Município não determinou fechar nenhuma empresa com atividade industrial, mas há preocupação com os cuidados
Há uma semana, Montenegro iniciava seu primeiro dia após o decreto de situação de emergência que fechou comércio e prestadoras de serviço da cidade. Evitando aglomerações e contendo a circulação de pessoas, a medida foi focada na contenção da curva de contaminação pelo novo coronavírus. Foram mantidos somente aqueles considerados essenciais – mercados, farmácias e alguns serviços – e também manteve as indústrias, em geral.
Houve grande repercussão, entre quem parou e quem continuou. Nesta semana, a reportagem vem recebendo mensagens de leitores preocupados, especialmente, com os segmentos que seguem trabalhando; e que tem funcionários em plena atividade. Em linhas gerais, são eles os que precisam continuar para manter a sobrevivência de todos.
Mas como eles estão se cuidando?
DECRETO ESPECÍFICO
Logo que saiu o regramento da quinta-feira passada, havia expectativa com a forma com que as indústrias seriam tratadas, já que não eram citadas de nenhuma forma no primeiro dispositivo legal. A Prefeitura respondeu com um segundo decreto, específico, lançado no fim da tarde de sexta-feira. Não foi mandando fechar nenhuma, independentemente do segmento, mas oficializando alguns cuidados.
Dita o prefeito que as plantas industriais precisam limpar superfícies com álcool liquido 70%; disponibilizar álcool gel aos funcionários; higienizar pisos, paredes, forros e banheiro a cada três horas; manter janelas abertas e/ou ar condicionado devidamente limpo.
Quando possível, os colaboradores devem trabalhar de casa, sem prejuízo de remuneração; funcionários da área produtiva têm que trabalhar em escalas, para garantir a distância mínima prevista nos protocolos de prevenção; as reuniões precisam ocorrer, na medida do possível, sem presença física; e viagens para fora de Montenegro e visitas às empresas precisaram ser suspensas.
Continua. Colaboradores sintomáticos precisam ser afastados por quatorze dias. Transportadores que entrarem com mercadoria devem receber máscara e higienização; e é obrigatória a colocação das pessoas do grupo de risco à contaminação pela Covid-19 no regime de teletrabalho. O decreto ainda demanda medidas de limpeza nos refeitórios; tudo sob pena de multa, interdição e cassação de alvará. É lei.
“Estão sendo acompanhadas de perto”
A preocupação segue. Na terça-feira, após o decreto, a reportagem recebeu denúncia da esposa de um funcionário da JBS Aves, que questionou as medidas que vêm sendo tomadas; dizendo haver, inclusive, aglomerações na hora do registro de ponto. Ela também denunciou a situação para o canal de denúncias recém aberto pela Prefeitura.
“As indústrias, em geral, estão sendo acompanhadas de perto”, garante a secretária municipal de Indústria e Comércio, Cristiane Gehrke. Ela conta que empresários do segmento foram chamados para serem sensibilizados da situação e que, na maioria, os cuidados já vinham sendo tomados antes do decreto municipal.
“Mas toda e qualquer denúncia que chega está sendo verificada. Sempre que necessário, a própria Vigilância Sanitária vai até o local para fazer a inspeção do que está sendo denunciado.”
A JBS não aceitou falar sobre a unidade de Montenegro, em específico, enviando nota institucional sobre os procedimentos que vem adotando para garantir a segurança de seus colaboradores, fornecedores e clientes.
O texto fala em reforço das recomendações de higienização e distanciamento; no afastamento dos colaboradores que se encaixam no grupo de risco; na proibição de viagens internacionais e redução de viagens domésticas; na ampliação da frota de ônibus que transporta a equipe; e até em “quarentena de 14 dias a todos que retornem de países-foco da doença”. O próprio Brasil já tem mais de 2.500 casos da Covid-19.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Montenegro, Celestino Netto, o frigorífico está protegendo seus funcionários. “Tem pessoal do sindicato que trabalha na JBS e eles estão atentos a isso. Eles estão fazendo o melhor possível”, declara. “Eles já trabalham com máscara, têm proteção, ficam distanciados.”
Denúncias pelo não cumprimento do decreto podem ser feitas para os números 153, (51) 996.702.289 ou (51) 3632-1391.
Executivo não descarta parar algumas atividades industriais
O procurador-geral do Município, Alan Jesse de Freitas, conta que a Prefeitura estuda, com cautela, conter a circulação de pessoas também com a interrupção de algumas plantas industriais. Seriam aquelas que não se enquadrariam como essenciais no momento.
“Mas a gente tem que ter muito cuidado nisso”, salienta. “Nós temos, por exemplo, a Erplasti e a Polo Films que, aparentemente, não têm nada a ver com a alimentação, mas que fabricam as embalagens dos alimentos. Então temos toda uma rede. Estamos tratando de estudar o assunto.”
Mesmo sem a regra, algumas indústrias já optaram por paralisar suas operações por tempo indeterminado. É o caso da John Deere, que anunciou que, a partir desta segunda-feira, 30, vai parar a fábrica de tratores no Distrito Industrial. Reduz, assim, em cerca de 900 pessoas, o fluxo de pessoal que circula no complexo do Polo Petroquímico. A empresa está fazendo o mesmo em Canoas, Porto Alegre e nos estados de São Paulo e Goiás. Esse período, aos funcionários, será creditado em banco de horas.
No Polo, petroquímicas ajustam pessoal
No Polo Petroquímico de Triunfo – o complexo engloba também o Distrito Industrial de Montenegro – circulam cerca de 8 mil pessoas durante a operação normal. Na estimativa do Comitê de Fomento Industrial do Polo (Cofip), hoje o número não chega aos 4 mil.
É resultado das medidas de prevenção, que mandaram funcionários para o regime remoto e deixaram apenas os necessários para o funcionamento das plantas. Quem não se enquadra na categoria e não tem funções com possibilidade de home office também fica em casa, “à disposição”.
“A petroquímica, toda, está operando com número super reduzido, mas seguro. Vamos continuar nesse pé enquanto a gente conseguir”, diz o diretor administrativo do Cofip, Sidnei Alves dos Anjos.
Ele avalia que, assim como a John Deere, a Arauco e a Hexion podem vir a anunciar alguma interrupção de atividades, pois são indústrias do complexo ligadas ao setor moveleiro, que deve vir a colocar o “pé no freio”; como fez o setor de tratores. “Para as demais, que estão relacionadas com a indústria alimentícia ou farmacêutica, é até uma questão de responsabilidade manter o abastecimento”.
Nesta semana, uma publicação conjunta do Sindipolo e do Sindiconstrupolo criticou a postura das empresas do complexo para a prevenção ao contágio pelo Covid-19.
Em especial, a manifestação focou na grande circulação de trabalhadores das empresas terceirizadas e da falta de medidas mais efetivas.
O diretor administrativo do Cofip reconhece que houve problemas pontuais nos últimos dias, mas garante que a gestão está sendo feita. “O mais importante nessas horas e ser responsivo. É um processo continuo de ajuste de desvios”, avalia.
O Cofip integra, além da John Deere, da Arauco e da Hexion, as empresas Arlanxeo, Braskem, GS Inima, Innova, Oxiteno, Polo Films e White Martins.
O que elas estão fazendo
– Ecocitrus
A Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) suspendeu, já desde o dia 17, as atividades de sua agroindústria, onde são produzidos os sucos. As funções administrativas e comerciais estão sendo realizadas de forma remota; e a plenária com associados, que seria realizada ontem, 26, foi cancelada.
Na usina de compostagem, no Passo da Serra, a empresa montou um plano individualizando de trabalho, estudando o contexto familiar e de saúde de cada colaborador. O serviço de tratamento de resíduos feito no local é considerado essencial e não pode ser suspenso. Dez trabalhadores da unidade, por serem do grupo de risco, foram afastados na última segunda-feira.
– Tanac
Dentre os produtos produzidos que são indispensáveis para a área de alimentos, potabilidade da água e para a indústria do petróleo estão o tanfloc, que é destinado ao tratamento de água e esgoto sanitário, além da produção de combustíveis; e a linha “Feed”, que é direcionada para a alimentação animal.
Precisando operar, a Tanac/Tanagro criou um comitê de prevenção; adiou eventos internos; ampliou protocolos de higienização; instituiu canal de contato com o ambulatório para sanar dúvidas; e está usando home office, revezamento e férias como alternativas para diminuir o fluxo de pessoal de acordo com viabilidade de cada área.
A temperatura do funcionário é medida sempre que ele chega à empresa. São higienizados calçados num sistema de contenção; foram ampliados os horários de almoço para diminuir o número de pessoas no refeitório; e estão sendo entregues máscaras para quem trabalha em equipe.
– Vibra e Agrogen
As empresas criaram comissões que reúnem diariamente para acompanhamento e tomadas de decisões seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Foram ampliadas as rotinas de higienização dos espaços; e não é permitido o compartilhamento de itens. Reuniões estão sendo feitas com quantidade restrita de pessoas ou de forma virtual. Há álcool gel nas salas e áreas comuns e estão canceladas as viagens de todos os funcionários até que se faça o controle da pandemia. Visitas nas unidades estão limitadas ao essencial.
Já foram trazidos técnicos de fora para contribuir na disseminação das informações de cuidado; e também está sendo feita a medição periódica da temperatura corporal dos funcionários. Há limite de pessoas ao mesmo tempo nos refeitórios; troca de escalas para reduzir o número de trabalhadores em um mesmo ambiente; incentivo ao trabalho remoto, quando permitido pela função; e instituído o distanciamento de dois metros entre as pessoas. Integrantes do grupo de risco estão em casa.