Em tempos “fast-food” e de infinitas tentações alimentares, comer saudável se tornou sinônimo de educação do paladar
Em meio à agitação da sociedade pós-moderna, muitos aspectos mudaram no comportamento da população dando novos contornos a antigos costumes, um exemplo disso foram as mudanças alimentares. A expressão máxima dessa nova realidade são os alimentos “fast-food”, ou seja, as comidas prontas. Com o tempo, as consequências desses novos hábitos têm se tornado um desafio para as escolas que buscam conscientizar as crianças sobre a importância de uma boa alimentação.
A nutricionista Cauana Neis, explica que grande parte dos problemas que acarretam em uma alimentação inadequada, tanto para adultos quanto para crianças, tem origem na falta de informação. Dessa forma, o que antes era considerado “doenças de adultos” como hipertensão, diabetes e alterações metabólicas estão cada vez mais presentes nas crianças. “Isso se dá, principalmente, ao consumo de alimentos ricos em produtos ultraprocessados repletos de açúcar e aditivos químicos, além da falta de atividade física”, destaca a nutricionista.
Nas salas de aula, o tema é encarado com seriedade por grande parte dos educadores. A professora de ensino infantil Andréia Alves Schwalm salienta que esse trabalho deve ser realizado em conjunto com toda a sociedade. Há 11 anos ela atua na área da educação e tem percebido uma mudança importante no comportamento das famílias diante desse cenário. “Eu noto que os pais estão se preocupando cada vez mais com o que os filhos comem e são os primeiros a cuidar e questionar sobre aquilo que é consumido dentro da escola”, disse Andréia.
Na instituição onde trabalha, a professora comenta que são oferecidas todas as refeições para evitar que os alunos tragam alimento de casa. O objetivo é incentivar uma rotina alimentar saudável e equilibrada sem abrir mão de um acompanhamento nutricional, porém, mesmo diante dos esforços, às vezes acontece de algumas crianças surgirem com um salgadinho ou biscoito recheado. Para a nutricionista Cauana, a participação dos pais em relação às informações obtidas pelos filhos em sala de aula é fundamental para o processo de educação alimentar. “Caso não tenha essa troca, ficará difícil colocar em prática todo conhecimento adquirido sobre alimentação saudável”, salienta Cauana.
Conforme a criança vai crescendo, maiores são os desafios. O contato com as infinitas possibilidades fora da sala de aula diminui a barreira entre o consumo daquilo que é considerado saudável e prejudicial. De acordo com a nutricionista, debater esse tema em sala de aula faz com que as crianças criem o hábito de ler os rótulos dos alimentos, entendam a necessidade de consumir frutas, legumes e verduras diariamente, dando espaço para uma nova cultura alimentar.
No dia a dia, a professora Andreia percebe que quanto mais nova a criança, melhor é o processo de aprendizagem e menor é a resistência. “Como incentivamos o consumo de alimento saudável aqui na escola, para a maior parte das crianças isso não é visto com estranheza”, disse Andreia, que reconhece a dificuldade quando se trata de alunos dos anos mais avançados.
Aula de culinária: uma forma lúdica de educar
Para abordar o assunto sobre educação alimentar com as crianças, uma escola de ensino infantil de Montenegro desenvolveu um projeto chamado de Aula de Culinária, onde os pequenos alunos têm a possibilidade de conhecer como os alimentos são processados. Além disso, é nesse momento que eles são incentivados a consumir os nutrientes fundamentais para que se desenvolvam de maneira saudável.
A professora de ensino infantil Andréia Alves Schwalm conta que a Aula de Culinária é uma forma lúdica de educar as crianças que tem dado bons resultados. “Durante as aulas elas aprendem sobre a origem do alimento e fica mais fácil aceitarem quando fazemos analogias com aquilo que faz parte do universo delas, como, por exemplo, comparar o verde do brócolis com a cor do super-herói Hulk”, explica a professora. “As saladas de beterraba e tomate já estão na lista dos alimentos preferidos entre eles, sem contar a paixão pelas frutas”.
De uma forma natural, a curiosidade e o conhecimento acabam por, pouco a pouco, construir um paladar mais nutritivo. É na sala de aula que os alunos podem e devem introjetar a percepção de que, para ser considerada saudável, a alimentação deve reunir todas as substâncias de que o corpo precisa para funcionar corretamente.
Alimentação é qualidade de vida
Em uma sociedade cada vez mais influenciada pelos padrões estéticos, se tornou comum a associação de saúde a corpos magros. Contudo, por mais que prevenir a obesidade seja importante no intuito de evitar o surgimento de muitas doenças, a realidade é que os alimentos que são consumidos exercem uma influência bem mais ampla.
Hoje em dia a professora Andréia Alves Schwalm tem uma nova concepção de qualidade de vida. Há três anos ela passou por uma cirurgia bariátrica por conta do sobrepeso e conta que embora tivesse obesidade, nunca teve problemas de saúde devido à alimentação que tinha. “Meu problema era comer em grandes quantidades e com o tempo começou a ficar difícil a mobilidade”, explica Andreia. “Existe também a questão do estado emocional de cada pessoa, já que eu tinha uma boa alimentação e isso não foi o suficiente e influenciou no peso”.
Segurança alimentar e nutricional é um direito
De acordo com a nutricionista Cauana Neis, a segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. “Todo o País deve ser soberano para assegurar sua segurança alimentar, respeitando as características de cada povo, manifestadas no ato de se alimentar”, acrescenta a nutricionista.