SE LIGA. Muita gente está abrindo negócio próprio pra sair da crise, mas é importante atenção aos detalhes
Tiago Machado, de 32 anos, trabalhava como promotor de eventos em Montenegro e, como muitos, acabou tendo a renda prejudicada em função da pandemia do coronavírus. Ele conta que tinha uma programação financeira para se manter até o fim de maio. Mas como entrou junho e as atividades de seu setor de atuação ainda estavam limitadas, o jeito foi empreender. Tiago começou, primeiro, a vender marmitas e, hoje, tem um delivery de frango frito estilo americano que, aos poucos, está conquistando os montenegrinos.
“Eu tinha viajado para os Estados Unidos há dois anos e eu tinha isso guardado. Comecei devagarinho, fazendo pros amigos. Aí o pessoal gostou e eu fui adiante”, conta. Pensado como uma proposta diferenciada, o “Delivery no Balde” (é no balde que é vendido o frango) demanda ao proprietário todas as fases de preparação, da carne aos diferentes molhos. Exclusivo para a entrega a domicílio – uma tendência forte em tempos de incentivo ao distanciamento social – o produto é entregue por motoboys terceirizados. “As pessoas me perguntam se é o famoso frango americano. Eu digo ‘não, esse é o montenegrino’”, brinca o empreendedor.
Tiago é parte de um crescente grupo de pessoas que, com a renda reduzida por demissão, corte de salário, ou interrupção de atividade, se viu obrigado a empreender. Esse “empreendedorismo por necessidade” é o principal fator do incremento de mais de 46% nos números de aberturas de microempreendimentos individuais (MEI’s) Rio Grande do Sul afora. “E é principalmente no setor de alimentos”, destaca o gerente regional do Sebrae, Marco Copetti. “Desde pão caseiro até rapadura. O que se pode imaginar está se vendendo. É uma característica muito específica da nossa sociedade.”
Para o dono da nova empresa de frango frito, a lógica é clara. “É comida porque a população de Montenegro é de quase 70 mil pessoas e todo mundo tem que comer todo dia”, avalia Tiago. “E elas não vão comer sempre a mesma coisa. Com a pandemia, quem tinha algum dote culinário colocou em prática. Bastante coisa diferente surgiu em Montenegro.” Mas…
…Empreendedorismo é uma ciência. Não mais uma aventura
As palavras de Marco Copetti, gerente a frente do Sebrae nos vales do Caí, Sinos e Paranhana, apontam para a dificuldade de muitos que acabam vendo no empreendedorismo a chance de garantir a sobrevivência. Na pressa por colocar algo para funcionar, planejam mal e, se não fracassam, acabam entrando em uma situação de dificuldade que, por vezes, é até pior do que a em que o empreendedor se encontrava antes de iniciar o negócio.
“Até pra vender pipoca, é importante ter um plano: conhecer o público, conhecer o produto, oferecer produtos que encantem o cliente; ter foco no atendimento, foco na qualidade, capacidade de leitura dinâmica do mercado”, explica o especialista. Em outras palavras, antes de se comprometer com uma linha de atuação, é parar e pensar no que eu sou bom em fazer; se as pessoas gostariam daquele produto; se tem espaço para as pessoas comprarem aquele produto; o quanto eu vou gastar para fazê-lo e vendê-lo; e se o valor de venda é suficiente para que eu tenha um ganho e, ainda assim, consiga competir com o preço da concorrência, que é imprescindível conhecer.
“Três dicas que a gente dá, que são essenciais para o início de uma jornada empreendedora é estar constantemente se aperfeiçoando; inovando no seu serviço e na abordagem do cliente; e se colocando numa condição de diferenciação perante o cliente”, cita o especialista do Sebrae. Para Tiago, proprietário da empresa de frango frito, o diferencial, além do produto novo no mercado local, é o tempo de entrega. Os pedidos são organizados para delivery em intervalos de meia hora, diminuindo uma espera que, no ramo de entregas em Montenegro, costuma variar entre 40 minutos e uma hora. “Isso tá tendo um feedback bem legal. Teve quem me procurou só porque tinha ficado sabendo que era rápido”, conta.
Bom atendimento, o uso correto e efetivo das redes sociais e a criação de uma marca bem desenvolvida também são dicas importantes. Marco Copetti ainda frisa a importância de pedir ajuda. O próprio Sebrae, presente na Sala do Empreendedor de Montenegro, conta com cursos, workshops e ferramentas para auxiliar os empreendedores nesse desenvolvimento – oferta que, hoje, conta com subsídio do Município dentro do programa de retomada econômica. Há grupos locais, como a Confraria das Mulheres Empreendedoras que, voltado a Elas, ajuda a impulsionar pequenos negócios; e a própria internet, que tem muito conteúdo útil para quem se interessar.
É preciso estar atento às transformações!
Um negócio que funcionava bem há cinco anos não é, necessariamente, sinônimo de sucesso agora. Se já havia um forte movimento de transformação dos consumidores, especialmente impulsionado pelo avanço das tecnologias e das redes sociais, a pandemia veio para trazer uma nova consciência de propósito no consumidor. “O nosso empreendedor tem que se preparar para um consumidor que quer mais conforto, mais comodidade, mais conveniência”, destaca o gerente do Sebrae.
Copetti indica que isso vale para quem está começando e precisa focar em pessoas que estão mais em casa, que querem a tele-entrega e que não querem tanto contato físico durante a venda, por exemplo; mas também para quem já tem negócios bem estruturados e teve que se reinventar. “É lava-jato que se recriou fazendo a domicílio, é restaurante fazendo delivery, é cabeleireiro indo em casa. As coisas mudaram e vão mudar mais ainda”, destaca Copetti. O desafio é estar atento e não ter medo de se reinventar!