Pesquisa estima percentual da população diretamente sujeita aos impactos da crise
Mais de 2,6 milhões de gaúchos estão diretamente sujeitos ao impacto das medidas de isolamento social necessárias para conter o avanço da Covid-19. O número representa cerca de 43% de toda a força de trabalho do Rio Grande do Sul que é considerada mais “vulnerável” diante da atual situação.
O dado é de uma pesquisa da secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do governo, a Seplag. “Todos os indicadores nos mostram que a economia gaúcha vinha numa linha de recuperação da forte recessão que o país sofreu partir de 2015, mas que agora terá um forte revés por conta dessa situação que vem abalando todos os centros econômicos do mundo”, coloca a titular da pasta, Leany Lemos.
Desses 2,6 milhões atingidos mais fortemente pelas restrições à atividade empresarial, 598 mil gaúchos estão aptos, de acordo com seus rendimentos, a receberem as três parcelas de auxílio de R$ 600,00 por mês do governo federal. São 239 mil beneficiários do Bolsa Família, 86 mil informais, 129 mil que trabalham por conta própria e 144 mil desocupados. Aos informais, o auxílio representa entre 30% e 60% do rendimento médio “normal”.
Entre os gaúchos idosos, 35,2% dos homens e 17,6% das mulheres também fazem parte da força de trabalho e estão entre os maiores impactados pelas limitações. O governo ainda soma ao dado os trabalhadores com o maior risco de perderem o emprego ou terem reduções salariais de acordo com a situação das empresas para as quais trabalham. Dos 212.450 estabelecimentos considerados pela Seplag, 68% são do Simples Nacional, de porte pequeno, mas empregando entre um e quatro trabalhadores.
“São empregos vulneráveis que, mesmo em curto prazo, podem ser destruídos na ausência de políticas públicas adequadas”, alerta o estudo. A atividade de comércio – a mais impactada pelos decretos municipais e o estadual – representa 45% dessas empresas. E mesmo com a alternativa de migrar para as vendas pela internet, o isolamento imposto pela quarentena representa perdas importantes.
Um dos responsáveis pelo levantamento, Pedro Zuanazzi ainda salienta que o número de afetados pode ser maior. “É preciso também avaliar quais serão os efeitos da crise para as grandes empresas e naqueles não classificados como economicamente vulneráveis”, ponderou. Os resultados da pesquisa serão usados pelo governo para definir novas ações de auxílio aos mais atingidos.
O fechamento do comércio, de acordo com o decreto estadual, termina nesta quarta-feira, dia 15; mas a expectativa é de que a data seja revista.
Impacto na arrecadação do ICMS
As restrições às atividades empresariais e a redução da atividade econômica vão afetar de 30% a 35% a arrecadação de ICMS do Estado no mês de abril. A projeção da secretaria da Fazenda foi divulgada pelo governador Eduardo Leite. O impacto é de R$ 2,5 bilhões, previstos também para os próximos dois meses. O valor se refere ao custo de quase duas folhas salariais do funcionalismo, segundo comparação de Leite.
Neste percentual, de 30%, o governador anunciou que está reduzindo o seu salário durante os meses de abril, maio e junho. Ele disse, em pronunciamento, que está estimulando seus secretários a fazerem o mesmo; e que acredita que todos assim farão. Em fevereiro, de acordo com o Portal da Transparência, Eduardo Leite recebeu R$ 17.978,96 como pagamento mensal.
O ICMS é usado no custeio não só do funcionalismo – professores, segurança pública, etc –, mas também dos serviços oferecidos pelo Estado, dentre outras despesas. “Ainda aguardamos uma decisão federal a respeito da recomposição das perdas com o ICMS. Como não sabemos se isso irá ocorrer, estamos projetando cenários, sem números exatos”, colocou o governador. A não aprovação da medida, segundo ele, colocaria o Rio Grande do Sul em uma situação “absolutamente dramática”.