Em Montenegro, atendimento está disponível na “tenda Covid” desde o mês passado
A fisioterapia tem papel importante na luta contra o coronavírus. É essencial aos pacientes intubados nas UTI’s e também durante a recuperação motora e respiratória após muito tempo hospitalizados com a doença. E ela também tem se mostrado uma aliada logo no pronto-atendimento, antes da necessidade da internação. Nessa etapa, como auxílio e orientação de práticas para respirar melhor, fazer a higiene brônquica, fortalecer a musculatura respiratória e aumentar a capacidade pulmonar. O serviço foi incluído no atendimento da tenda – hoje ambulatório – Covid da secretaria de Saúde de Montenegro há pouco mais de um mês e, segundo a pasta, já ajudou a impedir que pacientes evoluíssem para quadros respiratórios mais graves e tivessem que internar.
“Como a Covid-19 é uma doença que começa acometendo o pulmão, nós sentimos a necessidade de ter um fisioterapeuta na equipe”, explica a secretária de Saúde, Cristina Reinheimer. “O fisioterapeuta, na área respiratória, é essencial.” Contratada em março, em meio ao pior momento da pandemia, a fisioterapeuta Carmen Silva de Souza atende no período diurno, especialmente aos pacientes nos leitos de observação do ambulatório da secretaria; os que precisam da maior atenção. Não havendo demanda no setor, ela também atua na orientação aos pacientes em geral que chegam para buscar atendimento.
Como funciona
“Alguns dos pacientes apresentam tosse produtiva, que é um catarro que cria no pulmão, e a gente consegue, através de algumas técnicas, fazer a higiene brônquica, que é a retirada desse catarro para fora”, exemplifica a profissional, sobre um dos principais atendimentos. “Com essa limpeza, o paciente consegue expandir melhor o pulmão, então o pulmão abre e o paciente consegue respirar mais, deixando o oxigênio entrar e o gás carbônico sair. Melhora a oxigenação do paciente.”
Para além da limpeza, o trabalho de Carmen no ambulatório também é focado em corrigir alterações respiratórias do paciente através da prática de alguns exercícios. “O vírus ainda é uma coisa muito nova e as pessoas têm medo de pegar ele, terem uma evolução e irem pro tubo. Então, chegam aqui, acabam ficando nervosas e respirando de forma errada; com aquela respiração curta e rápida”, explica a fisioterapeuta.
O trabalho, com este fim, começa num esforço de acalmar o paciente e, então, fazer uma reeducação. É puxar o ar bem fundo pelo nariz e soltar, devagar, pela boca; prática que a pessoa é orientada a seguir fazendo em casa com constantes repetições durante todo o dia até o cérebro ficar condicionado a respirar do jeito certo. “Esse prolongar da retirada de ar do pulmão também vai melhorar as trocas gasosas e a oxigenação. Ele vai expandir o pulmão e trabalhar ele todo, não só a parte superior”, sublinha a especialista.
E tem mais. Carmen também vem aplicando técnicas de exercícios que trabalhem a musculatura respiratória. São, basicamente, alongamentos de músculos do pescoço e também do peitoral – esses com o intuito de aumentar a caixa torácica – em séries de cerca de 30 segundos para cada parte, que também são replicadas em casa. “A Covid-19 é uma somatória no corpo do paciente. Além da oxigenação, do cansaço, acaba fadigando os músculos respiratórios e, para que isso não aconteça, a gente precisa trabalhar esses músculos que são responsáveis pela respiração”, coloca a atendente. “São exercícios simples que, no final, dão um bom resultado.”
A mesma prática, mesmo para quem não se contaminou, pode ser estratégia importante para o cuidado com o corpo e o fortalecimento do pulmão. Mas a orientação de um especialista é sempre indicada.
Dos casos graves à recuperação
Nas equipes multidisciplinares responsáveis pelo cuidado dos pacientes em situações mais graves, internados, o papel do fisioterapeuta é imprescindível. Ele começa pelos cuidados com a administração de oxigênio, passa pela assistência em intervenções envolvendo a intubação e inclui procedimentos para a remoção da secreção brônquica e melhora da função respiratória; o que ajuda a reduzir sequelas. O fisioterapeuta também faz trocas posturais, como a pronação, manobra que consiste em deixar o paciente de barriga para baixo para evitar acúmulo de secreção na base do pulmão e reduzir a sobrecarga cardíaca.
Considerando que pacientes mais recentes com Covid têm desenvolvido complicações que os fazem ficar mais tempo internados do que se verificava nos primeiros casos graves no ano passado, é papel considerável o da fisioterapia durante a recuperação. “O paciente passa muito tempo intubado.
Acontece de quinze dias até um mês, um mês e meio. E dali vem essa falta de mobilidade, essa fraqueza muscular que é praticamente generalizada”, comenta a fisioterapeuta da secretaria de Saúde, que também acumula experiência de atuação em UTI’s. “O paciente, muitas vezes, não consegue permanecer sentado. Então, se começa desde o equilíbrio, de colocar ele de pé e para caminhar. É muito difícil.” Voltar a respirar sozinho, sem o tubo, também é desafio atendido pela área que, nesta etapa, costuma contar com apoio de nutricionista e fonoaudióloga.
Segundo a secretária de Saúde de Montenegro, Cristina Reinheimer, há seis pacientes, atualmente, que são acompanhados no “pós-Covid” por um segundo fisioterapeuta do Município, recebendo atendimento domiciliar. E ela adianta que o profissional será um dos especialistas que vão atuar no “Ambulatório de Reabilitação Pós-Covid-19”, lançado ontem para funcionar junto da secretaria, compondo uma melhor linha de reabilitação para a rede municipal. Na equipe, também estarão médico clínico, neurologista, pneumologista, psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, urologista e cardiologista; e haverá oferta de exames especializados.