Escola do interior é exemplo na alfabetização dos estudantes

Na EMEF Manoel José da Motta, o estímulo à escrita e leitura é brincando

“Como que aprende a ler pessoal?”, pergunta a professora. “Leeeendo!”, respondem os alunos, em uníssono. O entendimento dos estudantes da turma multiseriada de 1º e 2º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel José da Motta, na localidade de Muda Boi, demonstra a essência da metodologia de aprendizado da educadora Lilian da Silva, que leciona para eles. Na sala em que estudam, materiais de leitura e jogos educacionais feitos com objetos recicláveis ficam à disposição das crianças, na busca pelo estímulo contínuo de seus conhecimentos.

Em média, com seis meses de aula, os estudantes da turma estão alfabetizados. O grupo atual é multiseriado porque os alunos do 2º ano chegaram na etapa sem este conhecimento básico. Hoje, seguem juntos com os do 1º no seu processo de estudo. “Não são uma turma de superdotados”, comenta a professora Lilian. “São crianças normais que são colocadas como protagonistas do seu aprender. É um processo muito natural.”

Ela explica sua metodologia: “é uma sala em que é propícia a alfabetização. Os alunos são estimulados à leitura e à escrita com os materiais disponíveis. A gente entende que isso precisa fazer sentido para eles. Não é nada decorado.” Lilian aponta que, no começo do ano, inicia o processo com o reconhecimento das letras dos nomes de cada um, partindo para as sílabas, construção de frases e, assim, sucessivamente.

Neste sentido, os jogos entram como uma forma descontraída de aprendizado. Após terminar as atividades propostas, os estudantes são livres para buscar um jogo ou um material de leitura e seguir aprendendo com a brincadeira. Conforme o aprendizado vai evoluindo, os jogos vão sendo adaptados, aumentando a complexidade e entrando no tema trabalhado em aula. Em algumas vezes, há interferência de Lilian na forma em como o material é usado e, em outras, os alunos ganham autonomia no uso. “São coisas que eles gostam e que os incentivam”, frisa a educadora.

O menino Bryan demonstra com orgulho sua facilidade de leitura

Com diferentes possibilidades, os jogos estimulam, dentre outras habilidades, coordenação, fala, leitura, memória e matemática. Toda a organização da sala fica por conta dos alunos que, com muito primor, guardam cada material no seu devido lugar após usá-los, com tudo etiquetado pela professora. Nesta turma, eles não têm tema de casa específico. “Qual é o tema de casa pessoal?”, Lilian questiona. “É fazer aquela coisa que a gente não consegue fazer”, respondem. Os alunos trabalham em casa os pontos com mais dificuldade.

A professora também assumiu a direção da escola no inicio deste ano. Com experiência de mais de 20 anos, ela conta que tem estimulado, nas reuniões pedagógicas, que os docentes troquem suas experiências e trabalhem juntos. A escola atende do pré ao quinto ano do Ensino Fundamental.

Simplicidade que faz toda a diferença
Garrafas pet, sacolas, papel pardo e palitos de picolé. Estes são alguns dos materiais que compõe os jogos educacionais da turma. Percebendo a realidade dos alunos, em uma comunidade carente do interior do município, a professora Lilian buscou pensar as ferramentas de acordo com o espaço em que os estudantes vivem. “É tudo feito de materiais simples e que eles podem ter em casa”, comenta. “Não precisa de um recurso enorme. Precisa de boas intervenções.” É na parada semanal de planejamento, que ela adapta os materiais usados pelas crianças.

Em fila, os alunos mal conseguem conter a ansiedade de ler, em voz alta, um trecho de algumas de suas fichas de leitura. Aos seis anos, Bryan já surpreende com sua habilidade. Os colegas não são diferentes. Lêem diversos tipos de letras, formando as histórias separadas pela professora. Toda sexta, eles têm um momento para ler o que quiserem, independente do conteúdo. É a chamada “Leitura Deleite.”

A professora Lilian criou um ambiente de aprendizado estimulado

Os pais, orgulhosos, juntam em casa os materiais que podem virar novas ferramentas de ensino aos filhos. “A gente estimula os pais nas reuniões, para que sigam este trabalho nos lares”, conta Lilian. Feliz com os resultados de seus alunos, ela relata o comentário de um pai, que ficou admirado quando seu filho pegou uma reportagem de jornal e saiu lendo por sua conta. A iniciativa é exemplo para todos. “Os professores tem um universo de capacitação proporcionado. Depende de cada um se irão colocar isso em prática e como irão colocar”, finaliza a educadora.

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