Oficial. Projeto reconhece Montenegro como “Berço da Bergamota Montenegrina”
Por unanimidade, a Assembleia Legislativa aprovou o Projeto de Lei que declara Montenegro Capital Estadual e Berço da Bergamota Montenegrina. A proposição do deputado Elton Weber (PSB) faz justiça ao principal produto agrícola do município e eterniza 69 anos de uma história de ligação com a natureza.
Em 1940, na localidade de Campo do Meio, o agricultor João Edvino Derlam percebeu uma árvore diferente que brotou em meio ao capim, e cuja sua fruta maturava no fim de julho, muito após a safra original. A filha Alzira Isolde Derlam Krug, 72 anos, recorda que sua atitude foi proteger aquela árvore estranha. “Vocês não apanhem aquela fruta. Quando estiver madura eu digo. Quero ver até quando ela dura”, disse o colono aos quatro filhos.
Somente no começo de novembro declarou aquela bergamota pronta. Isso se repetiu por dois anos. “Se fosse outro, diria ‘ah, essa porcaria atrasou outra vez’, e passava o machado”, comentou o neto Márcio Krug, 45, filho de Isolde. Ele exalta a paciência que o avô teve para observar os caminhos da natureza. “E assim ele produziu toda essa riqueza do município”, disse Isolde.
Ela assinalou que a Montenegrina é o citro que mais ocupa terras, tem a maior colheita e o melhor preço, inclusive na exportação. Ao lado do primo Everton, filho de Vera Vone Kehl, 69, Márcio é o único da família que ainda vive da terra e honra o legado. Ele mostra com orgulho suas 52 mudas que são netas da bergamoteira matriz encontrada pelo avô.
Mudas originais perpetuam a espécie
João Edvino Derlam havia tirado centenas de mudas a partir de sementes, o que concede originalidade. Porém, poucas vingaram. A grande maioria das árvores que se espelha pelos pomares do Vale é de enxerto. Assim, as plantas de Márcio são muito raras, tanto que já despertaram interesse de compra.
Enquanto ele falava das características das plantas de seu pomar em Lajeadinho, o sobrinho Carlos Eduardo Krug Gewher se aproximou. “Eu sou bisneto do descobridor da Bergamota Montenegrina”, declarou, também orgulhoso, o menino de 10 anos, filho de Charlene Krug. E essa postura do menino emociona a avó Isolde, que em um vasinho na varanda cultiva sua mudinha solitária, como se fosse uma recordação do falecido pai.
Lembranças que a irmã Vera encontro nos pomares em Alfama, onde o esposo Cilon Kehl, 70, ainda mantém pés filhos da matriz. Ele se lembra daquela primeira árvore e de como foi enfraquecida pela debandada de agricultores que vinham de todos os lugares para tirar enxerto. Já dona Vera não tem memória sobre quando o pai encontrou a árvore original. “Eu tinha 8 anos. Lembro que trepava no pé e comia bergamota”, lembra.
Ela acredita que o projeto faz justiça, pois de fato a cidade é o berço desta fruta. “E que dá muito lucro”, enfatizou. Os outros filhos de Derlam são Iria Elsa, 78; e João Erno, 76. Mas a família não vive mais nas terras de Campo do Meio e as primeiras bergamoteiras já não existem. O arvoredo está sob os cuidados do genro de João, Afonso Nonnemacher, mas a intenção dos descendentes é vender os 10 hectares
Título será marketing ao produto de Montenegro
O projeto foi aprovado por unanimidade terça-feira, dia 4, na Assembleia Legislativa, e agora depende de sanção do governador Eduardo Leite (PSDB). O deputado Elton Weber (PSB) destacou que a proposição reconhece a importância econômica da fruta, especialmente para o Vale do Caí, sendo fonte de renda de centenas de agricultores.
Toda a articulação partiu da vereadora Josi Paz, que vê vantagens econômicas, além da homenagem a Montenegro. “Agora o Município poderá usar esse título em materiais de divulgação, valorizando a produção”, enfatiza. Inclusive os produtores poderão criar um selo de garantia “Capital Gaúcha da Bergamota Montenegrina”, ou usar o título como marketing em folders.