Sem energia. Concessionária demorou cinco dias para restabelecer fornecimento na localidade e irritou os moradores
O temporal que atingiu a região na sexta-feira passada, dia 14, causou queda de luz em diversas localidades de Pareci Novo. Ainda nos dias seguintes, a energia foi restabelecida em boa parte delas. No entanto, na Várzea do Pareci o fornecimento que retornou ao normal por volta das 9h30min de segunda-feira, voltou a sofrer com instabilidade por volta das 15h e deixou novamente parte da localidade sem luz. O problema só foi solucionado no final desta quarta-feira, dia 19, quando equipes concluíram o reparo no local. Com exceção da curta janela de tempo com energia elétrica na segunda-feira, a comunidade ficou sem luz durante cinco dias.
Um dos moradores mais indignados com a situação era Alceu José Mendel, 56 anos. O citricultor reclamou da dificuldade em entrar em contato com a concessionária de energia e da falta de manutenção na rede. “O problema é a negligência. Parece que nos esqueceram”, lamentou. Com um freezer cheio de carne, ele via com apreensão os alimentos descongelarem aos poucos.
Um dos principais pontos da reclamação de Alceu era a falta de limpeza da área por onde passam postes e fios de luz, que foram envoltos pelo mato. “Se for preciso ajudar a limpar durante um dia para não ficar cinco sem luz, eu ajudo”, garantiu. E, de fato, ele ajudou as equipes da RGE Sul, que chegaram na manhã de ontem para solucionar o problema da comunidade, a limpar o espaço onde passa a rede.
A funcionária pública Liria Matilde Mendel, 54 anos, disse que tentou contato com a RGE Sul diversas vezes por ligação telefônica ou SMS. “Eles davam um prazo, mas não vinham”, contou. Ela estima que mais de 10 famílias sofreram com a falta de energia desde sexta-feira passada até essa quarta-feira. “Eu tinha coisas no freezer, mas praticamente perdi tudo. Também estou sem água por ter poço artesiano”, expôs.
Conforme o secretário de Agricultura e Meio Ambiente e coordenador da Defesa Civil em Pareci Novo, Fábio Schneiders, a falta de luz deixou o poço artesiano que abastece as comunidade de Campestre e Matiel sem trabalhar durante todo esse tempo. “Teve outros poços que levaram mais de 48 horas para voltarem a funcionar”, destacou. Três meses atrás, diversas comunidades sofreram com problema semelhante.
A RGE Sul foi contatada pela reportagem, mas, até o fechamento desta edição, não se manifestou.
Gelo no freezer e chuva para amenizar prejuízo
O casal Fábio Batista Müller, 35, e Josele Weber, 34, mora no centro de Pareci Novo. No entanto, é na Várzea que eles mantêm um viveiro onde são produzidas mudas nativas e ornamentais. A falta de energia poderia ter representado um grande prejuízo para eles não fosse a chuva que tem ocorrido com frequência e que permite que as plantas sejam regadas. Para não perder o que foi estocado no freezer da propriedade, eles compraram sacos de gelos para espalhar dentro do eletrodoméstico e manter os itens gelados.
“O tempo está nos ajudando, está chovendo todo o dia. Demos sorte”, reforçou Fábio. Ele contou que durante as cerca de seis horas em que houve energia na segunda-feira foi possível molhar o viveiro e também encher um reservatório de cinco mil litros da água. Inclusive, o viveirista estava quase fechando a compra de um equipamento novo que permitiria irrigar as mudas quando não houvesse energia quando foi avisado de que a luz havia sido restabelecida na segunda-feira.
Como a energia voltou a faltar, na terça-feira Fábio buscou retomar contato com RGE Sul pelos canais de atendimento ao cliente, mas não obteve sucesso. Sentindo-se desamparado, ele foi até o centro de atendimento da concessionária em São Leopoldo. “Prometeram dar prioridade, que assim que liberasse uma equipe enviariam pra cá”, contou. As equipes só chegaram na manhã de quarta-feira.
Atingidos pretendem processar concessionária
Representados pelo advogado Luiz Augusto Horlle, alguns moradores atingidos pelos cinco dias de falta de luz planejam entrar com uma ação indenizatória contra a RGE Sul. Conforme o advogado, a ação indenizatória será estudada individualmente, caso a caso. Ontem, a atenção dele estava voltada para uma ação de obrigação de fazer, com pedido liminar para restabelecimento da energia de todos os consumidores. “Vamos avaliar as indenizações em um segundo momento. A prioridade agora é restabelecer a energia”, afirmou.
Para Horlle, um dos grandes erros da empresa de energia foi, após diversas solicitações dos consumidores, prometer horários previstos para o retorno da luz, gerando expectativa. “Questões como esta não podem ser aceitas nos dias atuais”, defendeu. “O preço da luz é muito alto para não terem essa precisão no horário”, argumentou.