“Eu sofri violências que eu nem percebia que eram violências”

Floresta Montenegrina promoveu bate-papo sobre racismo estrutural na tarde desse sábado

“A gente nasce com a pele negra, mas a gente só torna-se negro depois. Torna-se negro ao perceber todo esse racismo que se volta contra nós, todo esse processo de segregação. Eu, enquanto negro, preciso lutar e estar alerta 24 horas por dia.”

A reflexão do ator, escritor, cineasta e ativista Sérgio Rosa bem resume o foco do bate-papo sobre empoderamento negro promovido pela Associação Cultural Beneficente Floresta Montenegrina na tarde desse sábado, 3 de setembro. O encontro reuniu pessoas – negras e não negras – para conversar e ouvir sobre racismo estrutural, representatividade negra e empoderamento social; no primeiro de uma série de bate-papos que estão sendo organizados pela entidade. “Esse é um momento bastante importante para discutirmos sobre pautas pretas. A ideia é conversar e sermos um espaço de discussão”, resumiu a presidente da associação, Letícia Santos.

Sérgio Rosa é natural de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Através do seu trabalho, ele dedica-se a dar voz ao povo negro. É idealizador do canal do YouTube Afro Cena, onde entrevista personalidades da cultura afro; e já lançou três documentários. Em sua fala, em Montenegro, ele falou sobre as dores do descobrir-se negro no País; e da necessidade constante de ser uma resistência.

“Só quando eu me descobri negro, que eu percebi que em muitos anos da minha vida, eu sofri violências que eu nem percebia que eram violências; dores que nem sabia que eram dores”, colocou.  “A escola, hoje, ainda é um dos espaços mais dolorosos para as nossas crianças pretas, que começam a se perceber negras através dos racismos que são traduzidos em bullying, mas que não são apenas bullying.”

Rosa disse que conheceu o quanto o racismo era gritante quando o percebeu vindo de amigos, de professores, de pessoas que o abraçavam. Abordou diferentes questões neste sentido. Dentre outras, da ameaça do fim das cotas, das quais alguns se referem como “esmolas”; de abordagens policiais violentas; de muitas empresas e instituições onde os únicos negros empregados ocupam funções de limpeza, segurança ou afins. Também de pequenas agressões.

“Que ensinamento é esse que as escolas dão, de Dia da Consciência Negra, se quando a criança sai na rua com a mãe e passa por um preto, a mãe segura a bolsa com mais força? Seguido eu passo por esse tipo de situação”, relatou. “No mercado, a mulher branca entra com bolsa muito maior do que a minha, mas se eu vou com uma mochila, eu tenho que colocar a mochila no armário para entrar. Porque ela não precisa colocar a bolsa?”

Roda de conversa fomentou reflexões sobre racismo e representatividade

No bate-papo, Sérgio Rosa avaliou que tornar-se negro, efetivamente, é virar um soldado contra o racismo. “Se a gente não está sempre falando de racismo, então isso vai durar para sempre. A gente precisa estar sempre falando para diminuir esse ‘sempre’”, refletiu.

A luta – o ser resistência, o mexer nas feridas do sistema – é necessária, especialmente, para ser referência para que as próximas gerações sigam lutando. Para isso, Rosa também falou na importância da representatividade dentro das “engrenagens” do sistema; reflexão importante nesse contexto de corrida eleitoral. “Nós precisamos ocupar esses espaços. Nós precisamos de pessoas que representem essa cor e essa resiliência”, avaliou. As datas e os próximos temas das rodadas de bate-papo da Floresta Montenegrina serão divulgadas nas próximas semanas.

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