Fé e dedicação: Há 20 anos, ele toca o sino na Costa da Serra

Gerson Müller começou no dia 4 de janeiro de 2001 e desde então não parou

Acordar cedo, tomar um café, fazer as obrigações da casa, pegar a bicicleta azul e ir até a igreja tocar o sino. No final da tarde, o mesmo caminho é percorrido com a fiel companheira para, mais uma vez, badalar o sino e avisar a comunidade: já são 18h. Essa já é uma rotina diária que Gerson Müller realiza há alguns anos. Neste 4 de janeiro, o montenegrino completa 20 anos sendo o sineiro oficial da Comunidade Evangélica de Costa da Serra, no interior de Montenegro.

Aos 64 anos, dedicadamente Gerson sai de sua casa, há poucos quilômetros de distância da igreja e toca o sino às 11h30min e às 18h00min. Quando há culto o trabalho aumenta, sendo necessário ser tocado uma hora antes, meia hora antes e no horário de entrada, e mais uma vez na saída. “Mora sozinho, e todos os dias venho bater o sino. Só quando da temporal com trovoadas que eu não vou, porque é até perigoso”, diz.

Já fiel e participante ativo da Comunidade Evangélica, ele conta que percebia que o sino estava sempre parado, e repentinamente, como um sinal divino, a vontade de tocar o instrumento lhe veio à mente. Através da ajuda de um casal que freqüentava a sua casa, ele começou a pegar a prática da atividade até o momento esperado. “Todo mundo levou um susto quando o sino começou a bater”, brinca.

E caso pareça fácil, na verdade não é. Gerson relata que são vários os tipos de badaladas, e cada uma delas é entoada com um repique diferente, dependendo da mensagem a ser repassada para a população. “São toques diferentes. O da morte mesmo é só uma batida, tu tens que segurar essa corda com o pé pra ela não dar o repique. São ao todo trinta batidas”, explica com paciência.

Há alguns anos atrás, quando ainda ia para a igreja a pé, o sineiro subia até a torre para tocar as badaladas. Após ficar com dores no joelho, ele trocou a caminhada pela pedalada, e foi necessário adaptar também o seu ofício. “Eu pedi para arrumarem melhor, então colocaram uma caixa lá na porta da igreja e com uma corda maior para o sino”, fala. Após alguns “incidentes” como corda lambuzada e sino tocando a noite toda, um cadeado foi colocado na caixa, no qual Gerson guarda as chaves com atenção.

Mesmo assim, Gerson comenta que quando alguém falece ainda é preciso fazer o mesmo trajeto até o topo da torre, pois uma segunda corda é necessária. A subida é cansativa, as escadas não são as melhores, mas mesmo assim, o sineiro considera gratificante. “Eu gosto muito, eu acho muito bonito”, fala.
Marcando o ritmo da comunidade há 20 anos, até nas datas festivas ele separa um tempo especial para as badaladas. “No Ano Novo eu vou estar lá. Bato durante meia hora sem parar”, relata. Confiante no seu propósito, Gerson se agarra a fé e ao amor para continuar atuante.

Orgulho para a família

Criado em Costa da Serra, Gerson relembra da família que tanto ama e ficava feliz com a sua atividade diária. “A minha mãe ainda ouviu eu batendo o sino durante um ano e um mês, depois ela faleceu. Ela ficava na área sentada, na antiga casa, olhando e escutando o sino bater. Ela ainda dizia pra mim: ‘tu bateu muito pouco’, mas era bom”, fala.

Há dois anos ele também perdeu seu irmão para uma gripe e parada respiratória. “Eu que cuidava do meu irmão, ele era cinco anos mais velho que eu”, diz. Gerson relata que sempre levava o irmão ao culto quando era Natal, e que quando era preciso ir na cidade sempre arrumava um jeito de levá-lo junto. “Ele ficava faceiro comigo tocando sino aqui”, comenta.

Até o momento, nenhum interessado em continuar a tradição de sineiro apareceu na comunidade, mas Gerson não perdeu a esperança. “Eu penso pra mim que, enquanto eu viver, Deus me dá força e eu vou continuar”, completa.

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