Através de vídeo, montenegrinas repercutem caso de racismo em escola e buscam conscientização sobre o tema
Com o título “Racismo é crime”, montenegrinas criam vídeo sobre empoderamento negro e promovem debate nas redes sociais. A ideia surgiu após a repercussão do caso de uma menina, de 8 anos, que perdeu a vontade de ir à escola após sofrer ofensas racistas feitas pelas colegas de classe, em Montenegro. A iniciativa é das jovens Jhozy Azeredo e Tifany Silva, que viram na situação uma oportunidade de conscientizar a população sobre o tema.
Compartilhar conhecimento e experiências. Esses foram os objetivos das montenegrinas com a publicação do vídeo feita no Facebook. Com os cabelos soltos – parte da identidade cultural do povo negro – as jovens chamam atenção para a gravidade do racismo, principalmente na infância. “O racismo existe, e a gente não pode tirar isso”, diz Tifany em um trecho do vídeo. “A criança negra, quando passa por racismo, muitas vezes não tem um núcleo que possa ajudar ela”, completou a montenegrina, que ainda compartilhou diferentes experiências que viveu quando menina.
Segundo as autoras do vídeo, que gerou bastante debate nas redes sociais, a falta de representatividade é um dos problemas para que as crianças negras, principalmente as meninas, sintam orgulho das próprias características, além da educação. “Eu tive colegas que não faziam trabalho da escola comigo porque os pais eram racistas e eu não podia ir na casa deles, então a gente nota que isso vem da educação dos pais”, destaca Jhozy. “Uma criança não nasce racista”, acrescenta.
O caso, que motivou as jovens, ocorreu na Escola Dr. Jorge Guilherme Moojen, no bairro Zootecnia início do mês. A direção confirmou o ocorrido e disse se tratar de um desentendimento comum entre crianças, porém, para a família da pequena Brenda, a situação traumatizou a menina que agora teme voltar a estudar. Segundo Andressa Ribeiro Ignácio, mãe da menina, era para ser um dia especial, já que depois de um tempo usando o mesmo penteado, a filha finalmente aceitou mudar o cabelo, mas diferente do que imaginava, foi recebida com risadas e ofensas pelas colegas de classe na escola. É o que afirma a mãe da garota, acrescentando que a filha caiu em prantos e foi amparada por ela.
“A Brenda ia com o cabelo amarrado tipo ‘rabo de cavalo’, mas as meninas riam dela, então ela disse ‘mãe faz coquinho em mim, assim meu cabelo não fica meio solto, senão as meninas ficam rindo de mim’, e não deixou eu fazer outro penteado nela a não ser esse, por vergonha”, relata a mãe da menina, que propôs um penteado diferente a filha. “Ela me olhou e disse ‘mãe não eu não quero, vão rir de mim’, mas insisti, falei que o cabelo dela é lindo que dava pra fazer vários penteados, então a convenci, foi quando fiz as trancinhas que ela até gostou e disse que ficou lindo”, conta Andressa, que foi surpreendida negativamente ao chegar à instituição com a filha.
Ofensas racistas contra Brenda são antigas, afirma a mãe da menina
Conforme o relato da família, a menina sofre com chacotas e bullying desde muito cedo, e no 1º e 2º anos, as professoras eram cuidadosas com a situação. Ás vezes, relembra Andressa Ribeiro Ignácio, era preciso mandar bilhete no caderno explicando que a filha contava o que sofria e, prontamente, as educadoras conversavam com as colegas envolvidas que paravam por um tempo. “São sempre as mesmas”, detalha a mãe da menina, citando que a filha ouvia que o cabelo era feio, entre outras coisas. “Eu sempre tentei conversar com minha filha para não ir mais além, como aconteceu nessa semana, mas elas [as colegas] param por um tempo e voltam a fazer de novo”, lamentou.
O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais e reascendeu o debate sobre o racismo estrutural e suas consequências. De acordo com a diretora da instituição, Simone Nunes, o desentendimento entre Brenda e as quatro colegas começou uma semana antes do ocorrido que ganhou força nas redes sociais, por conta de uma boneca. “A palavra que proferida foi ‘cabelo de cobra’, e a menina que falou também tem cabelo crespo”, enfatizou a diretora, afirmando que não houve comentários racistas por parte das crianças envolvidas. “Foi exatamente como duas crianças brigando chamando a outra de feia, independente de raça e cor de pele, foi isso que ocorreu aqui”, acrescenta Simone, destacando que a questão é mais em relação às características do penteado do que a cor da pele.
Como normas da instituição, as crianças envolvidas foram chamadas e ouvidas, assim como a presença dos responsáveis foi solicitada. “Essa situação é lastimável, não só pelo ocorrido, mas por toda a exposição da imagem da menina”, desabafou Simone. “Sim, o racismo acontece, por isso, a necessidade dos pais educar seus filhos e mostrar que a educação tem que ser igual, independente de como somos, porque o trabalho de casa tem que ser somado com o da escola para que nossas crianças sejam livres de preconceitos”, finalizou.