Celebrando os 149 anos de Montenegro, a Associação Cultural Beneficente (ACB) Floresta Montenegrina promoveu neste domingo, 15, o Festival de Cultura Afro-Brasileira. O evento trouxe diversas apresentações e discussões sobre a contribuição, história e cultura afro-brasileira na formação da cidade, como de todo o Vale do Caí.
Letícia Santos, presidente da ACB Floresta Montenegrina, destacou a importância do momento para a valorização e preservação da cultura afro-brasileira local. “Não é só a Sociedade Floresta, mas é toda a manifestação, história e cultura africana que precisa ser preservada. A nossa história é importante”, disse. Ainda, conforme Letícia, para contar os 149 anos de Montenegro, é importante referenciar as diversas manifestações representativas ao longo do tempo, como os povos de terreiro, os carnavalescos, e a própria Associação Floresta, único clube social negro. “Nós fizemos questão de reunir todas as manifestações e formas da cultura negra em Montenegro, porque é importante lembrar que nós fazemos parte da cidade”, afirmou Letícia.
Fé, arte e representatividade
E a religiosidade de matiz africana abriu o dia de festa, com a Benção da Prosperidade celebrada pelas Mães de Santo do Templo de Umbanda Sereia 7 Ondas, em honra ao Orixás e pedindo proteção à Sociedade e seus integrantes e convidados. Em seguida foi a vez da Cultura Hip Hop trazer sua mensagem, que já não fica sufocada das periferias da cidade de 149 anos. Henry Adriel Rodrigues Moura, 22, faz parte do grupo de Rap Slam do Montenegro, que se apresentou no festival junto com os colegas do grupo Poetas do Gueto.
Para o jovem, ter espaços para expor a cultura do Hip Hop é fundamental. “É importante a gente poder ter um espaço pra expor esse sentimento, ainda mais sendo um espaço que é feito para que a gente confraternize e festeje como povo, como gueto, como cultura”, avalia. Fazendo rap desde criança, Henry afirma que a poesias abriu muitas portas importantes e o afastaram de coisas ruins. “A gente segue as pessoas mais velhas, que acreditaram no rap, pra que a gente consiga na nossa geração atuar da mesma forma. Também pra aqueles vem depois de nós consigam nos ver como um exemplo positivo”, destaca o jovem.
A manhã cultura encerrou com a qualidade cênica do Renascença Cia. de Teatro. A esquete “Ela, A Criação!” propõem um reflexão sobre a primeira criação de Deus a partir dos barro. O roteiro sugere que a mulher surgiu primeiro, e, neste caso, Ela é uma mulher negra. O diretor da esquete Everton Santos lembra que este prelúdio pode sim ser encontrado na Bíblia. A leitura de Ela, A Criação! traz representatividade ao colocar os Orixás neste papel da “criação” humana, e as mulheres como início da vida. Ela foi representada pela atriz Josi Azeredo, usando da técnica teatro/dança, ao lado dos atores Eneida Müller; Vinicius Hass; Neiva Azeredo; com assessoria de direção de Andreia Lucena.
Retratos da história recente
Depois da deliciosa feijoada do meio-dia, que valeu um “repeteco” entusiasmado, aconteceu o desfile de moda com as mulheres do Coletivo Empreendedoras Negras, projeto social da Floresta. Até a preparação das modelos esteve sob cuidado de micro-empresárias do grupo. O cabelo – com tranças Nagó – foi feito pelo salão Belas Gurias, de Aline Barros; e maquiagem por Maria Rodrigues e Camila Salles. Na passarela moda Afro da estilista Solange Souza; e moda casual de Desapego da Bebél, da empresária Izabel Souza; da empreendedora Luy Rosa – com a coleção Ousadia Todo o Dia; e da Exclusiva Moda Feminina, de Gabriela Ferraz.
Outra forma de expressão que prendeu olhares foram os quadros. Um deles era assinado pela artista Izabel, que não pode estar presente na festa. Os outros de dona Regina Helena dos Santos, mãe da atual presidente da Sociedade, Letícia dos Santos – uma das Mulheres que Brilham 2022. Regina nasceu e viveu grande parte dos seus 70 anos na rua Flores da Cunha, há poucos metros da Sociedade que acabou sendo referência social de toda sua família. “Eu nasci aqui”, afirma, ao salientar que seus pais e irmãos, assim como hoje seus filhos e netos, desempenham alguma atividade na direção da entidade.
E foi aos 60 – e poucos – anos que dona Regina resolveu despertar definitivamente seu amor pela arte, ingressando em um curso da Fundarte. O ensinamentos sobre pintar recebeu da professora Loide Schwambach, criando aquarelas, óleo sobre tela e a técnica que combina recorte de gravura com pintura. Já são mais de 20 quadros criados, todos expostos em casa e sem estarem à venda. Apesar da qualidade revelava, Regina não se considera artista, mas uma curiosa, o que resultam em criações para sua satisfação, e não para lucrar.
Sua origem na deixa que se afaste do tema ‘povo negro, opressão, racismo e luta’. “São minha raízes. Amo minha cor”, declara, com orgulho. Da observação da sociedade em sua volta, das histórias contadas e vividas por sua família – e por ela mesmo – surgem as imagens que ressaltam preconceito, mas também orgulho. Regina é outra que se som à cruzada diária para acabar com a “invisibilidade” das pessoas negras.