Em reconstituição, morte de Marcelinho tem cinco versões

Reprodução simulada ocorreu ontem no bairro Santo Antônio

Na tarde de ontem, quinta-feira, 30, aconteceu a reconstituição de um dos casos de maior repercussão em Montenegro. A morte do jovem Marcelo Júnior dos Santos Teixeira, o “Marcelinho”, de 18 anos, ocorrida no início da madrugada de 10 de janeiro de 2021, um domingo, no bairro Santo Antônio. Ele foi atingido com um tiro quando estava na carona de uma moto Honda CG 150 Fan.

Pela manhã, peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) ouviram as cinco versões que foram apresentadas, com base em declarações do condutor da moto, testemunha e dos policiais que participavam da guarnição que efetuou a barreira policial. Já no início da tarde, algumas ruas, como Waldemar Pedro Steffen e Getúlio Vargas, foram bloqueadas pela Brigada Militar, para a realização da reconstituição.

A movimentação chamou a atenção dos moradores. Mesmo assim, dona Edith Fagundes Teixeira Dutra, de 73 anos, preferiu não sair de casa. Avó de Marcelinho e com quem o neto morava, ela se emociona ao lembrar do rapaz. “Era um guri bom, muito trabalhador. Para mim, ele não morreu. Está vivo no meu coração”, diz, sem esconder as lágrimas. “Só queremos justiça e que tudo seja esclarecido”, completa.

Peritos comandaram a reconstituição ontem no bairro Santo Antônio

Filho de Edith e pai de Marcelinho, o comerciante Marcelo preferiu não falar e não foi na reconstituição. Sua esposa e madrasta de Marcelinho esteve presente. Rafaela da Silva espera que seja apurada a verdade do que aconteceu de fato. Já a advogada da família da vítima, Roberta Luiza Nogueira, diz que os depoimentos são bem controversos, citando questões como velocidade, colocação dos veículos e envolvidos, e prestação de socorro. Ela lembra que os dois jovens não tinham antecedentes criminais. Marcelinho morreu antes de chegar ao Hospital Montenegro.

A advogada do condutor da moto, Gabriela Flores, diz que visa demonstrar que os jovens não tinham envolvimento com o tráfico de drogas, negando que estivessem com sacola de entorpecentes e balança de precisão. “Temos imagens do posto de combustíveis mostrando que os meninos não tinham nada com eles, exceto o refrigerante que tinham comprado. Ao lado de Victor Matheus Domingues, de 20 anos, que dirigia a moto e preferiu não falar, a advogada frisa que o objetivo é ajudar a elucidar os fatos. “Esperamos ter logo uma resolução dessa situação. A elucidação é importante para trazer estes pontos controversos entre as versões apresentadas pela Brigada Militar, do Vitor e da testemunha”, declara.

Testemunha do caso, André Assis lembra que foram efetuados dois tiros

Testemunha dos fatos e morador próximo, André Assis diz que passava pelo local e parou quando viu a moto em fuga, perseguida por uma viatura. “Vi darem dois disparos. Depois os meninos dobraram na esquina em direção à Esquina da Sorte”, recorda, negando que tenham tocado a moto na direção dos policiais e que estivessem com alguma sacola ou mochila. A barreira policial ocorreu na rua Waldemar Steffen e depois de baleado nas costas, Marcelinho acabou caindo da moto na Rua Getúlio Vargas.

A promotora de justiça, Maristela Schneider, que será a responsável pela denúncia, também acompanhou a reconstituição. “O Ministério Público acompanhou a realização e aguardará o final das investigações e conclusões da perícia”, declara.

Para os advogados de defesa dos policiais que participaram da ação, a reconstituição vai corroborar com as afirmações, desde o momento inicial, que são colocadas pelos policiais. “Policiais íntegros, de uma guarnição composta por três militares sem qualquer mácula. Vai elucidar que a ação policial foi legítima”, ressaltam os advogados Marcus Peçanha Machado e Maurice Peçanha Machado. “Foi uma ação em legítima defesa de suas vidas, no desempenho da atividade profissional, combatendo o crime que assola a sociedade”, afirmam. “Houve uma tentativa contra a vida e integridade física dos policiais, que foi revidada de acordo com os dispositivos legais correlatos”, completam.

Conclusão do inquérito
Na época do fato, o condutor da moto relatou que não parou porque estava sem carteira de habilitação. Já os policiais declararam que a dupla não obedeceu a ordem de parada, chegando a cruzar o sinal vermelho e trafegar em alta velocidade, e que teria sido encontrada uma sacola com drogas (39 pedras de crack e 130 gramas de maconha) e balança de precisão nas proximidades, além de a moto ir de encontro à guarnição durante a barreira policial.

Delegado André Roese e promotora Maristela Schneider

O delegado André Roese destaca a importância da reconstituição para verificar as versões do caso. “O inquérito está em fase final e depende da reconstituição”, ressalta o delegado, que agora aguarda os laudos do IGP. “Com essa análise dos detalhes do que ocorreu, a perícia poderá nos dar um indicativo de como se deu efetivamente os fatos”, afirma, sem dar uma previsão de quando o inquérito será finalizado e entregue para a Justiça.

A Brigada Militar, através do Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Vale do Caí (CRPO), também instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta dos dois policiais que efetuaram os disparos. Suas armas foram recolhidas para a perícia. Eles participaram da reconstituição. O IPM foi encaminhado para o Tribunal Militar e para Justiça, chegando às mãos do Ministério Público.

Dona Edith, com quem o neto morava: “Ele continua vivo no meu coração”

Caso de repercussão
O caso gerou grande repercussão e comoção em Montenegro. Familiares e amigos chegaram a realizar uma manifestação, com passeata no Centro, pedindo por justiça. Natural de Farroupilha, Marcelinho morava desde criança em Montenegro. Trabalhou com o pai, que é dono de um mini-mercado, e depois numa mecânica. Também estudava à noite no Ensino Médio. A avó Edith diz que o neto não costumava sair à noite, exceto para jogar futebol, que era uma de suas paixões, e para visitar a namorada. “Só queremos justiça”, conclui ela.

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