Gaúchos procuram cada vez mais por alimentos orgânicos

No último ano, cerca de 40% dos gaúchos mudaram seus hábitos de consumo de alimentos buscando incluir os orgânicos nas suas compras. O dado é um dos resultados do projeto Barômetro dos Orgânicos, coordenado pelos professores Marlon Dalmoro, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis da Univates, e Wagner Junior Ladeira, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), que mapeou o perfil de consumo e a percepção dos consumidores gaúchos sobre os alimentos orgânicos com base na participação de 2.732 consumidores de 80 municípios do RS.

Na mesma pesquisa, mais de 75% dos respondentes se consideram consumidores frequentes de alimentos orgânicos. O que chama a atenção dos pesquisadores não é só que os consumidores estejam buscando cada vez mais esse tipo de alimento, considerado mais saudável que os convencionais, mas também o fato de seu consumo estar disseminado entre a população do Estado. “O alimento orgânico se diferencia dos convencionais principalmente por não utilizar agrotóxicos ou fertilizantes sintéticos no seu cultivo, assim como o seu método de produção levar em conta aspectos de sustentabilidade e preocupação socioambiental”, afirma Dalmoro.

Vegetais, hortaliças e frutas ainda são os produtos orgânicos mais consumidos pelos participantes da pesquisa. “Chama a atenção ainda a pouca participação de produtos industrializados a partir de insumos oriundos da agricultura orgânica. Contudo, a explicação encontrada pelos pesquisadores é que o setor de hortifrúti é aquele que possui mercado mais desenvolvido, com número maior de fornecedores, canais de distribuição consolidados, como, por exemplo, as feiras livres de agricultura orgânica que ocorrem em várias cidades”, analisa Dalmoro. Dessa forma, por serem mais acessíveis aos consumidores, os hortifrútis estão mais presentes na mente dos consumidores e nos seus hábitos de consumo.

Relacionada a isso, a disponibilidade de produtos acaba por ser um aspecto relevante para o consumo de orgânicos. Enquanto metade dos consumidores considera que a oferta de alimentos orgânicos é escassa, a outra metade a considera suficiente. “Isso aponta que a melhoria dos canais de distribuição ainda é um desafio para ampliação do mercado de alimentos orgânicos”, observam os pesquisadores. Os supermercados e as feiras de produtores são apontados como os principais locais onde são encontrados alimentos orgânicos. Contudo, lojas especializadas e aquisição diretamente na propriedade rural também chamam a atenção dos pesquisadores. Segundo eles, conforme os consumidores buscam uma alimentação mais saudável, descobrem locais que comercializam alimentos orgânicos, estando inclusive dispostos a ir a lugares alternativos para adquiri-los. “Destacamos a existência de propriedades rurais que oferecem a possibilidade de o consumidor colher os próprios produtos, aliando a oferta de alimento orgânico com uma opção de lazer para os consumidores”, afirmam Dalmoro e Ladeira.

A associação dos alimentos orgânicos como saudáveis e naturais também aparece quando os consumidores foram questionados acerca das características identificadas nesses alimentos. Os orgânicos também são vistos como alimentos livres de agrotóxicos, transgenia, aditivos e pesticidas químicos, assim como são produzidos respeitando o meio ambiente. “Esses resultados são importantes para demonstrar que os consumidores entrevistados possuem conhecimento sobre o que consiste esse tipo de alimento”, diz Dalmoro, acrescentando que, segundo estudos realizados no passado, os orgânicos eram confundidos com alimentos integrais ou hidropônicos. “Contudo, os resultados deste estudo indicam que à medida que os consumidores tiveram mais informação e acesso aos alimentos orgânicos, passaram a ter mais clareza sobre o que eles são”, finaliza.

A aquisição de orgânicos é estimulada pela percepção de eles serem mais saudáveis, visto que quase 70% dos respondentes afirmam buscar esse tipo de produto por questão de saúde. O desejo de consumir um alimento sem pesticidas e conservantes químicos também se destaca. “Estes resultados refletem um reconhecimento de riscos à saúde no consumo de alimentos convencionais, produzidos com a utilização de agrotóxicos. Tanto que mais da metade dos pesquisados destacam que o principal objetivo de consumir orgânicos é evitar o risco de doenças associadas ao consumo de agrotóxico”, pontuam os pesquisadores.

O projeto Barômetro dos Orgânicos identificou ainda que os consumidores buscam os alimentos orgânicos como resposta ao desejo individual de melhoria da qualidade de vida e longevidade sua ou de seus familiares (especialmente filhos). “Verificamos que na medida em que as pessoas se tornam mais conscientes do papel da alimentação na busca por uma vida mais saudável, elas visualizam nos alimentos orgânicos uma alternativa interessante e cada vez mais acessível, explicando o crescimento constante do seu consumo”.

Além dos coordenadores, o estudo contou com a colaboração de pesquisadores de diferentes instituições de ensino do Estado, sendo elas: Univates, Unisinos, Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade de Cruz Alta (Unicruz) e Faculdade Anglicana de Tapejara, e contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

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