Não é de hoje. Com a evolução digital, as videolocadoras estão perdendo seu espaço na preferência do público
Graças à evolução da internet, dos dowloads (legais e ilegais), à multiplicação dos DVDs piratas e a chegada dos serviços de streaming, como a Netflix, as locadoras estão perdendo seu espaço. Fundada em 23 de abril de 1987, por Bruno e Maria Tereza Toebe, a videolocadora Video’s Haus foi a primeira na cidade e, 30 anos depois, está se preparando para encerrar as atividades.
Em três décadas, porém, o sucesso e o crescimento foram tamanhos que já teve filial até no município de São Leopoldo. Hoje nas mãos da empresária Anna Christine Mattana Müller, e do atendente Felipe Finger, a Video’s Haus anuncia seu fechamento, que ocorrerá no dia 1º de setembro.
A Video’s Haus começou no final da década de 80, na época do VHS. A atual proprietária da empresa conta que, antes da Video’s Haus abrir na cidade, ela alugava filmes em Porto Alegre, já que estudava lá. Mesmo assim, a variedade de títulos disponível era bem limitada. Era uma atividade que estava recém começando.
Anna assumiu a empresa no ano de 2000 e admite que foi algo muito interessante para ela. “Foi uma atividade nova para mim, onde tu conversa com as pessoas, tu tens uma troca muito intensa”, conta, lembrando-se dos momentos bons. Ela explica que, quando um cliente vai à videolocadora, ele vai em um momento de lazer, um momento descontraído ou, às vezes, quando está cansado e quer se distrair. “Tu vai estreitando tuas relações com os clientes e vai aprendendo e conhecendo o perfil de cada um”, observa.
O ano de 2002 foi marcado pelo surgimento do DVD no Brasil. Foi um momento de “renascimento” para as locadoras, quando elas ganharam ainda mais força. Reforçando esse sucesso, foi nesse meio tempo que começaram a surgir os “blockbusters”, ou “filmes arrasa-quarteirão”, que começaram a ser feitos de forma mais elaborada, profissionalizando todo o mercado cinematográfico. São os que vemos hoje em dia, nos cinemas e na televisão.
Atenção ao acolhimento e à fidelização dos clientes
“Sempre procuramos fazer com que, na Video’s Haus, o cliente se sentisse acolhido”, declara Anna Christine. Além de oferecer uma saborosa pipoca aos clientes, foi criado um cantinho para as crianças, com mesas, brinquedos e materiais para desenhar. Anna lembra com mais carinho dos momentos de lançamento de filmes infantis: eram sempre muitas crianças, brincando e disputando quem tinha mais títulos para ver.
Além disso, a empresa fidelizava através de promoções e sorteios de refrigerantes, de camisetas, copos, talheres, canecas, filmes e até mesmo de aparelhos de DVD. No Natal, sempre colocava um Papai Noel de brinquedo na porta, que cantava e dançava, para alegria de adultos e crianças.
Perda de espaço foi sentida aos poucos
Há cerca de dez anos, a Video’s Haus, juntamente com as outras videolocadoras do país, começou a sofrer alguns percalços, com a chegada da era digital e da pirataria. A perda da clientela não foi imediata, mas foi sendo sentida aos poucos, a cada ano. Depois, a possibilidade de downloads de filmes na internet e os sites de streaming, como a Netflix, ajudaram a encurtar o tempo de vida dos estabelecimentos que trabalhavam com o serviço.
Para Anna, o mais importante de toda a trajetória da videolocadora é que as pessoas continuem assistindo filmes e valorizando a sétima arte. “A indústria do cinema é uma indústria poderosa, que gera empregos em vários setores e, no momento de crise que vivemos, é muito importante cultivá-la”, afirma a empresária.
A Video’s Haus foi importante para a cultura da cidade. “Acho que no momento em que tu tens um acervo de filmes como tínhamos, trazendo o que tem de melhor no cinema, tu estás colaborando com a cultura da cidade”, diz a proprietária. A videolocadora nunca deixou de se preocupar em ser um ambiente formador e fomentador de cultura: sempre manteve filmes infantis, para fazer com que as crianças começassem a criar um gosto pelo cinema desde pequenas, além dos clássicos. “No momento em que tu vês um filme, tu vives vidas que não são tuas, e isso é muito importante pra formação cultural de uma cidade”, explica. Definindo em poucas palavras o legado da videolocadora, Anna diz que é “cultura e entretenimento como forma de lazer”.
O fechamento ocorre dia 1º de setembro. Até lá, seu acervo de filmes está sendo vendido: DVDs por R$ 5,00 cada e blurays por R$ 10,00. Os lançamentos têm um preço diferente. Antes de fechar, a Video’s Haus agradece especialmente aos clientes, que sempre prestigiaram e fizeram a empresa ser uma referência positiva na Cidade das Artes.