Em um ano, Bolsa Família cancelou 1.361 benefícios

Dados do programa em Montenegro também mostram 499 bloqueios entre dezembro de 2017 e novembro de 2018

O Bolsa Família foi criado pelo governo federal no ano de 2003. Criticado por uns, defendido por outros, o programa tem por objetivo a superação de situações de vulnerabilidade e de extrema pobreza, combatendo a fome e promovendo o acesso a serviços públicos. Têm direito ao Bolsa, as famílias “pobres” – que têm renda mensal entre R$ 89,01 e R$ 178,00 por pessoa – e as “extremamente pobres” – que recebam até R$ 89,00 por pessoa ao mês.

Hoje, são cerca de 13,9 milhões de brasileiros atendidos em todo o país. O índice varia bastante, principalmente devido ao cruzamento dos dados dos diferentes cadastros utilizados pelo programa. Como é tudo automático, se as informações prestadas pelo beneficiário no momento de seu cadastro não baterem com o que consta no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ou com as informações do Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, o valor acaba bloqueado para averiguação ou pode até ser imediatamente cancelado. Até mesmo as escolas enviam informações ao sistema e, caso o jovem da família beneficiada falte muitas aulas, ocorre a suspensão do benefício.

Só em Montenegro, de acordo com informações do Cadastro Único – órgão que, dentre outras funções, recebe os beneficiários para coletar dados e pedir o benefício – em um ano, 1.361 cadastros do Bolsa Família foram cancelados. Neste período – entre dezembro de 2017 e novembro de 2018 – 499 benefícios acabaram bloqueados e 449 concessões foram feitas. Ao final de dezembro, o Município contava com 1.766 famílias no programa que, ao todo, recebiam o montante de R$ 294.803,00.

Se engana, portanto, quem acha que é alto o valor pago pelo Bolsa aos beneficiários. A média, em dezembro, era de apenas R$ 166,93 por família. Mesmo quem se encaixe em todos os critérios de benefício – seja extremamente pobre, tenha gestantes, adolescentes e recém nascidos na família – o valor pago não passa longe de R$ 400,00. “É um programa para as famílias em situação precária, para o resgate da cidadania do trabalhador”, defende a educadora social Carliane Pinheiro. “São muitas mulheres que administram o Bolsa. A maioria é a chefe da família e essa é a única renda dos filhos”.

Prefeito Kadu Müller sugere que beneficiados passem a trabalhar nos serviços do Município
Na mais recente visita à Brasília, no mês passado, Carlos Eduardo Müller (Kadu) esteve em reunião sobre o programa do Bolsa Família. Junto do Ministro da Cidadania, Osmar Terra, o prefeito de Montenegro apresentou um projeto que, segundo ele, busca reinserir os beneficiados pelo programa no mercado de trabalho.

A ideia é colocar as famílias beneficiadas pelo programa em serviços a serem realizados pelo Município, como as manutenções e limpezas de vias públicas e de praças. De acordo com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura, “o Ministro recebeu a intenção da demanda para apreciação e possíveis encaminhamentos para a evolução da proposta”.

No cadastro, dados são autodeclaratórios
Conforme o gestor do Cadastro Único em Montenegro, Dieimeson Athaide Alves, apesar de haver um canal de denúncia para irregularidades, é pela “conversa” entre os diferentes sistemas e cadastros que os benefícios do Bolsa Família acabam entrando em revisão. Na maioria dos casos, as famílias recebem uma notificação e precisam procurar o Cadastro para resolver o problema e, com sorte, voltar a receber o valor. “Se ele veio e disse que não trabalhou nos últimos doze meses, mas aí aparece no CAGED que ele trabalhou, já cai para averiguação”, exemplifica.

No Cadastro, servidores como Arseno Ody realizam as entrevistas. Cada atendimento leva cerca de 45 minutos

Seja para solicitar o Bolsa pela primeira vez ou atender algum chamado de averiguação, o Cadastro Único vem trabalhando por agendamento. A pessoa liga no telefone (51) 3649-4564 e agenda a entrevista, que não passa de 45 minutos. O tempo médio entre a marcação e o atendimento tem sido de uma semana. No momento do cadastro, é tudo autodeclaratório – o órgão nem mesmo tem autorização para ficar com qualquer documento do beneficiário -, apenas com a inclusão da pessoa no sistema.

Para quem perde, o programa faz muita falta
Dentre os excluídos do Bolsa Família no período levantado estava a família da dona de casa Janete Pereira. Ela vive na Vila Esperança e divide a casa com outros seis membros da família. Cinco são d

A filha, Andressa, e a mãe, Janete. Por alguns meses, família da Vila Esperança ficou sem o benefício e precisou de doações para se manter. FOTO: ARQUIVO/IBIÁ

e menor. Por problemas de saúde, ela não trabalha. Só um dos integrantes do grupo que tem emprego, cuja renda é de cerca de R$ 200,00 por semana.

A filha, Andressa, acredita que foi alguma disparidade na comprovação da renda que levou ao cancelamento. O benefício já foi recuperado, ela conta, mas nos meses em que o Bolsa não chegou, a situação foi bem difícil. “A minha tia que conseguir umas doações para nós, de comida e coisa. Foram nossos parentes que nos ajudaram”, relata. Com tão pouco, o valor faz bastante diferença.

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