Gambás são preparados para retornarem à natureza

Montenegrina cuidou de 12 “bebês” órfãos, que agora serão levados à clínica Toca dos Bichos, em Porto Alegre

PRESERVAÇÃO: Jaina salienta que não há motivos para matar gambás. Foto: Arquivo pessoal/ Jaina Couto Scotto

Você já se imaginou cuidando de gambás? A montenegrina Jaina Couto Scotto está garantindo lar temporário a 12 filhotes que ficaram órfãos. Agora que estão mais crescidinhos e já se alimentam sozinhos, eles serão levados a uma clínica, em Porto Alegre, que recebe animais silvestres para serem preparados para retornarem à natureza.

Jaina conta que eles foram resgatados há cerca de uma semana e salienta a colaboração de Janaina Oliveira e Carla Castro, que buscaram os filhotes no bairro Santo Antônio, onde foram encontrados. “Eu não tinha como ir buscar, se ficassem no sol, morreriam”, recorda Jaina. “São amigas da causa animal e se deslocaram imediatamente, atendendo a meu pedido de socorro, e buscaram os bebês para mim. Senão, talvez nem estivessem todos vivos”, afirma. Jaina observa que os filhotes evoluíram muito em uma semana. “Comem sozinho e fazem as necessidades sozinhos”, resume. Ela trabalha no setor de recebimento fiscal de uma indústria, mas é voluntária na defesa de animais e conta com a colaboração de amigos que ajudam com alimentação e medicamentos, quando necessário.

Esta não é a primeira vez que Jaina garante a sobrevivência de filhotes de gambás. Interessada pelo assunto, ela pesquisou sobre esses animais junto a um grupo de americanos, com quem se comunica através da rede social Facebook. “Então passei a cuidar de bebês órfãos aqui da cidade, pois muitas mães são mortas atropeladas ou assassinadas mesmo”, acrescenta. Em outras ocasiões, ela mesma fez a reinserção dos gambás no seu habitat, mas, desta vez, por serem muitos, precisaria de tempo e espaço para treiná-los para que sobrevivam na natureza. Por isso, os cuidados terão continuidade na Toca dos Bichos, uma clínica e pet shop, em Porto Alegre.

“É uma instituição fora do normal, recebem animais silvestres de várias cidades, tratam e reabilitam para que possam voltar para a natureza”, afirma. Segundo Jaina, não há cobrança por esse atendimento. Para auxiliar a clínica, ela está realizando uma campanha de doações de alimentos, como leite sem lactose, frutas, legumes, carne moída e ovos. “É doação espontânea, ou seja, não obrigatória, para deixar os bebês lá. Mas instituições como esta é muito válido ajudar”, complementa.

Na avaliação de Jaina, há muita desinformação sobre esses animais. Ela afirma que eles não têm mau cheiro, o pelo é macio e, nos EUA, muitas pessoas criam gambás como pets.

Como ajudar
Doações de alimentos como leite sem lactose, frutas, legumes, carne moída, e ovos para serem entregues à Toca dos Bichos.
Jaina levará os gambás nesta quarta-feira, portanto, as doações devem ser entregues ainda nesta terça-feira a ela, através de contato pela rede social Facebook.

Quem preferir doar outro dia deverá entregar diretamente à clínica Toca dos Bichos, em Porto Alegre, rua José Inácio da Silva, 404, bairro Higienópolis, fone (51) 3341.7664.

Saiba mais
Conforme Jaina Couto Scotto, os gambás se alimentam de frutas, verduras, ovos e insetos. Podem comer ração de gato quando filhotes e, de cachorro, na fase adulta. Eles têm intolerância à lactose, mas podem tomar leite sem essa substância. Para os filhotes, ela deu leite sem lactose com uma gema de ovo e um pouco de mel.

Assim como outros animais da fauna nativa, silvestres ou em rota migratória, o gambá é protegido pela Lei de Crimes Ambientais, 9605/98. Em seu artigo 29, é proibido matar, perseguir, caçar, apanhar ou utilizar de qualquer outra forma esses animais sem licença ou autorização da autoridade competente no município.

Animais voltam ao seu habitat em grupos

Foto: Arquivo Pessoal

Veterinária na clínica Toca dos Bichos, em Porto Alegre, Sílvia Battastini, salienta que os gambás não são vetores de doenças, nem perigosos às pessoas. “Quando não provocados, não representam nenhum tipo de perigo e não devem ser mortos nem machucados”, frisa. Ela destaca que são mamíferos silvestres representantes da fauna gaúcha e devem ser respeitados como todos os seres vivos. A clínica recebe cerca de 1.500 animais silvestres por ano, dos quais cerca de 300 a 350 gambás, a maioria filhotes órfãos. Confira a entrevista.

Como é feita a reinserção desses animais na natureza?
Sílvia Battastini – Estes animais são reintroduzidos em pequenos grupos, quando atingem um peso determinado e já são capazes de se alimentar por conta própria. Devem também ser capazes de se defender sozinhos, para tanto não podem se tornar dóceis. São preferencialmente reintroduzidos nas regiões onde foram encontrados, na natureza.

São muitos os animais silvestres que chegam à Toca dos Bichos?
Em média, recebemos 1.500 animais ao ano. Destes cerca de 300 a 350 são gambás, a maioria filhotes, órfãos cujas mães foram vítimas de acidentes ou violência humana.

O que uma pessoa deve fazer ao encontrar gambás fora de seu habitat natural?
Primeiramente, não mexer no animal, às vezes ele não está correndo perigo e nem fora de seu habitat, mas por desconhecimento e também por quererem ajudar, as pessoas podem acabar prejudicando um animal que estava bem. Entrar em contato com a clínica Toca dos Bichos, ou a Patrulha Ambiental da sua cidade e aguardar orientação. Se for realmente necessário, será informada como proceder para recolher o animal e encaminhar à clínica para tratamento e reabilitação.

Ao se falar em gambás, normalmente as pessoas associam a mau cheiro. Isso é mito, ou de fato esses animais exalam mau cheiro?
Esta espécie, como outras, tem um odor natural acentuado e, quando em perigo, pode sim soltar as secreções de glândulas que tem um cheiro muito forte e desagradável. Essas secreções não são perigosas e tampouco os gambás representam perigo às pessoas, não sendo animais que atacam, exceto sob ameaça de vida extrema.

Qual o papel dos gambás no meio ambiente?
Os gambás são pequenos onívoros importantíssimos à cadeia alimentar. Dispersam sementes de frutas através das fezes, contribuindo para a regeneração da flora, e também consomem pequenos animais, como larvas e insetos, sendo importantes nos controles populacionais.

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