GLAITON CONTREIRA foi anestesiado e morto com facada no pescoço
O 1º tenente Glaiton Silva Contreira, de 52 anos de idade – comandante da corporação dos Bombeiros de Montenegro e de Taquari – foi encontrado sem vida na Estrada Travessão Campo Bom, em Sapiranga, cidade onde morava, por volta das 19h dessa segunda-feira, dia 26. Horas depois de localizar o corpo, a Polícia Civil chegou ao principal suspeito pelo homicídio, o enteado de Contreira.
O jovem de 25 anos confessou a premeditação do assassinato e deu detalhes de como agiu. O caso chocou o Estado. Colegas e amigos lamentam a perda.
Segundo o delegado Fernando Branco, da Delegacia de Polícia de Sapiranga, Contreira desapareceu na tarde do domingo, 25, após sair de casa para caminhar. Na segunda-feira, a ausência a um compromisso profissional levou um de seus superiores a procurar a delegacia. Já no final da tarde, a PC localizou o corpo do comandante com marcas de violência.
Após diligências feitas pela equipe da delegacia, o enteado prestou depoimento. Ele foi a última pessoa com quem Contreira teve contato antes de morrer. Conforme o delegado, o depoimento apresentou contradições e, ao ser confrontado, o rapaz acabou confessando a autoria da morte.
O jovem relatou para a polícia que há duas semanas estava desviando restos de anestésicos do hospital onde estagiava, substância que foi usada para desacordar o comandante e, posteriormente, matá-lo. Ele também fez pesquisas na internet sobre como matar com uso de faca.
No domingo, surgiu a oportunidade de colocar o plano em prática. “Ele ofereceu uma carona para o tenente que saía para praticar atividade física. O local onde faria caminhada era longe da residência e, como o tenente havia emprestado o carro para o enteado, ele lhe ofereceu uma carona”, relata o delegado.
“Ele colocou o pano embebido em anestésico na boca do tenente, que uns 30 segundos depois desfaleceu. Então dirigiu o carro até o local onde o corpo foi encontrado, retirou o tenente ainda vivo de dentro do veículo e, quando ele estava no chão, desferiu o golpe de faca no pescoço”, conta a autoridade policial sobre as informações dadas no depoimento.
A justificativa para o crime bárbaro seria a divisão da casa onde a família morava. Contreira estava em processo de separação e o enteado não ficou satisfeito com a parte que caberia à mãe dele. Contreira casou-se com a atual esposa quando o enteado tinha 13 anos de idade. Há 8 anos o casal teve um filho fruto da união.
Após a confissão, o delegado solicitou a prisão preventiva do acusado. A investigação segue, mas por enquanto não há informações sobre o envolvimento de mais pessoas. O jovem deve responder por homicídio qualificado, com pena que pode variar de 12 até 30 anos.
O velório e sepultamento do comandante ocorrem nesta quarta-feira, 28, em sua cidade natal, Rio Grande. O velório será das 7h30min até as 11h30min na sede do 3° Batalhão do Bombeiros Militares. O sepultamento ocorrerá no cemitério municipal da cidade.
Bombeiros lamentam a perda do amigo
Chefe e amigo, era assim que o comandante Contreira era visto pelos membros da corporação de Montenegro. A perda repentina e trágica surgiu como uma nuvem cinza sobre o quartel no começo da noite dessa segunda. Nessa terça-feira foi preciso muita força para começar o expediente. “O dia amanheceu sem cor e sem ânimo para o trabalho que o comandante sempre ensinou a levar com leveza e destreza”, diz a soldado Francine Dotta.
O tenente assumiu a corporação em agosto de 2018 e de lá até então se empenhou para dar melhores condições de trabalho aos bombeiros e melhor atendimento às comunidades. Diálogo aberto era uma das principais ferramentas usadas pelo tenente na construção de projetos para a corporação. Ele aproximou o Poder Público do quartel e estabeleceu uma rotina de reuniões que gerou resultados positivos.
Em cerca de um ano e meio, foram R$440 mil em investimentos em equipamentos e melhorias. O recebimento de uma carreta tanque Mercedes Benz LS 1934 foi outra importante conquista, da qual o comandante não abria mão de celebrar. Contudo, sua falta não será sentida apenas pelas conquistas materiais alcançadas. “O tenente Contreira marcou pela passagem aqui conosco. Jamais será esquecido. Ele foi muito mais que um comande para nós, ele foi um amigo, um conselheiro sempre disposto a ajudar. Vai deixar saudades”, afirma o soldado André Luís Oliveira.
Desde o início de sua carreira, o soldado Ricardo Mattos teve uma relação especial com o comandante. “Mais que um amigo, foi meu mestre na minha formação em 2000, um comandante nota 1000, evocando as responsabilidades todas para ele e nos defendendo usando o termo “pai” para tal. Iniciei minha carreira nos ensinamentos dele e tive o privilégio de ser comandado por ele após 20 anos de serviço. Deixa uma saudade eterna e uma dor imensurável”, desabafa. “Montenegro em termos de Bombeiros cresceu em um ano e meio como nunca. Um gestor e ser humano irretocável”, conclui Mattos sobre o comandante Contreira.
Homenagens
A prefeitura de Montenegro decretou luto oficial de três dias pela perda do comandante Contreira. Segundo o Decreto, é dever do Poder Público render justa homenagem àquele que, com seu esforço, trabalhou para o bem da coletividade. Sapiranga também decretou luto oficial. Além de residir na cidade, ele foi comandante da corporação local há alguns anos. O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul manifestou profundo pesar pela morte do tenente Contreira. “Neste momento de dor, prestamos as nossas condolências aos familiares e a todos os colegas do Corpo de Bombeiros Militar”, diz o texto. A Voluntersul também manifestou pesar.