Em Muda Boi, buraco põe oito residências em risco

Com erosões constantes, muitos já perderam parte de seus terrenos para o buraco, que segue aumentando diariamente

Maria de Lurdes Gomes chegou
a fazer até um abaixo-assinado

“Quando chove, eu deito com medo da casa desmoronar em cima de mim.” O desabafo da agricultora Maria de Lurdes Gomes, que mora na “Vila do Adão”, na localidade de Muda Boi, revela a preocupante realidade dela e de seus vizinhos. Nos fundos de sua casa, o buraco provocado por uma sanga se alarga cada vez mais por conta da erosão. Chegou a derrubar um chiqueiro, onde Maria criava alguns porcos e agora está, em um trecho, a menos de três metros de alcançar a casa.

São oito famílias diretamente atingidas pelo problema. A situação se estende já há quase dois anos, quando um açude particular foi fechado em uma região mais alta, não permitindo a vasão da água que forma a sanga. O caso se agravou, no entanto, com uma enchente que atingiu o local no mês de junho, abrindo a caixa e desmoronando parte dos terrenos.

Hoje, a cada chuva, um novo pedaço de chão se perde no buraco. Um espaço antes utilizado para o plantio de pasto, no pátio de Maria de Lurdes, já não existe mais. “Eu tinha uns bichos tão bonitos aqui, agora nem tem como ter”, relata. Os porcos e galinhas de sua propriedade acabaram sendo vendidos.

Chegando cada vez mais perto das casas, buraco é preocupação constante

Maria vive ali há 23 anos com o companheiro. O filho mora em uma casa na frente, no mesmo pátio. Preocupada, ela luta constantemente pela solução do problema. Perde as contas de quantas vezes já foi até a cidade pedir ajuda para a Secretaria de Habitação, a Secretaria de Meio Ambiente e a Defesa Civil. “Só prometem que no outro dia vêm dar um jeito, e nada de ninguém vir. Amanhã ou depois, vou perder o terreno, vou perder tudo. Daí é tarde”, aponta.

A moradora conta que um engenheiro agrônomo da Prefeitura chegou a visitá-la para fotografar o local. “Mas só tirar foto e não mandar uma máquina, um aterro, não adianta”, coloca. Ele não recebeu, até hoje, o retorno desta análise. Em recente contato com a Defesa Civil, lhe sinalizaram uma visita para declarar o pátio como uma área de risco, forçando-a a uma realocação. Contudo, mesmo com um possível auxílio para o aluguel, Maria não quer sair do local que a acolheu há mais de duas décadas. Espera, sim, uma solução efetiva para o problema.

Sem ações corretivas, erosão aumenta cada vez mais

Oito famílias estão sendo prejudicadas pela erosão na localidade

Outra que vive na mesma situação é a moradora Raquel de Oliveira. Apesar de o marido ter colocado alguns sacos de areia para conter a erosão, o estado da casa em que moravam assustou. “Olhando pela janela, dava pra ver as pedras dos alicerces já aparecendo”, conta. Tiveram, então, que construir uma nova casa mais à frente, no mesmo terreno, para evitar acidentes. Constantemente, a cerca dos fundos precisa ser realocada, conforme pedaços do terreno são perdidos dentro do buraco.

Mais abaixo, na mesma rua, alguns pátios foram abandonados pelos moradores que, após as erosões, foram obrigados a se mudar. Apesar da seriedade do problema, Maria de Lurdes tira forças para brincar com a situação. “Tinham que chamar aqui de Vila do Buraco, não Vila do Adão”, comenta. A indignação é um sentimento constante. “Por que é que nós votamos se não dá pra contar com ninguém? Não dá pra gente se calar. Alguém tem que dar um jeito.”

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura (Acom) informou que uma equipe da Secretaria Municipal de Viação e Serviços Urbanos (SMVSU) foi até o local para uma análise e, após a verificação de que o terreno onde passa a sanga é particular, encaminhou a situação para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural (SMDR). Essa, por sua vez, apontou que já sabia da situação, pois fez reconhecimento com o engenheiro agrônomo na localidade.

A SMDR, após a entrevista do Jornal Ibiá com as moradoras, fez nova visita na sexta-feira, assumindo compromisso de uma solução. Alegam, no entanto, que precisam aguardar que o tempo melhore e que o chão esteja completamente seco para que haja a intervenção. Enquanto a chuva não cessar por completo, a espera e o medo na Vila do Adão seguirão como parte da rotina dos moradores, que olham para o céu e rezam quando surgem nuvens de tempestade.

Últimas Notícias

Destaques