Falta de chuva traz preocupação ao campo

Região passa por estiagem pelo terceiro ano seguido

Desde que abriu a sua agroindústria familiar, em 2020, Loraine Von Muehlen tem convivido com a seca nos meses de Verão. Com foco na produção de hortifruti orgânicos, a horta da empreendedora rural de Novo Paris, no interior de Brochier, tem sofrido com a estiagem – cenário que se repete em outras cidades da região pelo terceiro ano consecutivo.

Loraine, que dá nome à agroindústria familiar Vó Lori, diz que em 2020 os efeitos da seca não foram tão sentidos, mas a falta de chuva em 2021 causou grandes estragos. “Chegou o fim do ano e a gente não tinha mais nada. O que tinha não podíamos vender porque eram produtos de pouca qualidade”, conta. Agora, a apreensão é que isso se repita nessa virada de ano.

Para evitar quebras na produção, Loraine investe em alternativas como a instalação de proteção e também de um reservatório com capacidade de 10 mil litros, esse instalado em parceria com o Estado e Município, para captar água da chuva. Como sua produção é orgânica, Loraine não pode utilizar água com cloro para regá-la, assim, depende da água da chuva ou de um arroio.

“Nós gastamos mil litros de água por dia na cultura. Se em 10 dias não chove, estamos sem água. Podíamos pegar de parte do arroio, mas é a mesma história: o arroio quando não chove, ele seca. Fica elas por elas”, comenta Loraine. “Então não dá para contar com isso, tem que chover para salvar nossa produção”, diz.

Já o agricultor Anoir Nonnemacher, que tem produção de citros, milho e eucalipto em Maratá e São José do Sul, diz que em quase 40 anos de trabalho no campo nunca tinha visto tamanha sequência de anos com épocas de estiagem. “Para nós é uma novidade. Lá pelos anos 2010 até 2014 teve um ano, mas agora, desde 2020, nós estamos praticamente entrando no terceiro ano seguido com seca”, analisa.

Até o momento, Anoir não projeta grandes perdas em sua propriedade na esperança de a chuva voltar entre janeiro e fevereiro. “O citros a gente não pode prever (quebra na produção) ainda, porque é cedo e ele tem tempo de recuperar. Mas o milho da silagem, eu acho que tem gente que já teve uma queda de 30% a 40%. Depende a época em que foi plantado”, conta.

Diante do cenário de repetidas secas, o agricultor foi atrás de alternativas. A primeira delas foi, através de parceria com o Município, Emater e Estado, escavar um microaçude em sua propriedade, em Maratá. Com o reservatório cheio, a ideia é usá-lo no futuro para irrigação. “Claro que é outro investimento que a gente tem que pensar”, aponta. Adoir lembra que, com secas passadas, chegou a ter perda de até 70% da sua produção, demandando acionamento de seguro e renegociação do pagamento de parcelas.

Investir em microaçudes e, futuramente, em sistema de irrigação é a solução encontrada por Anoir

Corsan diz que seca dificilmente afetará abastecimento
O aviso da Companhia Riograndese de Saneamento (Corsan) no último sábado, 24, de que poderia faltar água em Montenegro na noite de Natal, deixou a comunidade montenegrina em alerta. No entanto, tal cenário não deve se repetir. Segundo o coordenador operacional da Corsan na região do Vale do Caí, Ângelo Marcelo Faro, a situação do dia 24 foi causada por uma série de fatores: a estiagem, o alto consumo e um vento Norte que afetou todo o Estado. Inclusive, esses mesmos fatores fizeram com que houvesse falta de água em Porto Alegre.

Segundo o engenheiro, o vento Norte fez com que as águas da bacia do Caí, do Jacuí e do Guaíba fossem empurradas para a Lagoa dos Patos, baixando o nível do rio que abastece Montenegro – o que não é comum nessa época do ano. E isso ocorreu justamente numa época na qual há o mais alto consumo de água na cidade. Apesar disso, a Corsan não registrou problemas de abastecimento em Montenegro no último fim de semana e a situação do nível do rio já foi normalizada na segunda-feira.

Historicamente, diz o coordenador operacional, Montenegro não sofre com problemas de abastecimento em períodos de seca porque o Rio Caí, aqui, mantém o mesmo nível. O que não corre, por exemplo, em São Sebastião do Caí, onde uma bomba auxiliar é necessária para captar água.

No entanto, isso não significa que as pessoas devem deixar de ter cuidados com o uso da água. Segundo Marcelo, tais cuidados devem ser mantidos até o fim do período de estiagem. Entre as ações para evitar consumo excedente de água estão não regar gramados, não trocar a água de piscina, não encher piscinas, não lavar carro com mangueira, diminuir o tempo de banho e escovar os dentes com a torneira fechada.

Como está a situação nas cidades da região?
Montenegro: segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Rural, Ernesto Kasper, o Município tem acompanhado a situação no interior. Até o momento, não há grandes perdas ou muitos casos de falta d’água. “A gente está, ainda, tranquilo e olhando para o céu e, vou te dizer, torcendo para que venha uma chuvinha”, afirma. Ele salienta, ainda, que o Executivo tem acompanhado a instalação de microaçudes e reservatórios para dessedentação animal.

Brochier: a falta de chuva constante preocupa o Executivo. Segundo o prefeito, Clauro Josir de Carvalho, no interior já é possível ver açudes e arroios com nível abaixo do normal. O Município trabalha no combate à estiagem com obras nas redes de água e também com a construção de microaçudes com recursos da Consulta Popula. “Agora estamos fazendo um trabalho de conscientização do uso correto das águas, amenizando possíveis faltas mais prolongadas”, destaca Clauro.

Maratá: conforme a chefe do escritório local da Emater, Mariane Conrad Karlinski, os níveis de águas podem estar baixos, mas isso ainda não afeta de forma significativa as culturas. “Na cultura do milho não tem perda significativa a não sem em locais pontuais assim, por exemplo, onde tem um tipo de solo mais raso ou com laje embaixo”, explica e reforça que as perdas ainda não são significativas.

Pareci Novo: segundo o vice-prefeito e secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Fábio Schneider, o Município ainda não apresenta perdas significativas, no entanto já é possível ver o efeito da estiagem nas plantações. Há alguns viveiros que já estão com dificuldade para realizar a irrigação de suas produções. Outro ponto que preocupa é o de abastecimento de água potável. “A gente até já fez um trabalho de conscientização para o pessoal cuidar um pouco com o desperdício e evitar o uso indevido para evitar o racionamento ou até a própria falta”, comenta.

São José do Sul: o Município registra algumas perdas na cultura do milho e houve registro de quedas de frutas verdes em pomares de citros. Não há preocupação com o abastecimento de água para consumo humano, mas a situação da dessedentação animal, bem como o nível de água em açudes e arroios, preocupa.

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