Eles continuam na atividade mesmo depois da aposentadoria

“Pra foto tem que fazer pose”, brinca o médico Kurt Cristiano Heller, enquanto preenche uma receita de medicamentos. Aos 95 anos, o doutor continua atendendo em seu consultório e é a prova de que envelhecer com saúde e trabalhando parece ser uma tendência cada vez mais comum no mundo contemporâneo.

Muitas pessoas continuam no mercado de trabalho mesmo depois da aposentadoria, seja por necessidade financeira ou até mesmo por não conseguir largar a profissão de vez. São inúmeros os benefícios para quem continua ocupando boa parte do dia com o trabalho. Manter relações sociais, por exemplo, pode ser importante para evitar a perda de memória e sintomas relacionados com o Alzheimer. Estar servindo funcionalmente também traz satisfações pessoais e aumenta a autoestima.

Estes fatos também estão relacionados com a expectativa de vida dos brasileiros, especialmente a dos gaúchos, que tem aumentado nos últimos anos e ficando acima da média nacional. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul é o quinto Estado com maior esperança de vida ao nascer. Por aqui, quem nasceu a partir de 2016 tem expectativa de vida de 77,8 anos.

Quando os números são separados por sexo, o cenário muda um pouco, pois homens vivem menos que as mulheres. A diferença média de vida dos gaúchos para as gaúchas fica em 6,8 anos. Eles esperam viver até aos 74,3 anos e elas aos 81,1 anos. Kurt Cristiano Heller, que aparece no início da reportagem, ultrapassou todas as estatísticas e diz que não há segredos para isso.

Profissionais de qualidade
Com os recentes casos de mortes após procedimentos estéticos e a aparição de falsos médicos e profissionais da área da saúde, o cínico geral Kurt Cristiano Heller foi questionado sobre o que recomendaria às pessoas que procuram algum tratamento. “Procurem o melhor profissional que estiver por perto. Pode não ser o melhor do Estado, mas que seja com boa referência”, afirma. Para ele, um dos maiores erros cometidos pelas pessoas, na atualidade, é procurar o atendimento mais barato, sem questionar a qualidade.

Outro ponto destacado pelo profissional, é a diferença do paciente de antigamente para o dos dias atuais. “Há muito tempo atrás as pessoas procuravam o médico por necessidade. Hoje todos procuram consultar com mais antecedência, prevenindo mais”, finaliza. O que é um grande avanço, afinal, muito melhor evitar a doença do que tratar.

Qualidade de vida na terceira idade

A escolha entre trabalhar e aposentar-se cabe a cada um, considerando a sua trajetória pessoal, desejos ou condições de saúde. Há quem escolha despedir-se da atuação profissional e opte por curtir os netos, viajar ou atuar de forma voluntária em prol de alguma causa. Todas as opções são válidas e merecem respeito. O importante é manter o corpo em movimento e a mente ativa.

Qualidade e longevidade de vida, bem-estar, integração, sentimento de união e amizade na terceira idade. É isso que preza a oficina de canastra do grupo Maturidade Ativa do Sesc, uma das atividades promovidas pelo projeto para quem tem mais de 60 anos. Realizado sempre às terças-feiras à tarde, no CTG Os Lanceiros, a atividade reúne 12 duplas. “Ela é organizada como se fosse uma competição. Além das 12 duplas, temos mais seis suplentes. Ao total, são 30 pessoas envolvidas”, destaca o coordenador do grupo Maturidade Ativa, Eduardo Azeredo.

Com criação há aproximadamente 10 anos, os benefícios aos participantes são inúmeros, segundo lista o coordenador. “Principalmente a questão da socialização. Em tirar o idoso de casa para o convívio social”, explica Eduardo.

Ao total, são oito oficinas ativas para o Maturidade, que inclui, além de canastra, teatro, víspora, câmbio (tipo de voleibol adaptado), ação e arte, dança, xadrez e canto e coral. “Fora as outras ações que realizamos durante o mês, como roda de conversa, caminhada, encontro de gerações”, conclui.

Amor pela medicina sustenta os quase 70 anos de profissão
Nascido em Montenegro, o médico Kurt Cristiano Heller iniciou seus estudos na medicina aos 21 anos, na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Logo que se formou, em 1949, foi para um pequeno distrito do município de Três Passos, no interior do Rio Grande do Sul. Após dois anos se mudou para o interior do Paraná, onde permaneceu por 20 anos e colaborou muito na construção da cidade Alto Paraná, inclusive foi ele quem criou o primeiro hospital do município.

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Médico mostra a antiga cama que ainda é usada para examinar os pacientes

Aos 95 anos, Kurt atende os pacientes à tarde, em seu consultório. “Não posso parar. Já perdi as contas de quantas datas eu prometi parar de atender e, sempre que chegava o dia marcado, eu desistia”, revela. O principal motivo que mantém o cínico geral em atividade é o amor pela medicina. “Gosto muito de receber as pessoas e ver elas melhorando após as consultas”, aponta.

Heller confessa que a família fica dividida entre ele parar ou continuar atuando. No entanto, todos sempre apoiaram a decisão dele e a esposa Alice Heller é quem deu suporte ao marido durante todos estes anos. “A grande ajuda, em todos os momentos, sempre veio da minha esposa Alice”, destaca.

Fundador da Unimed Vale do Caí, Kurt fala que teve que se adaptar à medicina atual e acompanhar as mudanças. “Preciso ficar atualizado no que faço”, completa. Ele usa a leitura como aliada neste processo de requalificação. Além disso, sua capacidade de memória, diálogo e visão da atualidade se sustentam nas leituras diárias. Conforme o médico, anos atrás os livros de aventura faziam parte da biblioteca pessoal. Hoje são romances e biografias que despertam a atenção de Heller.

Bom para a memória e melhor qualidade de vida
Regina Bley Salazar, 73 anos, participa da oficina de canastra desde a sua criação. Com cartas em mãos, cuidando para não entregar o jogo às parceiras, destaca, entre as vantagens proporcionadas pela atividade, a manutenção da memória e concentração. “Além das amizades que fiz aqui. Com certeza a prática contribui para a qualidade e longevidade de vida. A gente sai de casa, encontra os amigos, fica relax”, pontua.

“Além das amizades que fiz aqui, com certeza a prática contribui para a qualidade de vida e longevidade. A gente sai de casa, encontra os amigos, fica relax”, pontua Regina Bley Salazar, 73 anos.

Assim como ela, as companheiras de mesa, Ilsa Griebeler da Motta, 71 anos, Maria Terezinha de Assis, 67, participam há bastante tempo. Apenas Ladi Maria Marini, 63 anos, iniciou com as cartas neste ano.

Ilsa Griebeler da Motta, 71 anos e Ladi Maria Marini (ao fundo), 63 anos na oficina de canastra, na terça-feira

Momentos de descontração, risadas e estratégias, dividindo bons e maus momentos. Ana Maria Herzer, 62 anos, destaca que o grupo é como uma família. “Além de que o jogo de carta é muito importante para a memória, para a socialização. Eu participo desde a fundação. E também participo do câmbio. Tudo que é jogo eu gosto”, declara.

Pedro Silvino Pohren, atento às jogadas, esboça sorrisos volta e meia e destaca o conforto em participar há tempos do grupo. Já Adelmo Augusto Kettermann, 75 anos, confessa a ansiedade que sente para que chegue logo o dia da oficina. “A gente fica contando as horas, pensando que tem que esperar mais uma semana. Aqui temos momentos de lazer e todo mundo procura se corresponder. Não fica restrito apenas à competição”, destaca. “E a busca do desafio na nossa idade é muito bonito. Aqui, com o grupo, é uma extensão da minha casa”, complementa Clair de Azeredo Lermen.

Oficina de canastra do grupo Maturidade Ativa do Sesc objetiva a socialização da terceira idade

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