Durante todo o mês de março aconteceram uma série de ações visando a conscientização da população acerca da endometriose. Mas não é apenas nesse mês que esta doença é preocupante. Começando do início, o endométrio é uma mucosa que reveste a parede interna do útero, sensível às alterações do ciclo menstrual, e onde o óvulo depois de fertilizado se implanta. Se não houve fecundação, boa parte do endométrio é eliminada durante a menstruação. O que sobra volta a crescer e o processo todo se repete a cada ciclo.
A endometriose é uma doença benigna. Se trata de uma modificação no funcionamento normal do organismo em que as células do endométrio em vez de serem expulsas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal. Lá, voltam a se multiplicar e a sangrar. Apesar de ter causas ainda desconhecidas, uma das hipóteses é que a doença seja genética e esteja relacionada com possíveis deficiências do sistema imunológico. A endometriose impacta diretamente na qualidade de vida da mulher e por isso é reconhecida desde 2021 como um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a dra. Eluana Martins da Silva, médica ginecologista da Prefeitura de Montenegro e da Clínica da Mulher, a doença acomete de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva, principalmente entre 15 e 49 anos. Outro dado diz que 25% a 50% das mulheres inférteis estão acometidas pela endometriose. Segundo Eluana, não se tem dados sobre a doença no município. “Mas sabemos que afeta em torno de sete milhões de mulheres no Brasil e é a principal causa de dor pélvica e infertilidade na mulher”, destaca.
Os principais sintomas são cólicas menstruais (que com a evolução da doença pode incapacitar a mulher de realizar atividades habituais), dor durante a relação sexual, dificuldade para engravidar e dores para evacuar e urinar. No entanto, segundo Eluana, é cultural que a mulher pode ter cólicas e que isso faz parte da menstruação, o que leva muitas pacientes a não procurarem ajuda. “Portanto, cabe ao ginecologista investigar as queixas de suas pacientes para fazer o diagnóstico precoce, poder tratar e definir os casos mais complexos e que precisam de acompanhamento especializado”, enfatiza.
Diagnóstico e tratamento
A ginecologista Eluana pontua que quanto ao diagnóstico, estima-se que demore de sete a 10 anos, devido a exames inadequados e profissionais não especializados. Diante da suspeita, o exame ginecológico clínico é o primeiro passo para o diagnóstico. Ela explica que o exame recomendado é uma ecografia transvaginal com pesquisa de endometriose com preparo intestinal e/ou ressonância magnética. Para identificar a existência da endometriose, outros exames complementares ainda podem ser solicitados pelo médico, como a ultrassonografia transretal, a ecoendoscopia retal e a tomografia computadorizada. Após a identificação de alguma alteração, o médico poderá optar por realizar uma biópsia da lesão encontrada, de modo a confirmar o diagnóstico. Essa avaliação será realizada por meio de exames chamados laparoscopia e laparopotomia.
Já quanto ao tratamento, “ao contrário do que muitos pensam, a retirada do útero não é o tratamento mais adequado”, alerta ela. O tratamento da endometriose pode ser realizado com medicamentos que bloqueiam a menstruação e com cirurgia nos casos mais complexos (quando a doença pode atingir outros órgãos como bexiga e intestino). Em alguns casos, podem necessitar também de encaminhamento para serviços de fertilização in vitro. “Felizmente, 70% a 80% das pacientes respondem bem ao tratamento clínico/medicamentoso, que idealmente, também deve ser acompanhado por equipe multidisciplinar com fisioterapia, acupuntura e nutricionista”, salienta.
Recomendações para lidar com a endometriose
– Não imagine que a cólica menstrual é um sintoma natural. Procure o ginecologista e descreva o que sente para orientação sobre tratamento;
– Faça todos os exames necessários para o diagnóstico da endometriose;
– Inicie o tratamento adequado ao seu caso tão logo tenha sido feito o diagnóstico da doença;
– Pratique exercícios físicos;
– Utilize lubrificante íntimo para redução da dor durante;
– Aplique compressas quentes.
Há prevenção?
A prevenção mais efetiva é, antes de tudo, o acompanhamento preventivo com o médico, que pode ser feito nas consultas de rotina. Mulheres em idade reprodutiva devem realizar consultas anuais, em que exames preventivos de rotina são solicitados e analisados. Somente esse hábito pode prevenir efetivamente a evolução e o desenvolvimento de doenças como a endometriose. É igualmente importante que a mulher conheça os sintomas da endometriose para que possa estar atenta, caso apareçam no período entre as consultas de rotina.
A observação atenta pode identificar a presença de fortes cólicas menstruais, dores abdominais durante a ovulação ou menstruação e dificuldade reprodutiva. Não é apenas a saúde física do sistema reprodutor feminino que é afetada pela endometriose. Especialmente os sintomas dolorosos e a infertilidade, consequências da doença, têm participação central no desenvolvimento de transtornos psicológicos, como a depressão e a ansiedade.