Gratidão e emoção: pequeno Juan agradece pela vacinação da avó

Profissionais da saúde foram surpreendidos pelo menino durante a vacinação

No último fim de semana, uma boa ação viralizou nas redes sociais. O pequeno responsável por isso é o montenegrino Juan Vieira Hister, de apenas 10 anos. A imagem que emocionou a internet é auto-explicativa: o menino segurava um cartaz durante a vacinação contra a Covid-19, no Parque Centenário, agradecendo aos profissionais de saúde pela vacina dada à avó, Maria Simões Vieira, de 66 anos. Mas a história não inicia aí. O menino conta que antes do começo da pandemia, o convívio com a avó era frequente. Barrados pela Covid-19, o abraço, carinho todos os momentos juntos têm deixado saudades.

“Depois da escola eu ia almoçar na minha vó, minha mãe me buscava, mas a gente voltava dormir lá. Eu dormia abraçado nela, eu sinto muita saudade de dormir com ela, brincar, fazer comida com ela. Todo dia eu voltava da escola e ela me esperava com a comidinha pronta. Minha vó é muito carinhosa, eu olhava Chaves grudado nela ganhando massagem nas costas”, relembra. “Mas isso tudo era antes da pandemia, agora eu não posso mais ter contato com ela como eu tinha antes”, enfatiza.

O distanciamento é levado à risca pela família, onde o maior contato, mesmo depois de a avó ter ganhado a primeira dose da vacina, ainda é o visual, por trás das grades do portão. “Minha mãe só vai na vó pra entregar as coisas da farmácia que ela não pode sair pra comprar. E do mercado. Eu só vejo ela no portão, de máscara”, explica. O medo tem razão e Juan lembra muito bem o motivo: a perda da tia para a doença. “Eu perguntava pra mãe quando eu poderia dormir com a vó de novo, aí a mãe falou que só depois da segunda dose da vacina. Minha mãe tem muito medo, porque minha tia, que era irmã da minha vó, depois que ela pegou Covid só durou uma semana, depois ela morreu”, relembra.

E foi depois de saber que a avó se vacinaria no último fim de semana, Juan teve a ideia que emocionou e inspirou muitas pessoas. A confecção do cartaz como um agradecimento aos profissionais de saúde pela vacinação de dona Maria. “Quando chegou perto da vacina da minha vó eu pedi pra mãe se eu podia ir junto. Daí eu tive a ideia de fazer o cartaz pra agradecer os profissionais da saúde”, conta. Mas nada foi fácil. “Eu não podia ficar no mesmo carro que ela. Daí eu coloquei duas máscaras, por isso a mãe deixou. Eu sabia que eu não podia tirar as máscaras pra dizer obrigado, eles não iam me ouvir, daí eu pensei no cartaz que a mãe me ajudou a fazer”, afirma.

Mas Juan sabe que a segunda dose é de extrema importância e manda dois recados para a avó: primeiro, nada de esquecer a segunda dose. E por último e não menos importante, já adianta: os abraços, maratona de Chaves, massagens nas costas e guloseimas na cozinha não vão ter pausa. “Ela não vai esquecer, eu não vou deixar e minha mãe vai levar ela de novo, porque a gente tava esperando muito pela vacina. Depois que tudo isso passar a primeira coisa que eu vou fazer é me abraçar nela e ela não vai poder se desgrudar mais de mim. Ela vai ter que fazer comida comigo grudado nela”, finaliza o menino, animado.

A mãe do pequeno afirma que não esperava toda a repercussão, mas foi por uma boa causa. “Não esperávamos, mas que bom que esse gesto dele serviu pra inspirar muita gente, pra emocionar as pessoas, conscientizar. Temos que ter esse cuidado agora pra preservar nossos pais e avós pra depois ter contato com eles. E também principalmente agradecer ao pessoal da saúde que está na linha de frente se arriscando por muita gente, por todo mundo”, afirma.

Profissionais da saúde: A emoção com a iniciativa
A secretária da Saúde, Cristina Reinheimer, conta que a equipe de saúde presente no dia da vacinação, o último sábado, 3, se emocionou com o cartaz. “O gesto de carinho, preocupação e dedicação que a gente recebeu da população de Montenegro no sábado foi muito emocionante”, afirma. Para ela, quando o menino tão pequeno chegou com um cartaz na mão fazendo um agradecimento pela vacina da avó dele, a emoção foi ainda maior. O cartaz está exposto em um lugar de justa importância. “Isso nos deixou muito emocionados como equipe. Agora ele está exposto na Secretaria de Saúde, próximo ao cartão ponto, onde todos os funcionários podem visualizar” salienta. Os elogios a Juan não são poucos.

“Ele está aprendendo a valorizar os profissionais da saúde desde criança e isso é de extrema importância. A preocupação dele com a vó é maior do que consigo mesmo, o que o torna muito especial. É uma criança que está sendo criada pensando no outro, não só em si, o que é um ato de maior benevolência que se pode ter”, finaliza.

Saudade e esperança
Segundo Maria, o sentimento de estar longe é muita tristeza e até sacrifício. “Foi chegando o ponto que eu não tava entendendo como que eu podia ficar longe da minha família. Eu tava acostumada com todo mundo ao meu redor. Eu estou sozinha por causa da necessidade, mas sinto muita falta. É muito triste, um sacrifício grande, mas todo mundo acha melhor eu me isolar”, relata. A avó se comunica com a família através de chamadas telefônicas e reitera que pelo portão, às vezes, também se vêem.

Juan e a avó, Maria Simões Vieira, de 66 anos, eram muito próximos antes da pandemia. Foto: arquivo pessoal

A falta de Juan é frequente, mas, mesmo com saudade, Maria afirma que o sentimento que prevalece é o de orgulho pela atitude do pequeno. “O Juan gosta da minha comidinha. Ele é um guri de ouro. Ele, meus outros netos e filhos são toda riqueza que eu tenho na minha vida. Fazia dias que o Juan dizia que queria ir junto me vacinar, se fosse preciso colocava até três máscaras. Ele não via hora porque estava fazendo uma surpresa. Eu fiquei muito orgulhosa dele pelo reconhecimento aos profissionais. Ele é muito inteligente, educado, bondoso”, comenta.

Para ela, a segunda dose da vacina será crucial para reaproximação da família e o sentimento é de muita esperança. “Eu tô em uma ansiedade de tomar a segunda dose mesmo tendo consciência que eu tenho que continuar me cuidando. Mas assim vai ficar mais fácil. Eu sou uma pessoa de muita fé, tenho esperança de que tudo isso vai acabar”.

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