Após desconfiança, método para afastar pragas e melhorar o rendimento das plantas está conquistando adéptos
Foi com certa desconfiança que o produtor Antônio Ademir Carlotto, 59 anos, recebeu dos extensionistas do escritório de São José do Sul da Emater-RS/Ascar um frasco com solução homeopática para repelir a presença do pulgão na sua plantação de morangos orgânicos localizada em sua propriedade em Uricana. Após aplicar a solução ele viu resultado e, em janeiro deste ano, participou de uma palestra em Bom Princípio para saber mais sobre o processo.
“Se trabalha com gotinhas (da solução). Achei incrível, que não ia dar certo. Falei para a esposa e ela disse ‘não pode dar certo’”, recorda. Porém, Carlotto observou a eficiência da homeopatia na prática. Após aplicar uma solução na sua produção ele viu a perda de morangos estragados por insetos cair de oito para apenas dois quilos. “Fiquei apavorado, com duas gotinhas tu resolve o problema”, afirma.
Hoje, o trabalhador rural produz as próprias homeopatias. Conforme Carlotto, a despesa para fazer as soluções é mínima. Ele conta que antes usava diversos produtos e técnicas para afastar pragas e insetos de sua produção, hoje isto é feito apenas com homeopatia. “Baixou o custo da produção”, garante. “Antes eu gastava R$ 500,00 por mês em produtos para repelir (as pragas e insetos). Hoje faço por conta, estou desenvolvendo conforme a praga aparece”, reforça.
Outro fator destacado por Carlotto é a fácil aplicação da homeopatia. Segundo ele, cinco litros de água e 50 gotas da solução são suficientes para manter uma estufa de morangos protegida. Além disso, o produtor revela que hoje utiliza a homeopatia também para cuidar da própria saúde.
Conforme os extensionistas rurais da Emater no município de São José do Sul, Rogéria de Oliveira Flores e Pedro Augusto Veit, o trabalho com homeopatia nas propriedades do município vem sendo desenvolvido há três anos. Porém, houve uma intensificação no uso do método no último ano. Atualmente, estima-se que a técnica é aplicada em 12 propriedades da cidade.
Conhecimento que é compartilhado
A aproximação dos técnicos da Emater de São José do Sul com a homeopatia ocorreu em 2015, quando Rogéria participou de um curso de homeopatia animal e vegetal disponibilizado pela entidade. “A partir dali começamos a implementar (o método no município)”, conta a extensionista. Mais, ao lado de Pedro, ela passou a realizar palestras sobre o tema. Estes momentos não ficaram restritos a São José do Sul e já ocorreram em outros cinco municípios da região.
Conforme explica Rogéria, a homeopatia possui algumas leis, sendo a principal delas a de que o semelhante cura o semelhante, ou seja, utiliza-se o próprio animal para se fazer uma homeopatia que o repele. Os representantes da Emater salientam ainda que algumas receitas de soluções são passadas para os produtores e outras são feitas em conjunto com eles. Há, ainda, em alguns casos, a manipulação em farmácia para avançar o processo de produção da homeopatia.
Pedro e Rogéria elencam ainda três grandes vantagens propiciadas pela homeopatia: independência, com o agricultor podendo produzir suas próprias soluções; ganho econômico, em razão do preço acessível para a produção das homeopatias; ganho ambiental, uma vez que a homeopatia não agride o meio ambiente e favorece para que o ecossistema entre em equilíbrio.
Vantagens também são vistas na fase de floração de plantas
Os representantes da Emater em São José do Sul contam que a homeopatia começou a ser utilizada para o controle do carrapato. Com resultado satisfatório, o método passou a ser usado na produção agroecológica para o controle de inseto. “Hoje a homeopatia é usada inclusive para estimular a floração”, revela Rogéria.
Conforme os extensionistas, um trabalho especial é realizado junto ao grupo de produtores ecológicos do município, onde é feita a busca de alternativas para a produção e controle de ataques de pragas. “O uso da homeopatia na agricultura orgânica é facilitado por não ter tempo de carência para colheita após a utilização da solução”, destacam.
De acordo com Pedro, a maior experiência em São José do Sul ocorre nas plantações de morango orgânico. “Vimos resultados no controle do pulgão e do ácaro”, destaca. Os extencionistas explicam que, por trabalhar com um efeito repelente, os insetos ainda podem ser observados na plantação, mas em níveis mais baixos e sem prejudicar. “A planta convive com o ataque e, com equilíbrio, mantém a produção”, explicam. Além disso, a cadeia de produção leiteira utiliza a homeopatia para o controle de carrapato.