Em meio à pandemia, cerca de 20 famílias recebem ordem de despejo

Há mais de um ano no local, moradores têm 15 dias para recorrer ou sair da área

Direito fundamental pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a moradia é ainda o sonho de muitas pessoas que não têm condições financeiras para a sua compra ou aluguel. Em Montenegro, esse problema social é evidenciado por mais de 20 famílias que há mais de um ano vivem em um terreno na rua Doutor Gilberto Seelig (mais conhecida como João Corrêa), no bairro Senai.

O local onde a pequena comunidade foi criada pertence à Prefeitura Municipal, e é uma área de preservação permanente, visto que o trecho é cortado pelo Arroio São Miguel. Desse modo, não poderia haver edificações no espaço. Sem ter para onde ir, a população que ali vive recebeu a ordem de despejo e reintegração de posse nessa terça-feira, 4. Os moradores têm agora 15 dias para recorrer da decisão ou sair do local.

Uma das primeiras a chegar ao terreno, a jovem Luana da Silva lamenta pela situação. “Simplesmente vieram e largaram o papel pra nós. É bem complicado aqui pra nós que não temos condições de pagar aluguel”, diz. Sem emprego fixo, e com um bebê, Luana declara que está na lista da secretaria de Habitação da Prefeitura para receber um lar do Município, porém até o momento nada de ser atendida.

Ana Lucia Villas Novas, também está na espera da casa do Município, e enquanto isso se conforma com a pequena moradia de madeira que construiu na área. “A minha casa é bem ruim, chove, tem goteira, mas pelo menos não to pagando aluguel”. Sua única renda é fruto do auxílio do governo para a filha, e segundo Ana Lucia quando elas viviam de aluguel a comida faltava na mesa.

Luana da Silva e a filha moram em uma casa improvisada de madeira

“A gente entende o lado deles, mas eles têm que entender o nosso também”
Com casas simples e de madeira, grande maioria na ocupação não possui emprego fixo, e por isso não tem renda. Gustavo Varella é um dos únicos com a carteira assinada. Mesmo assim, ele comenta que com o dinheiro não consegue sustentar a família. “A minha renda dá cerca de 700 reais, mas não da pra nada”, fala.

Com esposa e filho pequeno, Gustavo comenta sobre a situação de todos. “Como não tinha onde morar, a gente entrou e pegamos um pedacinho pra cada um, porque não tem condições de pagar um aluguel. A gente tem família e as coisas apertam, muitas vezes deixa de fazer uma coisa para fazer outra, então não dá”, fala.

Segundo ele, o terreno anteriormente era usado como depósito de lixo da população e não havia placas e nem cercamento evidenciando que a área era de preservação ambiental. “Eles já deram essa ordem de despejo, só que eles não estão pensando para onde a gente vai. Se eu sair daqui vou abrigar ela (esposa) e meu filho onde? Embaixo da ponte? Ainda mais com essa pandemia que está aí…”, indaga.

Os moradores ainda citam a situação dos índios no bairro Centenário, questionando porque com eles não pode haver nenhuma solução. De acordo com eles, caso a Prefeitura ofereça outro local irão de bom grado, porém precisam de uma certeza. “Nós só queremos um lugar para morar, não estamos fazendo crime nenhum. A gente entende o lado deles, mas eles têm que entender o nosso também. Não somos um animal e não estamos prejudicando ninguém, só queremos um canto para morar”, conclui Gustavo.

Perguntas sem respostas
Na tarde de quarta-feira, 5, a reportagem do Jornal Ibiá encaminhou questionamentos para a Prefeitura de Montenegro, porém às 17h20min de quinta, 6, a Assessoria de Imprensa do Executivo informou que, por se tratar de uma pauta que envolve diversas secretarias, não seria possível responder a tempo do fechamento da edição do Ibiá desta sexta-feira, 7.
Confira as perguntas enviadas:

– Desde quando a Prefeitura tem o conhecimento dessas ocupações?
– Algo foi feito para que a ocupação não aumentasse?
– Segundo os moradores, ninguém da Prefeitura comentou que o local é área de preservação permanente, e nem conversou com eles antes. Somente tiveram equipes tirando fotos na área. A informação é verídica?
– Eles foram avisados antes da necessidade de sair do local?
– Houve alguma denúncia?
– Esse pedido do Município foi realizado durante a pandemia?
– No documento foram dados 15 dias para a desocupação, ou eles serão retirados do local. A Prefeitura tem alguma pretensão de ajudar essas famílias?
– Há alguma possibilidade de a Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania disponibilizar outro local para essas famílias morarem, já que muitos têm crianças pequenas e não possuem condições de pagar aluguel? Se sim, onde será? Como será feito essa mudança?
– Qual a posição da Administração quanto o assunto?

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