente caso de doação é visto por Tatiana como muito importante ao HM enquanto instituição. “É motivo de orgulho ver tudo funcionando. Somos um hospital de ‘gente grande’ e cada profissional se fez importante”, complementa a médica.
Confiabilidade e agilidade caminhando juntas
Jamais pode haver dúvida num diagnóstico de morte encefálica, que permite a doação de órgãos. E não há, em nenhuma hipótese. Porque é utilizado um protocolo bastante rígido que orienta a ação das equipes. Na morte encefálica, foi perdido o comando de todas as funções do corpo, que são reguladas no cérebro. É questão de pouco tempo para que tudo pare. Os médicos conseguem apenas prolongar por algum o tempo os órgãos funcionando.
Mundialmente, qualquer médico tem condições de fazer esse diagnóstico clinicamente. São critérios simples. No Brasil, ainda é exigido que dois profissionais efetuem o diagnóstico. Além disso, é feito um exame gráfico que demonstre o quadro. Então, com um rígido protocolo, não há como ocorrer uma falha de diagnóstico de morte encefálica. “No momento em que a família é questionada quanto à doação, o atestado de óbito já está assinado. Não há dúvida” diz Tatiana. Se a família opta pela negativa, os aparelhos que fazem a manutenção temporária dos órgãos são desligados.
E todo esse processo precisa ser muito rápido. Dependendo do órgão, se tem apenas quatro ou seis horas de prazo para conseguir realizar um transplante. Daí a necessidade de tudo funcionar muito bem, do atendimento à família até a liberação de simples questões burocráticas que, se não foram desenroladas em tempo mínimo, podem inviabilizar o transplante.