Alerta. No Vale do Caí, essa realidade pouco saudável também é percebida pelos médicos que atendem a população
Uma pesquisa divulgada esta semana revela que os brasileiros estão mais gordos. Em 10 anos, a prevalência do sobrepeso passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016, atingindo quase um em cada cinco brasileiros. Os dados inéditos fazem parte da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde em todas as capitais do país.
O resultado reflete respostas de entrevistas realizadas de fevereiro a dezembro de 2016 com 53.210 pessoas maiores de 18 anos das capitais brasileiras e estão disponíveis no site do Ministério (portalsaude.saude.gov.br). Segundo a pesquisa, o crescimento da obesidade é um dos fatores que pode ter colaborado para o aumento da prevalência de diabetes e hipertensão, doenças crônicas não transmissíveis que pioram a condição de vida do brasileiro e podem até matar.
O diagnóstico médico de diabetes passou de 5,5% em 2006 para 8,9% em 2016 e o de hipertensão de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016. Nos dois casos, o diagnóstico é mais prevalente em mulheres. A médica nutricionista Carolina Rabello Drummond, do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Unimed Vale do Caí, afirma que, quando fazia atendimento ambulatorial no Espaço Vida, percebeu nitidamente o aumento no volume de avaliações nutricionais.
“A maioria dos pacientes encaminhados por médicos era porque os mesmos apresentavam alterações nos exames e também tinham sobrepeso e obesidade”, confirma. Isso fez com que o objetivo maior nas consultas fosse o emagrecimento, dando início ao acompanhamento nutricional que auxiliaria no tratamento. Já no hospital a realidade é outra, pois acabam sendo internados pacientes, por diferentes diagnósticos, segundo Carolina.
Hipertensos e diabéticos comem mal
No Hospital Unimed, a médica percebe muitos pacientes que não apresentam necessariamente quadro acima do peso, mas consequências físicas relacionadas com a má alimentação, como diabetes, hipertensão ou algum problema cardíaco. “Neste momento em que é realizada a avaliação nutricional, já oriento o paciente nas condutas alimentares que ele possa melhorar em casa”, afirma.
O Hospital Unimed oferece o serviço do grupo de profissionais que atendem a pacientes da cirurgia bariátrica (redução de estômago). Uma avaliação nutricional aponta se o paciente tem ou não o perfil para esse procedimento. Carolina percebe um aumento destes encaminhamentos, em virtude de que realmente muitas pessoas estão apresentando cada vez mais excessos alimentares e sedentarismo, acarretando a obesidade.
“Enquanto não houver mudanças, a começar por nós mesmos em casa, reeducando nossos hábitos, estas estatísticas irão aumentar”, alerta a profissional. A obesidade, por se tratar de uma doença multifatorial, também deve ser abordada por profissionais de diferentes áreas da saúde. Segundo a nutricionista, muitas vezes, esse paciente já tentou de diversas formas emagrecer, mas não obteve sucesso. “Acredito que seja necessário, portanto, o envolvimento de todos para ajudar a diminuir a prevalência da obesidade”, finaliza.
Excesso de peso e obesidade
A obesidade aumenta com o avanço da idade. Mas mesmo entre os mais jovens, de 25 a 44 anos, atinge um indicador elevado: 17%. O excesso de peso também cresceu entre a população. Passou de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016. Já é presente em mais da metade dos adultos que residem em capitais do país.
Menos feijão no prato
A pesquisa também mostra a mudança no hábito alimentar da população. Os dados apontam uma diminuição da ingestão de ingredientes considerados básicos e tradicionais na mesa do brasileiro. O consumo regular de feijão diminuiu de 67,5% em 2012 para 61,3% em 2016. E apenas um entre cada três adultos consome frutas e hortaliças em cinco dias da semana. Esse quadro mostra a transição alimentar no Brasil, que antes era a desnutrição e agora está entre os países que apresentam altas prevalências de obesidade.