Faltam registros da participação do negro na região

Dia da Consciência Negra é marcado por painel sobre etnias, e é observada a carência de informações sobre esse povo

Um painel sobre a formação étnica do Vale do Caí abriu as atividades alusivas ao Dia da Consciência Negra, celebrado ontem. Durante cerca de duas horas, pesquisadores falaram sobre a participação dos índios, portugueses, negros e alemães na formação da região, na Estação da Cultura.

Ao final da manhã, painelistas e público saíram com a certeza de que outros eventos semelhantes devem ocorrer, paralelos a pesquisas, pois ainda há muito a ser descoberto e registrado sobre a participação desses povos na história de Montenegro. Foi observada, no entanto, maior carência de informação sobre a influência dos negros. O assunto foi abordado pelo jornalista e sociólogo Rogério Santos, articulador e pesquisador no projeto Resgate do Negro no Vale do Caí.

Rogério observou que é comum associar a formação da região aos índios, portugueses e alemães, enquanto o negro é ignorado. Durante suas pesquisas percebeu essa falta de registros sobre a história desse povo. Seus estudos partiram do documentário “Negro no Vale do Cai”, do professor Roberto dos Santos, já falecido. A fase atual é de identificar pessoas negras consideradas referências na região.

Nesse sentido, a programação de ontem incluiu uma homenagem a 13 pessoas consideradas referências. Foram certificados Alcides Gonçalves (in memoriam), Athaydes Lemos (in memoriam), Domingos dos Santos – Domingão (in memoriam), Elisabete Gonçalves, Hélio e Silvia Vargas, Luis Antonio – Otiudiú (in memoriam), Luiz Carlos da Silva – Xandico (in memoriam), Pedro José da Silva – MC Pedrão, Roberto dos Santos (in memoriam), Sonia de Paula, Tadeu dos Santos – Tadeu Bauru (in memoriam), Vera Maria Lopes e Waldorino de Souza Milanez – Todinha (in memoriam).

A expectativa de Rogério é que a relação estimule a identificação de vários outros nomes no decorrer da pesquisa. Ele afirma que o Rio Grande do Sul é o estado que mais tem Quilombos, e que os negros chegaram principalmente na região de Pelotas. No Vale do Caí, o jornalista mencionou algumas referências, como o bairro Quilombo, em São Sebastião do Caí. Outra identificação dos negros na região é a Fazenda Pareci, onde há o prédio do antigo seminário em Pareci Novo. Em Montenegro, o bairro Santo Antônio é o local onde se concentrou a maior parte dos negros na época da escravidão. Após a explanação sobre as quatro etnias, a diretora municipal da Cultura, Priscila Nunes, que mediou o painel, também destacou a importância do evento por ampliar o conhecimento sobre a história de Montenegro e região.

Traços Caigangues e Guaranis
O professor Thiago Proença falou sobre os povos indígenas e acredita que deveria haver mais registros históricos sobre o assunto na região. Pesquisador sobre o tema, Proença afirmou que esses povos não são iguais no Brasil. “Existem hoje mais de 200 povos indígenas, mais de 200 idiomas sendo falados”, acrescentou.

Ele observou que a cultura Caigangue e Guarani transita onde há traços de antepassados desses povos. “Eles estão em lugares onde estiveram seus antepassados, não deixaram de existir, mas continuam”, acrescenta. Proença esclareceu que Ibiraiaras é um dos nomes que se dava aos Caigangues e que há trânsito muito forte desses povos e dos Guaranis na região.

Portugueses em idade para terem filhos
O professor Flávio Azeredo, com pesquisas e trabalhos sobre dança açoriana, falou sobre a participação dos portugueses. Ele mencionou o envio de casais, com mulheres até 30 anos e homens até os 40, para o Rio Grande do Sul, idade em que podiam ter filhos e formarem família no Brasil.

Eles vieram com a promessa de ganharem terras e ferramentas para o cultivo, mas não foram cumpridas. Além disso, muitos ainda morreram no caminho. Ele acrescenta que em 1752 vieram os primeiros 60 casais de portugueses para Poro Alegre.
Azeredo falou sobre a influência desses povos na arquitetura, mencionando a antiga igreja e características ainda percebidas em prédios históricos. “Mas sempre se dá um jeito de destruir um prédio antigo para fazer uma loja de 1,99”, ironizou o professor, lamentando que muitos desses imóveis já não existam. “Uma cidade que não tem sua identidade preservada é como alguém que não tem seu sobrenome”, acrescentou ele, durante sua fala.

Segundo município a receber mais alemães
Já imaginou receber um convite para ficar cerca de 10 anos fora, em uma região distante do seu país, com clima diferente, e sem ver sua família? Como estímulo, a promessa de que receberá terra e ajuda com ferramentas para o cultivo. A proposta foi apresentada pelo pesquisador e coordenador do Memorial ao Imigrante Alemão, Eduardo Kauer, ao referir-se a vinda de alemães para o Brasil. “Foi mais ou menos isso que aconteceu na época”, afirmou.

O pesquisador acrescenta que muitos aceitaram, por razões diversas. Alguns tinham problemas sociais ou até mesmo com a polícia e viram na proposta uma oportunidade de mudança. Kauer esclareceu que o Brasil recebeu imigrantes “degenerados”, mas que o governo Brasileiro, liderado por Dom Pedro I, tinha interesse para ocupar terras que eram consideradas desocupadas, embora fossem habitadas por índios.

Ele acrescentou que muitos estavam presos na sua região de origem, mas que cumpriam pena por crimes menores, como pequenos roubos. No estado, Kauer afirma que Montenegro foi o segundo município que mais recebeu imigrantes alemães, ficando atrás apenas de Novo Hamburgo.

 

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