Tempo ruim. Chuva normal somente em maio, e a Citricultura já sente efeitos
A espera do gaúcho por chuva seguirá por todo o mês de março. A previsão do Instituto de Meteorologia Climatempo é de precipitações constantes e suaves – ficando na média das ‘normais climatológicas’ dos últimos 30 anos – somente em maio. Mesmo o início do Outono, em 20 de março, será de tempo seco. O Instituto considera que este cenário de falta de chuva deste Verão é um dos mais rigorosos na média desde 1990.
O meteorologista Felipe Pungirum explica que o sistema climático brasileiro tem dois fluxos de umidade que correm da floresta Amazônica para as regiões Sul e Sudeste. Uma em cada direção e sempre uma mais intensa do que a outra, em algo que ilustrou como “gangorra natural”. Todavia, neste período entre o fim de 2019 e início de 2020, é observada uma desigualdade fora do normal, com alto índice pluviométrico no Sudeste.
Este desequilíbrio também é o maior da média histórica de 30 anos. O que a região Sul tem recebido é apenas o avanço de frentes frias vindas da Argentina que, ao passarem, provocam temporais e depois dão lugar ao tempo firme e ao calor. “Nosso prognóstico é disto mudar entre abril e maio”, confirma. Porém abril ainda terá chuva abaixo da média, ainda que marque o início da ‘curva de inflexão’ pluvial. Apenas no quinto mês do ano o índice deverá se normalizar.
Pungirum não relacionou as questões ambientais, como desmatamento na Amazônia e a vedação das cidades com asfalto e concreto, com as alterações no ciclo de chuvas. “Não se pode olhar um ano isolado para analisar mudanças climáticas. É preciso olhar os últimos 30 anos (média do período)”, explicou.
Neste ano, segundo o meteorologista, o fenômeno observado é o excessivo resfriamento da superfície do oceano, que é um dos reguladores atmosféricos por meio de correntes de ar em movimento. A configuração atual tem concentrado a chuva no Sudeste, especialmente em São Paulo.
Primeiros sinais dão certeza de que a citricultura será afetada
O Escritório da Emater em Montenegro ainda não pode mensurar os efeitos da estiagem na safra de citros deste ano. Entretanto, as folhas murchas nos pés de bergamota são indicativo de que as frutas também estão com desenvolvimento retardado. O extencionista rural Valmir Michels aponta que a quantidade no pé não deve reduzir. O que acontecerá é uma queda na qualidade, com frutas menores, derrubando a projeção em toneladas colhidas.
A extensionista rural agropecuária Luísa Leupolt Campos completa que a fruta menor possivelmente terá menos suco. Estes aspectos reduzirão muito a inserção no mercado. “É notório que o estresse hídrico está judiando as plantas”, declarou Michels. Ao menos não há queda de frutas ao solo, tampouco morte de mudas.
Isto ainda é herança do período mais severo da estiagem, em dezembro. Na verdade, janeiro foi marcado por cinco dias de chuvas e em períodos espaçados, evitando que o solo ficasse saturado. O mês registrou 140 milímetros (mm) de chuva, dentro das médias climatológicas dos últimos 30 anos. Em janeiro do ano passado, choveu 133 mm. “Só que ele não veio com este estresse hídrico de dezembro (de 2018)”, explica Michels.
Chuva chegou tarde para alguns
Mas a reação do clima no começo de 2020 não adiantou mais para outras culturas. A melancia registrou perda aproximada de 50% da projeção de colheita, especialmente aquelas tiradas do fim de 2019. Ao menos o agricultor Francisco da Motta, no Sobrado, pode comemorar o fato de não ter arcado com prejuízo, ainda que tenha colhido abaixo do esperado. Ele explica que uma planta produz duas frutas, sendo que nesta safra seus 2 mil pés entregaram uma melancia de padrão médio cada. “Se tivesse chovido normal, daí tinha produzido bem”, avalia.
O feijão teve perda de 40 a 50% no primeiro cultivo dos 40 hectares em Montenegro. O milho teve perda de 55% da produção do grão e 40% daquele destinado a silagem (comida ao gado), em 900.000 hectares cultivados. Isso refletiu ainda na produção leiteira dos 34 produtores comerciais em Montenegro, que tiveram quase 40% de redução.
O Número
Ainda sem considerar o Citros, em seu último, relatório divulgado na quinta-feira, dia 20 de fevereiro, a Emater-RS apontou que não região da Regional Lajeado – que inclui o Vale do Caí – a fruticultura teve perda entre 10 e 35%. Enquanto o milho silagem teve perda de 32%. No relatório, a fruticultura considera pêssego, uva, morango e melancia