Sábado foi de atividades em Sobrado, onde mais de 20 grupos organizados do lar participaram do evento
O último sábado, 28, foi de muito conhecimento, integração e diversão com o 20° Encontro da Família Rural. Realizado no pavilhão da comunidade de Sobrado, interior de Montenegro, o evento reuniu aproximadamente 20 Grupos Organizados do Lar (GOL). O núcleo acolhedor da 20ª edição, segundo Everaldo Vinício da Silva, extencionista da Emater-Ascar, foi o Santa Rita de Cássia. “Cada localidade sedia um encontro. Porém, como algumas não têm estrutura para realização, acaba por repetir lugares”, diz.
A programação incluiu palestra motivacional, show de talentos, almoço e reunião dançante, mas o destaque foi a palestra sobre a importância da doação de órgãos do projeto Cultura Doadora. A iniciativa é uma parceria da Fundação Ecarta (entidade instituída pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS, Santa Casa de Porto Alegre e Emater/Ascar RS) com o Hospital Montenegro e o Jornal Ibiá.
Mais de 300 moradores tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre doação de órgãos. Olhares atentos, folders informativos e cuias de chimarrão em mãos, a interação do público foi constante e a semente da doação foi plantada em muitas famílias.
Edi Lory Ritter, 85 anos, do Gol de Alfama, afirma que sempre pode participa dos encontros. Com o pé quebrado e em processo de recuperação, relata que precisou se afastar por algum tempo, mas sábado teve um retorno alegre e cheio de esclarecimentos. Com olhar fixo nas palestrantes sobre doação de órgãos, as enfermeiras da Santa Casa Katiane Rosa da Rocha e Daiane Alves Nickel, ficava irritada quando o barulho a impossibilitava de ouvir perfeitamente o que elas diziam. “Eu gosto dessas coisas esclarecedoras. E eu não imaginava que tanta gente precisava de órgãos ou tecidos aqui no Estado”, surpreende-se.
Mais de 1300 pessoas na fila
As enfermeiras da Santa Casa de Porto Alegre Katiane e Daiane trouxeram números alarmantes. Apenas no Estado, mais de 1.300 pessoas aguardam por um órgão ou tecido – e oportunidade de uma vida nova.
Coordenando o bate-papo junto da coordenadora do Cultura Doadora em Montenegro, Glaci Borges, elas explicaram quem pode doar e quem pode receber. “Os protagonistas são o receptor e doador. E esse é o único tratamento de saúde que precisa de outra pessoa para que aconteça”, destaca Daiane.
Enfatizaram sobre o que é a morte encefálica (cerebral) e a diferença dela com o coma. Destacaram a importância de avisar familiares que se é doador. “Pai, mãe, filhos, avós, marido e mulher podem autorizar a doação de órgãos em caso de morte. Se for criança, pai e mãe autorizam. Não tem limite de idade. A única restrição aqui, atualmente, é que portadores de HIV não podem ser doadores. E o processo de transplante, independentemente de a pessoa ter plano de saúde, é feito todo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os medicamentos após o procedimento, de uso do transplantado, também são disponibilizados pelo SUS”, informa Karine.
A importância de levar a informação
De acordo com a coordenadora do Cultura Doadora em Montenegro, Glaci Borges, a palestra objetiva levar informações para localidades de mais difícil acesso – e para todos os cantos possíveis. “Aqui, trouxemos as informações básicas para esclarecer e plantar a semente. Muitas pessoas sairão daqui e levarão essa consciência para dentro de suas famílias, de seu círculo de convivência”, diz.
Glaci ainda informa que a fala e o conteúdo são adaptados ao público-alvo. E a abordagem procura esclarecer, principalmente, sobre a morte encefálica, que atesta o óbito da pessoa. “Culturalmente, muitos ainda têm romantismo de que é o coração que é o centro de tudo e de que se ele está batendo, ainda há vida. É preciso desconstruir isso quando há morte cerebral. E sobre a doação de órgãos, é preciso tratar esse assunto sempre. Criar uma cultura doadora é algo que precisa ser construído”, define.
Parceira e apoiadora da causa, a vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Josi Paz, relata que procura, através da Comissão e da Câmara, viabilizar as relações dos envolvidos no projeto. “Abrimos a possibilidade, em conversa com a Dra. Tatiana Michelon, diretora clínica do HM, de utilizar a Tribuna Livre para trazer a Cultura Doadora. Trazer a pauta para dentro da Câmara de Vereadores”, conta.
Josi informa que é essencial conscientizar a população e aproximar, através da Câmara, a Secretaria de Saúde, o projeto Cultura Doadora e a comunidade para viabilizar essa pauta. “Então surgiu a oportunidade de ingressar com a questão no interior. Conversei com o Everaldo e as portas se abriram. Ainda não é uma realidade no meio rural, por exemplo, o acesso integral às redes sociais, à internet, onde essas informações circulam. Então é uma grande conquista e fundamental que esse assunto adentre essas localidades de outra forma”, termina.