Presente e futuro do Balneário Municipal foram debatidos no Estúdio Ibiá de quarta-feira
O cenário é lamentável e preocupante. O atual Balneário Municipal Afonso Kunrath, mais conhecido como Baixio, não lembra em nada o lugar que, até alguns anos atrás, era um dos espaços de lazer mais frequentados pelos montenegrinos. Quem visita a sede do Baixio acredita que um furacão passou por ali recentemente. E não é para menos, a situação do local, hoje, é de abandono.
Na última quarta-feira, 6, o programa Estúdio Ibiá, da Rádio Ibiá Web, recebeu o diretor de Turismo do Município, Jaime Büttenbender; o soldado Ricardo Mattos, do Corpo de Bombeiros de Montenegro; a gestora da Corsan em Montenegro, Silvani Inês Scheid; e o presidente da União Montenegrina das Associações Comunitárias (Umac), Antônio Airton Quadros. Eles debateram o presente e o futuro do Balneário Municipal de Montenegro, que não tem previsão para ser reaberto à população.
Se a revitalização do Baixio ainda não tem data para sair do papel, a ponte que dá acesso ao local está quase pronta. Durante o programa dessa quarta-feira, o diretor de Turismo, Jaime Büttenbender, afirmou que as obras da ponte devem ser concluídas em 45 dias, ou seja, na segunda quinzena de novembro, praticamente 100 dias após a previsão anterior do Município.
Em abril deste ano, o secretário de Gestão e Planejamento da Prefeitura de Montenegro, Fabrício Coitinho, salientou que a intenção da Administração é recuperar o balneário e sua estrutura, a área de banho, e adicionar equipamentos para o lazer e o convívio das pessoas. Além disso, o secretário disse que o local pode ser concedido à iniciativa privada. “Queremos trabalhar, principalmente, na parte público-privada. O acesso já está limpo, será feita uma repaginada na parte da vegetação, e depois será tratado como será feita a revitalização dos prédios”, acrescenta Jaime.
O diretor de Turismo anunciou que o Município desenvolveu e encaminhou um projeto “mirabolante e muito bonito” de revitalização do local, mas o alto custo (de R$ 1 milhão a R$ 1,5 mi) afasta a possibilidade de esse projeto ser contemplado na emenda parlamentar de algum deputado federal. “Estamos trabalhando e lutando para tentar conseguir emendas pelo Turismo, mas ainda não há nada concreto”, acrescenta.
Preocupado com a população de baixa renda que não tem condições de ir ao Litoral no Verão e tem como única opção o Baixio, Airton Quadros admite que fica temeroso caso a iniciativa privada assuma a gestão do local. “Muitos de nossos munícipes têm muito pouco para comer, e onde a iniciativa privada entrar, ela não irá trabalhar de graça. Tenho medo que um morador não possa descer de bicicleta com a esposa e o filho para passar a tarde no balneário, porque ele não tem como pagar lá na porteira. É o único receio que tenho”, pondera.
Em contrapartida, Jaime frisa que, neste caso, o espaço continuará sendo uma área pública, mas o empreendedor irá trazer empregos para a cidade, qualidade de vida para o cidadão e transforma uma cidade turisticamente. “Há maneiras de explorar essa questão, e uma delas é fazer o contrato. Por exemplo, se o cidadão entrar, quiser tomar um banho de rio e treinar, ele não irá pagar por isso. Agora, se o cidadão quiser tomar a bebida do comerciante, usar a mesa que ele colocou e usar a infraestrutura dele, o cidadão deve dar uma contrapartida”, especifica o soldado Mattos, do Corpo de Bombeiros de Montenegro.
Água está imprópria para banho no local
Entre os inúmeros problemas atuais do Balneário Municipal, está sua balneabilidade. Há mais de três anos, as águas do Rio Caí se tornaram impróprias para banho no local, seja pela quantidade de barro, de coliformes fecais, ou por não haver demarcação no trecho. Inclusive, o Corpo de Bombeiros tinha um salva-vidas no local até o momento em que a qualidade da água foi considerada imprópria para banho. “O espaço não era tão movimentado. O pessoal bate, bate, bate na Prefeitura, quer que o Município faça altos investimentos lá (no Baixio), mas nos finais de semana, tinham três, cinco pessoas no local. Durante a semana não havia nenhum acesso. Esses são relatos de salva-vidas nossos que trabalhavam lá. Para investir ali, tem que investir forte e ter um retorno, caso contrário esse investimento se torna ineficaz”, declara o soldado Mattos, do Corpo de Bombeiros de Montenegro.
Durante o programa, ele falou ainda sobre a Lei 14.201, de 2013, que trata do acesso e das necessidades de segurança por parte do ente privado, e também sobre a Lei 8.676 de 1988, que versa sobre as necessidades do local do ente público. “A cada 150 metros, é necessário ter um salva-vidas. A área de banho precisa ser demarcada e, nesse espaço, não pode ter circulação de jet ski, lanchas e barcos”, complementa.
A presença de um salva-vidas do Corpo de Bombeiros passa diretamente pelo local ser balneável ou não. Se puder tomar banho e houver guaritas, materiais e toda a estrutura necessária, o Corpo de Bombeiros pode ser solicitado, para fornecer salva-vidas para o local. “O nosso rio tem muito barro, ali – no Balneário Municipal – não é o melhor lugar para banho por causa disso também”, frisa o soldado Mattos.
O número de bactérias encontradas na água é outro fator que torna o local impróprio para banho. As resoluções n° 274/2000 e n° 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) trazem o limite de bactérias que podem ser encontradas. Silvani Scheid, gestora da Corsan em Montenegro, explica como é realizada esta análise. “Durante cinco semanas consecutivas, precisamos fazer uma coleta no mesmo ponto e, dessas cinco análises, 80% delas (4) precisam ter, no máximo, 1000 bactérias em cada 100 ml de água”, esclarece.
Silvani salienta que há muita variação nesses dados, principalmente por causa das chuvas, que “lavam” as ruas da cidade e carregam, para dentro do rio, excrementos de animais, lixo e toda sujeira depositada pela população. “O rio recebe uma carga orgânica bem alta e, consequentemente, vai aumentar o número de bactérias. É muito variável. Num período de estiagem, o numero é bem baixo. Quando chove, aumenta”, acrescenta.
“Temos que pensar como sociedade”
A reabertura do Baixio não depende da balneabilidade no local. Porém, a utilização do espaço ainda parece um sonho distante, tendo em vista que, da estrutura atual, sobra somente a carcaça, como disse o diretor de Turismo no programa Estúdio Ibiá. A reforma do espaço será, praticamente, uma obra que começará do zero, resultado de anos de abandono.
Apesar disso, é possível projetar o futuro do Balneário Municipal. Durante o bate-papo dessa quarta-feira, o soldado Mattos, do Corpo de Bombeiros de Montenegro, enfatizou que o local possui um bom campo de futebol e uma quadra – que atualmente deve estar coberta pelo matagal – onde as pessoas utilizavam para ouvir músicas. “Antes de pensar em banho, questão que já vem de muitas outras gestões, devemos pensar no macro da coisa, no uso do Balneário como um ponto de turismo, um parque”, sugere.
Jaime Büttenbender confirma que, inicialmente, o Baixio será um local apenas para esporte e lazer. “Vai demorar muito para virar um balneário de novo, pois existem muitos fatores, não depende da gente. O grande problema de Montenegro é a falta de continuidade dos projetos. Por exemplo, a ponte que está quase concluída, a verba seria perdida no começo do ano, se não tivéssemos ido atrás”, afirma.
“Temos que pensar como sociedade, num macro, porque hoje a sociedade está dividida em só cobrar e não fazer sua parte. Muitos fazem, não podemos generalizar, mas ter a Prefeitura como um problema também não é certo. Dá para fazer um trabalho unido, aceitar que a gestão é nova e projetar o passo que será dado para o próximo ano”, reitera o soldado Mattos.
Presidente da Umac, Airton Quadros lamenta a impossibilidade de tomar banho no Baixio, mas se mostra otimista com a reabertura do espaço em médio prazo. “Há uma preocupação porque temos o impedimento de tomar banho no local pelo alto índice de coliformes fecais na água do Rio Caí. Pagamos a conta dos nossos vizinhos também, pois o rio vem da Serra. Em breve, a ponte já estará funcionando de novo. O Balneário é do povo para o povo, houve desleixo em administrações passadas, mas graças a Deus estamos trazendo ele de volta”, projeta.
“Nossas obras sempre tiveram percalços. Elas (empresas) aceitam um valor no início e depois querem aditivos. Não é fácil lidar com licitação, nunca foi. Nem sempre a Prefeitura é culpada. A Umac está sempre mostrando onde dá para melhorar, tentando ajudar. E o Corpo de Bombeiros está à disposição, sempre de portas abertas para ajudar”, finaliza Mattos.