Educador, um condutor de sonhos

Às vésperas do Dia do Professor, Luísa Deitos Reinaldo e Juliana Silva são porta-vozes dos desafios da profissão

Ser professor em um país que não valoriza seus profissionais é ser super-herói. Ou super-heroína. Empenho, dedicação, reinvenção, afeto, paciência e vocação; não há uma só palavra que possa defini-los na prática. E nada mais justo que para o Dia dos Professores, neste dia 15 de outubro, elas, que ensinam, cuidam e almejam um futuro feito por seres críticos e empáticos sejam porta-voz dos desafios e encantamentos da profissão.

Luísa Deitos Reinaldo, 37 anos, leciona para o 1° ano na Escola Cinco de Maio há sete anos. “Estou na área da educação há 15 anos, aproximadamente. Minha mãe, que também é professora, me incentivou. Fiz primeiro o magistério e posteriormente Biologia, e eu aprendi a amar a profissão”, relata.

Para Luísa, ensinar é uma ação que molda vidas, oportuniza e oferece a perspectiva de um futuro melhor. “As crianças se espelham na gente. Ser professor é saber ouvir, ter paciência, pesquisar e ter compromisso. Perceber como cada criança aprende, sente, e desenvolver as habilidades individuais”, explica.

O desafio, de acordo com ela, também acompanha a carreira: mais ainda em 2020, que trouxe um novo – e inesperado- cenário para a educação. Em meados de março, mês em que as aulas presenciais foram interrompidas, a rotina dos profissionais mudou completamente. “Precisei improvisar o uso de um computador antigo para planejamento das aulas. Foi o que me salvou. Também troquei meu celular, que era um modelo ultrapassado. E a minha sala de casa agora é sala de aula. Acho que cada profissional precisou se reinventar e buscar meios próprios para essa nova forma de ensinar” destaca.

Com o cotidiano completamente adaptado, relata que esse também foi momento de rever os próprios métodos de ensino, aliar-se ainda mais à tecnologia e lidar com a demanda que é trabalhar em casa, com horários alternados e solicitações frequentes.
Grupo de WhatsApp para passar conteúdos e aproximar alunos e família da escola, biblioteca virtual, troca de experiências com colegas através da rede social, que virou rede de apoio, fazem parte da nova realidade. “Nossa profissão tem muito isso do olhar, da troca afetiva presencial, que constrói nossas relações em ambiente escolar. Então o grande desafio é manter esse vínculo mesmo a distância”, acredita.

Outra reflexão pertinente trazida durante a pandemia, de acordo com a professora, é sobre a falta de adequação do sistema educacional ao atual cenário social. “Nossa estrutura é engessada e atendemos uma geração que já nasceu em meio à internet e tecnologia. Então é preciso investir em políticas para essa área, para renovar o ensino. E mais do que nunca percebemos essa necessidade”, defende.

Ainda com todos os percalços, o desejo de educar com qualidade jamais é deixado de lado. “Tenho me colocado no lugar das famílias que agora tem a demanda de trabalho, mais a responsabilidade de ensinar os filhos. E sei que há muitas limitações nesse processo. Os pais também têm reconhecido a importância do professor no processo de ensino e como nos dedicamos. Acho que a empatia é algo importante a ser mantida mesmo quando não houver mais pandemia”, diz.

“Eu me encanto com a pureza das crianças, os sonhos e alegrias que elas têm. Elas conhecem o mais puro e trabalhar com elas é trabalhar com vida, com energia. E somos agentes transformadores, nós temos esse poder. Plantamos uma sementinha em cada criança. Então tudo que pudermos acrescentar na vida de alguém, eu acho importante”, completa.

Coração cheio de amor e encantamento que se mantém
Também na casa da Juliana Silva, mobília e objetos da sala dividem espaço com blocos lógicos, cartazes e caixas com materiais escolares. Ser professora, segundo ela, era um sonho de infância, além do desejo de cursar uma faculdade. Ainda muito jovem formou-se no magistério, depois pedagogia e uma pós-graduação em alfabetização e letramento. Trabalhou por 22 anos na rede particular de ensino, no Instituto São José, e há 14 anos leciona na Escola Cinco de Maio, para turmas do Jardim.

“Ser educador é ter a possibilidade de transformar a vida de um aluno para melhor através do estudo, do conhecimento e da troca de afetividade”, defende Juliana Silva

“Ser educador é ter a possibilidade de transformar a vida de um aluno para melhor através do estudo, do conhecimento e da troca de afetividade. É saber que a tua profissão promove o encantamento, assim como eu também tive bons professores que me inspiraram”, acredita.

Um colo, um carinho ou um olhar, segundo ela, podem e fazem muita diferença na vida pessoal das crianças, para além da educação e conhecimento sistematizados. “Às vezes é a única demonstração de afeto e atenção que eles têm no dia. E por mais que tenhamos dificuldades e a questão da desvalorização na profissão, isso ninguém nos tira, essa troca, esse fazer a diferença”, pontua.

Mas o encantamento não é despertado apenas nos alunos. Com muita confiança, entre citações de Paulo Freire, ela acredita que, sim, é possível construir uma sociedade melhor através da pedagogia.

“É uma carreira que trouxe outro sentido na minha vida. Na questão mesmo de conhecer outras realidades, as diferentes formas de educar dos pais. Além do lado social que desenvolve, de mostrar o bom, o bem, e uma perspectiva melhor de futuro para eles. É isso de mostrar o mundo. E é tudo mágico, fantástico para as crianças. Eu me encanto como a educação infantil é fértil! A pureza das crianças, uma boa orientação, me faz crer na humanidade”, destaca.

O impulsionador principal da carreira, de acordo com Juliana, sem dúvidas a vocação e amor pelo ofício. Principalmente em um ano conturbado, em que as horas de trabalho foram redobradas e métodos de ensino adaptados, de casa ou da própria escola. Momento em que, defende, empatia e sentimento de ajuda foram aumentados.

“Os pais têm percebido a importância do professor e nós temos entendido mais do que nunca as diferentes realidades. E temos nos empenhado buscando alternativas, adaptamos os conteúdos para facilitar o processo de aprendizagem aos alunos. E como minhas turmas são de pequenos, gravei muitas aulas na escola, para manter a ambientação e para que o vínculo não seja perdido”, detalha.

O trabalho em equipe, em uma rede de acolhimento e troca de conteúdos com outros docentes, também foi fortificado, tornando tudo mais fácil. “Mesmo com as limitações e carências da educação pública, com desigualdades expostas a todos nesse ano, quando há unidade de ação em um grupo, há um suporte de ajuda”, termina.

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