Em três dias, três bancos são atacados no Vale do Caí

Sob ataque. Ontem, agências em Maratá e Barão foram alvos. No sábado, ação semelhante foi em São Sebastião do Caí

Uma série de assaltos a bancos deixou em alerta a população do Vale do Caí. Num período de 72 horas, três agências foram atacadas em diferentes cidades. Os ataques mais recentes foram na madrugada de ontem, quando uma agência do Banrisul foi alvo dos bandidos em Maratá e outra do Sicredi foi atacada em Barão. Antes, no sábado, criminosos arrombaram os caixas eletrônicos do banco Santander de São Sebastião do Caí.

quadrilha jogou miguelitos na entrada da cidade, dificultando aproximação da Brigada Militar do local onde ocorreu a explosão

A ação criminosa em Maratá aconteceu por volta das 1h50min de segunda-feira e teve duração aproximada de oito minutos. De acordo com os soldados Jorge e Silveira, que formavam a guarnição da patrulha integrada (que faz rondas em Maratá, Brochier e Pareci Novo), uma cidadã furou os pneus do seu carro em miguelitos largados pelos bandidos no pórtico de entrada do município, na ERS-411, e avisou a Brigada Militar. Logo na sequência, teria ocorrido a explosão na agência do Banrisul.

Testemunhas relataram que cinco homens teriam efetuado o roubo. Três deles estavam armados com fuzis e outros dois seriam os responsáveis pela instalação dos explosivos. Os criminosos transitavam numa Chevrolet Spin da cor branca. Os dois caixas eletrônicos foram danificados. A explosão deixou a parte da frente da agência totalmente destruída. O vidro da fachada do banco foi quebrado. Neste ataque, eles obtiveram sucesso e conseguiram levar dinheiro dos caixas, mas o valor não foi informado pela Polícia Civil.

“Isso não se divulga, pois acaba sendo um chamariz”, comentou a delegada Cleusa de Oliveira Spinato, que nesta semana responde pela Delegacia Regional da 1ª Região Policial. A guarnição de Maratá, que teve que fazer a volta por Vila Nova para chegar na cidade em razão dos miguelitos, contou com o apoio de viaturas de Montenegro e Salvador do Sul na busca pelos criminosos. Durante essa operação, eles foram informados de que o Sicredi de Barão também foi atacado.

Em Barão, dano nos caixas eletrônicos não foi o suficiente para explodir a máquina. Bandidos saíram de mãos vazias do local

Em Barão, criminosos não tiveram sucesso
O ataque nesta segunda cidade ocorreu por volta das 2h40min. Por estradas vicinais, 27 quilômetros separam os dois municípios. De acordo com o delegado Paulo Ricardo da Costa, a ação na agência do Sicredi não passou de uma tentativa, já que os bandidos não obtiveram êxito na hora de explodir os dois caixas eletrônicos. Assim como ocorreu em Maratá, os assaltantes estavam armados e também possuíam fuzis, além de terem jogado miguelitos para evitar que o policiamento chegasse.

Responsável pela Regional durante as férias do titular Marcelo Pereira Farias, a delegada Cleusa diz que tudo indica que a mesma quadrilha realizou os ataques em Maratá e Barão. “O modus operandi é semelhante e o carro seria o mesmo”, disse. Ela salientou que os casos serão investigados pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Inclusive, que esteve ontem nas duas cidades, bem como técnicos do IGP.

No Caí, ataque foi diferente dos demais
Por volta das 2h de sábado, a agência do Santander em São Sebastião do Caí foi atacada por criminosos. Segundo a Brigada Militar, o banco, que fica no Centro da cidade, estava com a porta da frente aberta, facilitando a ação dos ladrões. Os quatro caixas eletrônicos foram arrombados. A quantidade de dinheiro furtada não foi revelada.

De acordo com a titular da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de São Sebastião do Caí, Cleusa de Oliveira Spinato, é necessário averiguar o que de fato aconteceu no local. Ela aponta que não havia sinal de arrombamento na porta da agência. “Eles apenas arrombaram a parte superior de um dos caixas para acessarem a parte interna”, destaca. Uma vez na área por onde é feito o abastecimento das máquinas de autoatendimento, os bandidos utilizaram equipamentos para fazer furos nas aberturas das travas e terem acesso ao dinheiro. Assim como em Maratá e Barão, o caso será investigado pelo Deic.

Brigada Militar cobre três cidades com apenas dois PM’s
O comando da Brigada Militar (BM) no Vale do Caí não pode falar em números, mas é certo que o déficit de efetivo é um problema real. Ontem, o major Iber Augusto Lecina Giordano, comandante interino do 5º BPM, confirmou apenas que dois policiais patrulham Maratá, Brochier e Pareci Novo. O mesmo sistema se repete em Barão, São Pedro da Serra, Salvador do Sul e São José do Sul, com uma viatura somente. São as chamadas guarnições intermunicipais.

O oficial concorda que isso não é o ideal, mas é o que a corporação pode fazer no momento. “O bom seria uma viatura por cidade. A ideia do governador é, até o final do ano, ter cinco PM’s por cidade”, observou. Todavia, essa estratégia deve ser frustrada no Vale do Caí, uma vez que não existe designação de reforço no efetivo.

Dos novos agentes que serão formados no próximo dia 20, nenhum deve ser enviado. Giordano explica que a região deve ser beneficiada somente com as transferências internas. “Depende de alguém querer vir trabalhar nesta região”, explica. Na verdade, esse sistema, que já iniciou, acabou tirando mais cinco policiais daqui para Passo Fundo.

Ação em São Sebastião do Caí também será investigada pelo Deic

O major não acredita que essas últimas ocorrências (incluindo o assalto à Taqi) possam influenciar em uma mudança de decisão do governo pelo aumento do efetivo. Ele avalia que, para o Vale, os crimes foram bastante significativos, mas em comparação com outras áreas de maior violência, como a Metropolitana, isso não foi nada. Quanto às quadrilhas, em especial sua origem, Giordano disse que seria mera suposição apontar qualquer coisa.

Quanto à teoria dos ataque cíclicos – segundo a qual os criminosos migram de uma região para outra dentro do Estado – o oficial também não se posicionou. Da mesma forma, não ratificou a hipótese de tão cedo o Vale sofrer novos ataques desta magnitude. “Se eu disser isso, será irresponsabilidade minha. Daí as pessoas relaxam, ficam tranquilas, e acontece outro ataque”, observou.

Sensação de insegurança toma conta dos moradores
“Não tem o que fazer. Tem que olhar e deixar”. É com essa frase que Francisco Haubenthal, 60 anos, descreve a sensação de impotência diante da ação de bandidos. Franz, como é conhecido, mora ao lado do prédio que abriga a agência atacada em Maratá. Ele recorda que foi acordado com o barulho da explosão. Olhando de sua casa, o empresário viu três indivíduos fortemente armados na rua e outros dois dentro da agência. “Foi vapt-vupt e já foram embora”, relatou.

Franz lembrou que há cerca de dois anos houve uma tentativa de assalto no mesmo banco. Naquela ocasião, o morador gritou, dizendo que a polícia se aproximava e isso fez com que os criminosos fugissem. “Desta vez, não tinha o que fazer”, lamentou.

Morando na residência que fica em cima do banco atacado, Rodrigo de Moura, 38 anos, disse que acordou com os criminosos quebrando o vidro da agência. Da janela do seu banheiro, observou a movimentação da quadrilha. Segundo ele, depois da explosão, os ladrões precisaram de menos de dois minutos para recolherem o dinheiro e fugirem. O advogado recorda que, antes da explosão, buscou abrir as janelas de sua casa para minimizar o impacto e que se refugiou com a família num espaço aberto da casa para se proteger caso os vidros quebrassem e também para fugir do choque da explosão. Felizmente, nenhum vidro foi quebrado e não houve feridos. O único dano aparente no prédio é um calombo na parede próxima de onde ficavam as máquinas de autoatendimento.

Rodrigo salientou ainda que sempre que algum morador das redondezas gritava, um dos assaltantes dava tiros para o ar. “O sentimento é de insegurança, principalmente pela falta de brigadianos”, afirmou. O fato da área de cobertura da patrulha abranger Brochier e Pareci Novo, que ficam distantes 35 quilômetros e por onde há áreas sem sinal de celular, preocupa mais.

O Número
7 Cidades foram alvos de ataques a bancos nos últimos quatro dias. Além de Maratá, Barão e São Sebastião do Caí, também foram registrados assaltos em agências bancárias em Progresso, Jari, Caxias do Sul e Porto Alegre.

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