Gustavo Kuhn passa a limpo seus 30 anos de dedicação às artes marciais

Conquistas, viagens e medo marcam as três décadas de carreira do atleta

Um dos atletas mais vitoriosos do Brasil nas artes marciais é de Montenegro e está alcançando três décadas de carreira em 2019. Com títulos no Taekwondo, no Muay Thai, no Jiu Jitsu e no MMA, além de experiência em quatro continentes do mundo, o lutador Gustavo Kuhn completa 30 anos de dedicação às artes marciais e passa a limpo sua bem-sucedida trajetória no esporte. Aos 39 anos de idade, o atleta colhe os frutos da vitoriosa carreira e relembra seus principais momentos nas artes marciais.

O taekwondo foi a primeira arte marcial praticada pelo campeão Gustavo Kuhn, aos nove anos de idade

Tudo começou em 1989, quando Gustavo tinha apenas nove anos. Sua paixão pelas lutas surgiu a partir de seriados japoneses e do incentivo do irmão mais velho, Volmir Kuhn. Os primeiros golpes de Gustavo foram no Taekwondo. Quem treinava o pequeno atleta, na época, era o professor Odair Lopes Moraes. O talento do jovem atleta logo foi colocado à prova, e ele correspondeu da melhor maneira possível.

Gustavo disputou campeonatos de Taekwondo entre 89 e 99, sagrou-se campeão gaúcho Infantil, Juvenil e Adulto, foi campeão brasileiro Juvenil em 1996 e chegou a ser cotado para disputar as Olimpíadas de 2000, em Sidney, mas para isso precisaria ter lutado o Mundial. “Na época, não tinha condições financeiras para disputar o Mundial, aí não tive como ir para os Jogos Olímpicos”, frisa.

Um episódio ocorrido em 1997 acabou desanimando o atleta a seguir no Taekwondo. O montenegrino disputava o Campeonato Brasileiro da modalidade, em Minas Gerais. Fez três lutas e chegou à final, quando a arbitragem inverteu o resultado do combate e Gustavo ficou com o vice-campeonato. “Os juízes erraram feio. Ali eu desanimei”, recorda.

Antes disso, em 1995, fez sua primeira aula de Muay Thai. Inicialmente, não gostava dessa modalidade, mas continuou para desafiar uma característica que o acompanha até hoje: o medo. “Quando comecei, considerava o Muay Thai violento e indisciplinado. Só não desisti porque tinha medo, e sempre tive o desafio de quebrar esse medo”, ressalta.

“Sempre tive medo de decepcionar, de travar, de me machucar ou machucar um colega. Mas quando me chamavam para lutar e fechavam a porta do vestiário, eu crescia. Quando iniciava a luta, eu olhava para meu adversário e pensava: ‘agora ele tá f…’. O Mike Tyson chorava no vestiário e crescia no caminho para o ringue”, acrescenta.

Em 2002, intensificou seus treinamentos e, no ano seguinte, começou a competir no Muay Thai. Logo no primeiro campeonato, a nível estadual, já subiu no lugar mais alto do pódio. Em 2013, foi para a Tailândia disputar o Mundial e voltou com a quarta colocação. Foi o primeiro montenegrino a lutar no torneio. Atual presidente da Federação Gaúcha de Muay Thai Esportivo (FGMTE), Eduardo Viríssimo é um dos responsáveis pelo sucesso de Gustavo Kuhn na modalidade.

“Ele (Eduardo) foi meu divisor de águas no Muay Thai. Ele que me treinou e me apresentou o Fabiano Boxer, que é seu professor. Não somos ninguém sozinhos”, enaltece o montenegrino, que foi bicampeão gaúcho, campeão da Copa do Brasil, campeão brasileiro e tricampeão sul-americano na modalidade.

Devido à carreira no esporte, o montenegrino afirma que conhece mais os Estados Unidos do que o Brasil

Persistência levou Gustavo ao título mundial de Jiu Jitsu
Em 31 de maio de 2005, Gustavo rumou para mais um desafio em sua carreira. Neste dia, fez sua primeira aula de Jiu Jitsu e, assim como sua primeira experiência no Muay Thai, não gostou. “Minha especialidade a vida inteira foi a trocação. Não gostava do Jiu Jitsu, não gostava da história de se agarrar com outro homem no chão (risos). Não curti a primeira aula, mas nunca pensei em desistir, porque aquilo me desafiava. Em 2006, o Luciano Pinto (professor da JA Jiu Jitsu) me ensinou a gostar do Jiu”, conta.

Competitivo desde criança, Gustavo não queria apenas treinar. Ele precisava lutar, disputar campeonatos. Logo que se adaptou ao Jiu Jitsu, começou a competir e a vencer. Ainda em 2006, foi campeão gaúcho da modalidade. Dois anos depois, sagrou-se campeão do Ranking do Estado na faixa azul pelo seu desempenho na temporada. Em 2016, o lutador, faixa marrom na época, foi campeão mundial de Jiu Jitsu na categoria Máster, no Peso Pesado e também no Absoluto.

Durante uma de suas idas para os EUA, Gustavo conheceu Dana White, presidente do UFC

Atleta nunca perdeu uma luta de MMA
Sete combates e sete vitórias. Esse é o currículo de Gustavo Kuhn no MMA (artes marciais mistas). Das sete lutas que fez na modalidade, o montenegrino venceu quatro por nocaute e três por finalização. Avassalador, não deu chances para nenhum oponente. Sua migração para o MMA aconteceu em 2008 e ocorreu de forma natural, já que era um dos grandes nomes do Brasil no Muay Thai e também se destacava no Jiu Jitsu.

Gustavo vivenciou experiências incríveis no MMA. Além do cartel impecável na modalidade, treinou ao lado do gaúcho Fabrício Werdum, ex-campeão do peso-pesado do UFC. “Quem nos treinava na Academia Kings era o mestre Rafael Cordeiro, eleito por cinco anos como o melhor treinador de MMA do mundo. Além do Werdum, treinei com o Rafael dos Anjos também”, relembra. Isso ocorreu em 2012, quando o montenegrino foi morar na Califórnia-EUA.
Um dos responsáveis pelos ótimos números de Gustavo nesta modalidade é o consagrado treinador Fabiano Boxer. “Assim como o Eduardo Viríssimo foi meu divisor de águas no Muay Thai, o Boxer foi no MMA. Também aprendi muito com o mestre de MMA, Marco Alvan, que é o líder da Team Link nos EUA”, destaca.

Em 13 de abril de 2013, participou de uma edição do UFC, o TUF 17 Finale, em Las Vegas. Gustavo foi o responsável por ser o treinador de Muay Thai do brasileiro Gabriel Napão, peso pesado.

Sua última luta de MMA foi disputada em 2014, no evento Premier Fight, nos Estados Unidos.

Na Europa, atleta visitou a Torre Eiffel, na França

Carreira internacional e auge aos 35 anos
O sucesso nas artes marciais permitiu Gustavo Kuhn conhecer vários países. Ele já pisou em quatro continentes. Além dos Estados Unidos, onde sonha morar definitivamente no futuro, o lutador de Montenegro já esteve no México, na França, na Grécia, na Espanha, na Turquia, na Tailândia e na África do Sul. “Só falta a Oceania. Os Estados Unidos eu conheço mais que o Brasil. Amo as pessoas daqui, me criei aqui. Nunca ganhei um real dos poderes públicos, meu maior incentivo é o carinho das pessoas de Montenegro”, declara.

Aos 39 anos, ele planeja realizar uma luta de despedida no MMA em 2020, em Bento Gonçalves. Foto: Duda Souza Fotografia

Após idas e vindas nos EUA, recebeu proposta para ministrar aulas e seminários de Jiu Jitsu e Muay Thai na Europa, em 2016. Passou dois meses no Velho Mundo, entre França (Bretânia), Grécia (Atenas) e Espanha (País Basco). “Foi uma experiência incrível”, resume.

O desgaste das viagens era compensado com talento e dedicação nas lutas. E por isso Gustavo acredita que tenha vivido seu melhor momento nas artes marciais aos 35 anos de idade. “Meu ápice foi com 35. Nessa idade, além de forte, tinha a experiência. Meu fisiologista falou que eu poderia lutar em alto nível até os 40 anos, mas eu cansei, enjoei da função. Isso porque sempre me cuidei, nunca bebi, nunca usei drogas”, enaltece.

Atualmente, em “marcha mais lenta”, Gustavo tem treinado Muay Thai e Jiu Jitsu, e ainda pratica MMA de vez em quando. “Meu corpo tá cobrando o preço. Fiz minha primeira luta com 11 anos de idade. Sinto dores nas costas. Não sou mais que ninguém, mas ninguém é mais do que eu também”, afirma.

Atualmente, Gustavo tem dedicado boa parte do seu tempo aos seus alunos e à sua equipe, a Nitro Team, além de treinar para manter a forma física

Aposentadoria está próximaCom cinturões de Muay Thai, Jiu Jitsu e MMA em casa, o vitorioso atleta não deve realizar mais nenhuma luta no Muay Thai. Em contrapartida, não cogita, no momento, parar de competir no Jiu Jitsu. Porém, no MMA, já ensaia sua aposentadoria. Só não a oficializou porque talvez faça uma luta da modalidade em 2020. Gustavo planeja encerrar sua trajetória no MMA no evento Mega Fight, em Bento Gonçalves.

Enquanto isso, treina para manter a forma física e tem dedicado boa parte do tempo aos seus alunos. Fundador e líder da Equipe Nitro Team, que conta com 15 filiais no Estado e duas no exterior (EUA e Grécia), Gustavo demonstra orgulho ao falar dos atletas treinados por ele. “Estou colhendo os frutos de 30 anos de carreira. Tenho a ideia futura, para o ano que vem, de levar três ou quatro professores da Nitro para a Tailândia, para fazer capacitação lá”, projeta.

Outra especialidade do montenegrino é o seminário de defesa pessoal feminina, que ministra na cidade e em outros municípios todos os anos. Além disso, ele participou do filme “Mais Forte que o Mundo”, que conta a história do lutador brasileiro José Aldo. Fora dos tatames e ringues, Gustavo foi o único gaúcho a chegar às seletivas finais do Big Brother Brasil em 2018, mas acabou não conseguindo uma vaga na casa. “Apesar de nunca ter gostado e nem ter assistido, eu tinha o desejo de participar. Falei isso para eles, com sinceridade mesmo. Hoje não tenho mais”, revela.

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