ALERTA. Demanda decorrente da pandemia já vem limitando estoque de fornecedores
A decisão da direção do Hospital Montenegro 100% SUS foi anunciada na segunda-feira e está valendo a partir desta quarta, 1º de julho. As cirurgias eletivas, que não têm urgência, estão suspensas na instituição por tempo indeterminado. Elas já tinham passado por uma interrupção de semanas quando eclodiu a pandemia do coronavírus, mas haviam sido retomadas no início de maio. A demanda normal do HM é de cerca de 80 eletivas realizadas por mês.
O que motivou a parada, segundo o diretor técnico do hospital, Jean Ernandorena, é um problema que vem sendo verificado em outros estados há mais tempo, mas que tem começado a atingir o Rio Grande do Sul de forma mais forte nas últimas semanas. Com restrição à importação de insumos de fora do país e o crescimento da demanda por causa da pandemia, está havendo falta de medicamentos para as instituições de saúde.
“O Hospital Montenegro se preparou bem para isso e não tem falta de medicação, mas se houver aumento da demanda de pacientes graves, principalmente de pacientes Covid, talvez nosso estoque não seja suficiente”, justifica Ernandorena. “Então, se achou prudente suspender os procedimentos eletivos nesse primeiro momento e se preparar para o pico do coronavírus, que a gente imagina que vá ocorrer nas próximas semanas.”
O diretor conta que o estoque do HM vem sendo reforçado desde março e garante que a instituição montenegrina está bem preparada para suportar o atendimento a pacientes em estado grave por mais de um mês. “Mas se a gente vai cotar para comprar alguns medicamentos, já não tem alguns nos fornecedores hospitalares”, revela.
Um dos principais exemplos do desabastecimento são os insumos usados para a anestesia dos pacientes; que são os mesmos aplicados de forma contínua nos que necessitam de ventilação mecânica (os respiradores). “O Brasil inteiro começou a demandar mais medicamentos e o setor que abastece os hospitais não conseguiu dar conta disso”, resume Ernandorena.
Outras instituições do Estado, em municípios como Canoas, Santa Rosa, Ijuí e até o Hospital Vila Nova, de Porto Alegre, passam pela mesma situação e também suspenderam as cirurgias eletivas para diminuir a demanda. “Existe uma fila bem grande na Região (de eletivas), mas, nesse momento, a gente tem que pensar no que é mais prioritário”, pontua o diretor do HM.
Quem tinha procedimentos marcados está sendo contatado. Na mesma linha, a partir da próxima segunda-feira, dia 6, procedimentos eletivos de endoscopia e colonoscopia também deixam de ser realizados.
No Caí, dois leitos de UTI estão bloqueados
Atento ao problema, o Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí, também suspendeu as cirurgias eletivas desde ontem, dia 30. E a falta de medicamentos, no caso da instituição, teve reflexos ainda mais problemáticos. Dos cinco leitos de UTI disponíveis e habilitados no hospital para atender a comunidade, dois tiveram de ser bloqueados por enquanto.
“Já há dificuldade de transferir ou aceitar pacientes devido a essas medicações específicas. O próprio Ministério da Saúde e a Coordenadoria de Saúde estão cientes das dificuldades e tentando resolver, mas está bem difícil”, revela a administradora da instituição, Maitê Bohn. Lá também estão com estoque limitado os bloqueadores neuromusculares utilizados na intubação e na manutenção da intubação.
Levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde em todo o país revelou que, além deles, outros sedativos, anestésicos e medicamentos adjuvantes na sedação também estão em falta no mercado. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que, junto do Ministério da Defesa, está em tratativas com laboratórios e entidades para tentar dar conta do problema.
A reportagem do Ibiá também questionou a direção do Hospital Unimed Vale do Caí sobre a situação dos seus estoques, mas não recebeu retorno até o fechamento da matéria.