Após repercussão negativa, Dobra e Smile Flame buscam novo local para ação contra o abuso sexual infantil
A criação de uma nova praça (ou largo) em um terreno na esquina entre as ruas José Luis e Dr. Flores, no Centro, seria viabilizada através de um mutirão nos dias 9 e 10 de novembro. A inauguração seria logo depois, no dia 21, mas a atividade acabou não ocorrendo. Primeiro, a justificativa foi a condição climática que já havia ocasionado alguns adiamentos. Agora, já não há prazo para que o projeto seja posto em prática.
É que a repercussão da iniciativa não foi tão positiva quanto se esperava junto à comunidade, o que afastou as duas empresas que eram parceiras da Prefeitura na empreitada. A montenegrina Dobra e a porto-alegrense Smile Flame tinham abraçado a nova praça para, lá, por em prática o seu projeto “Vale do Acolhimento”. Ali fariam a pintura de um muro e, durante a inauguração, uma grande ação educacional que buscava conscientizar sobre o abuso sexual infantil.
“Só que quando o projeto foi divulgado, surgiram muitas manifestações do povo, cobrando outras coisas no local, que não uma praça”, justifica o sócio-fundador da Dobra, Guilherme Massena. “A gente tem no DNA da Dobra transformar a nossa cidade. E nesse projeto do Vale do Acolhimento, nós queríamos alertar a comunidade em relação aos altos índices de abuso sexual e infantil. Seria feito um trabalho nas escolas, mas seria exposto, publicamente, este tema, através da pintura do Largo”.
“Mas o foco da discussão estava sendo tudo isso, do que poderia ser construído ali, com algumas questões políticas surgindo”, continua. “E a gente percebeu que não deveria mais participar do projeto do largo em função disso. Nós procuramos, agora, outro local para poder fazer a pintura e trabalhar em cima, onde o foco seja somente esse, do abuso sexual infantil, que é o tema que a gente resolveu tratar.”
O projeto da nova praça – nomeada “Largo 14 de Julho” – já existia antes do envolvimento da Dobra e da Smile Flame. Conforme a secretária municipal de Indústria e Comércio, Cristiane Gehrke, ele vinha sendo projetado já há alguns meses para ter bancos, brinquedos e um mini palco, tendo alguns dos itens já sido até adquiridos pela Prefeitura. A ideia da parceria foi apresentada para as empresas quando estas procuraram o Poder Público buscando espaço para a sua iniciativa própria.
Diante da desistência dos parceiros e de toda a repercussão negativa, Cristiane quer, agora, oficializar a construção da praça junto ao Legislativo Municipal antes de qualquer ação no local. “Mesmo não sendo necessário, a gente vai abrir um Projeto de Lei para formalizar a construção do Largo. Isso já está andando”, relata. “Eu estou com praticamente todos os projetos em mão e vamos entrar para formalizar a execução. Depois disso, sim, a gente vai fazer um mutirão”, garante.
Construção do novo “Paradão” foi o principal foco do debate
Quando da divulgação do projeto da nova praça, a ideia dividiu opiniões. “Parabéns! Espaços de lazer são sempre bem-vindos”, destacou uma leitora nas redes sociais do Jornal Ibiá. Na outra ponta, houve quem criticasse: “Montenegro precisando de saúde, segurança, estradas boas…e a Prefeitura querendo fazer uma praça”, escreveu outro internauta.
Para cada um que congratulava a iniciativa do Executivo para um novo local de convívio para a comunidade, tinha outro que reclamava da falta de investimentos no Centenário e até do fim do sossego para os vizinhos do local. A crítica pesou, principalmente, quando a viabilidade do largo foi vista como o fim das esperanças de que, naquela esquina, seria construído o tão anunciado novo “Paradão”.
NÃO É BEM ASSIM
Nome popular para o Terminal de Passageiros para as Linhas Urbanas, o “Paradão” funcionava na rua São João, junto a Praça Rui Barbosa, até o fim de 2008. Foi retirado de lá durante a revitalização do local, em uma decisão polêmica que dividiu a opinião da comunidade. Os ânimos foram abrandados com a promessa de que um novo seria construído, justamente nesse terreno na esquina entre as ruas José Luis e Dr. Flores. Ali com banheiros, comércio, bares e espaço para a operação da Diretoria de Transportes e Trânsito.
Era uma obra de quase R$ 1 milhão do governo Percival de Oliveira. Boa parte do valor já havia sido empenhada pelo governo federal, através de emenda do deputado Vilson Covatti (PP), mas as tratativas tinham parado na análise documental junto à Caixa. Nisso trocou prefeito, Paulo Azeredo assumiu a Prefeitura e quis rever a ideia. As verbas da União acabaram sendo perdidas.
E ficou nisso. O atual prefeito Kadu Müller chegou a falar sobre o tema em entrevista ao Ibiá no ano passado, lamentando que o novo “Paradão” não tenha andado, mas reconhecendo que afogar o trânsito na rua José Luis já não seria mais ideal na atual realidade.
“É uma possibilidade trabalhar este projeto em 2018 para executá-lo em 2019. Temos que incentivar o transporte coletivo, principalmente na área urbana”, colocou ele, na época. No entanto, ainda nenhum projeto foi finalizado.