Apesar de todas as políticas públicas de conscientização, os índices de contágio seguem altos, sem grandes diferenças entre homens e mulheres
Mesmo existindo desde 1996 um Programa Municipal de Infecções Sexualmente Transmissíveis HIV/Aids, foi em junho de 2013 que os primeiros lotes do teste-rápido chegaram a Montenegro, dentro de uma campanha do Ministério da Saúde. Com a facilidade do exame e a intensificação da divulgação, foi possível um maior controle de contágio, com os diagnósticos do HIV e também da Aids. O índice, que em 2013 era de 37 por ano, com os testes, pulou para 89. Desde então, ele segue quase constante. De lá até o ano passado, têm sido feitos, em média, 79 diagnósticos por ano.
O HIV é um vírus que destrói o sistema imunológico do corpo e é transmitido, principalmente, por meio de relações sexuais desprotegidas. É esse vírus que pode causar a Aids uma síndrome que ataca o sistema imunológico e acarreta o aparecimento de diversas doenças e o enfraquecimento do corpo. Em 2010, segundo o Ministério da Saúde, 11.965 pessoas morreram da doença no país.
Em Montenegro, apesar das intensas campanhas de orientação e conscientização conduzidas por autoridades e pela mídia na última década, a não redução no índice de contágio nos últimos quatro anos é alarmante. Ao todo, hoje, a rede municipal de saúde tem 1.130 pessoas com Aids cadastradas no sistema, recebendo o tratamento pelo SUS. Isso apesar de todo um trabalho realizado, com visitas a escolas, conversas com os agentes de saúde e divulgação. De acordo com profissionais da rede, conseguiu-se diminuir parte do preconceito em relação à doença, mas ainda há um caminho longo a percorrer para que diminuam os casos.
E é preciso lembrar que muitas pessoas podem viver com o HIV e não ter ciência desta condição. Por isso, existe em todas as Unidades de Saúde o serviço do teste rápido. Precisando ser marcado previamente, o teste dura cerca de 20 minutos, com a coleta de uma gota de sangue que é analisada. A partir dos doze anos de idade, qualquer pessoa pode realizá-lo e não é necessário estar em jejum.
Enfermeira que coordena estes atendimentos, Helena Maichrzak explica que, no tempo entre a coleta e o resultado, ocorre uma conversa com o atendido. “Se questiona o motivo que o levou a fazer o teste e o risco que ele possa ter corrido, para não repetir essa situação”, diz. “Se aconteceu de romper o preservativo, por exemplo, aí se instrui sobre o uso correto”. Frisando que toda a população é aconselhada a fazer o teste ao menos uma vez, ela afirma que o perfil principal dos que buscam o serviço são pessoas que foram expostas a uma situação de risco de contágio. Em 2018, já foram mais de 2.400 testes realizados.
A Profilaxia Pós-exposição
Uma opção para quem acabou sendo exposto a alguma situação de risco é a Profilaxia Pós-exposição, a PEP. Essa é uma medida de prevenção que consiste no uso dos medicamentos do tratamento do HIV por 28 dias seguidos. Esse tratamento está disponível em nível emergencial – em Montenegro, na emergência do Hospital Montenegro – e pode ser eficaz se iniciado em até 72 horas após a exposição. Essa pessoa precisa seguir sendo acompanhada pela equipe de saúde por pelo menos 90 dias.
O teste rápido deu positivo. E agora, o que se deve fazer?
As profissionais que conduzem os testes na rede municipal de saúde recebem treinamento do Ministério da Saúde. Apesar de o HIV ainda não ter cura, há o tratamento, que permite que a pessoa tenha uma vida normal, seguindo cuidados. Mas dar a notícia de um teste positivo, conforme a assistente social Ana Paula da Silva, nem sempre é fácil. “Quando a gente vê que a pessoa não está conseguindo lidar com a notícia ou negou o resultado, nós sugerimos o encaminhamento para o atendimento psicológico”, conta.
É tudo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após um resultado positivo no teste, é feito um segundo teste e, já na sequência, o atendido é encaminhado para a enfermagem para novos exames e agenda uma consulta médica específica. O sigilo dos profissionais é garantido por lei e o paciente passa por consultas semanais que acompanham a adesão ao tratamento que, atualmente, deve seguir pelo resto de sua vida. No Brasil, mesmo nos atendimentos particulares, os medicamentos só são dispensados pelo SUS.
Saiba mais
– Em Montenegro, a maioria dos diagnosticados tem entre 21 e 30 anos;
– os números de contágio são semelhantes entre homens e mulheres;
– após a exposição a uma situação de risco, há uma janela imunológica onde a doença, se contraída, pode não aparecer no teste;
– é importante fazer o teste para começar o tratamento o quanto antes.
Dado preocupante
No país, a média de casos registrados entre 2014 e 2017 gira em torno dos 34.400. Proporcionalmente à população, o número significa 0,02% dos brasileiros que é diagnosticada com HIV por ano. Na média do município, de 79 anual, essa proporção populacional chega a 0,12% – índice que é seis vezes maior do que o dado nacional.