Dificilmente alguém chega a Manaus e se depara com o que esperava. E isso, entre os taxistas locais é motivo de piada. “Acham que vão ficar no meio do mato, com jacaré no meio da rua. Bobagem…aqui é uma cidade como qualquer outra”, me disse um dos simpáticos motoristas. Não que ele estivesse de todo certo. No dia em que desembarquei na capital do Amazonas a notícia que dava manchete aos jornais era o passeio de um jacaré pelas ruas devido a intensa chuva da noite anterior. E entre os passeios oferecidos está o chamado “hotel floresta”, no qual é possível passar três noites na mata. Mas a verdade é que ir a Manaus envolve muito mais.
É uma cidade colorida e cujo povo está disposto a acolher seus visitantes. De tudo o que atrai o olhar – e não são poucas coisas – a relação daquele povo com a natureza é uma atração a parte. O porto é como um coração que pulsa e oferece à cidade tudo o que ela precisa. Barraquinhas que se multiplicam pela orla e vendem passagens aos barcos que rumam para todas as cidades. Pessoas chegam correndo, carregando suas bagagens e de olho para não perder o seu barco, com destino a um dos muitos municípios ribeirinhos. Não se trata de algo turístico – não apenas, pelo menos – mas sim do cotidiano local.
Ao desembarcar em Manaus prepare-se também para encontrar dois mundos muito distantes. Um antigo, opulento, de riquezas reservadas a poucos e geradas no trabalho de muita gente humilde. Era o ciclo da borracha, que viveu seu auge de 1879 a 1912.
Relatos dizem que os barões da borracha enviavam suas roupas para serem lavadas na Europa. Afinal, acreditavam que as águas do Rio Negro iriam manchar seus trajes. O outro mundo é bem mais atual, já sem sua principal fonte de riqueza, um século depois, a cidade ainda se recente da perda de recursos e status. Marcas desse passado estão presentes e quem gosta de história deslumbra-se num simples passeio pelo centro da cidade. Parece que Manaus parou no tempo, porque é na riqueza de um século atrás que ainda deseja estar.
A praia de Manaus
A Praia da Ponta Negra é uma surpresa a quem chega. Dificilmente alguém irá até a capital do Amazonas buscando praia, mas quem passa por lá não deve perder a oportunidade. Conheci Ponta Negra na noite de Réveillon, com o calçadão iluminado e os prédios que circundam a orla embelezados para a virada do ano. Brindar a chegada do ano na areia é tradição, com shows de música e de fogos de artifício. Quem tem mais recursos observa da sacada dos ricos prédios ou de lanchas ancoradas na costa. Quem não tem, faz na areia a sua festa. É um grande festejo popular, com pessoas de pés descalços e vestidas de forma simples. Já vista ao amanhecer, Ponta Negra mostra outros encantos. As águas calmas e mornas do Rio Negro são convidativas. E as pedras que tomam o solo em alguns trechos parecem convidar para fotos.
Teatro Amazonas
A principal lembrança dos tempos áureos de Manaus está no Teatro Amazonas. Seu estilo, arquitetura e decoração em estilo francês. A cúpula veio de Paris. No salão principal, ao olhar para cima, é como se estivesse embaixo da Torre Eiffel. Ouro, cristais, mármore. A riqueza grita aos olhos. Mas guia conta que tudo foi substituído ou é pintado, sem o valor real do passado. É que junto com o dinheiro, as apresentações vindas da Europa foram embora e o teatro ficou esquecido, sendo saqueado. Hoje recebe apresentações artísticas e visitas guiadas.
Um presente da natureza
Os encantos do boto estão brilhando na novela “A força do Querer”, da rede Globo, que teve cenas gravadas em Manaus. Ao vivo se percebe que é mesmo algo fantástico a força da natureza presente por lá.
Dois passeios são obrigatórios em Manaus. Visitar a floresta e a aldeia indígena é um deles. Em meio a árvores gigantescas você entende o quanto a natureza é forte. Entrar na aldeia da tribo indígena das etnias Dessanos e Tucanos, e conhecer a cultura daquele povo é surpreendente. Eles pintam os visitantes e apresentam sua música e dança típicas. As ocas, a comida, as vestimentas. Está tudo ali, num paraíso natural, muito bem cuidado pelos que são, na realidade, os verdadeiros donos da terra.
Outro passeio imperdível é subir o Rio Negro até o chamado “encontro das águas”, quando ele chega até o Rio Solimões, de cor barrenta, mais frio e que corre mais rápido. Por isso suas águas não se misturam. Juntas formam a imensidão do Rio Amazonas. Tocar essas duas águas, tão unidas e tão separadas ao mesmo tempo, é constatar que o homem não manda na natureza, por mais que tente.
Ao final do dia, sob uma pancada fina de chuva, vivi o que de todas as maravilhas locais elegi como a mais fantástica: nadar com os botos. Talvez a graça esteja na raridade daquele momento. O boto cor de rosa é dali, não nos encontraremos novamente, muito provavelmente. No protocolo antes de entrar na água está vestir o colete e meias. Mais do que isso, é como se todos pedissem licença para entrar no habitat dos animais tão exóticos. Com pequenos peixes como iscas, eles vem chegando, doces, simpáticos, porém fortes. A sensação é indescritível.
Lugar onde se come bem
Não é apenas uma comida gostosa, são também pratos saudáveis. Certamente devido a herança indígena, as comidas são coloridas e diversificadas. Frutas e legumes, junto aos peixes, ganham papel de destaque. Para alguém apaixonado por peixes, Manaus parece o paraíso. São vários, mas o tambaqui é o mais comentado. Tem o tambaqui de banda, costela de tambaqui, caldeirada de tambaqui e por aí vai. Sempre acompanhados pela farofa de banana, uma maravilha local que deixa saudade. Também é obrigatório provar do “tacacá”, uma sopa servida em cumbuca que leva camarões e folhas de jambu. Essa planta, que também aparece em vários pratos locais, amortece a boca e, na cultura indígena é usada como anestésico. Por lá, se ouve que dependendo do preparo e da quantidade consumida, o jambu pode matar. Verdade ou não, a história torna provar o prato uma curiosidade a parte. Assim como o tacacá, outros pratos amazonenses brincam com os sentidos. Lá, a comida não tem só sabor, mas sensações em cada prato.