Técnica. O respeito e o amor ao animal através de uma doma menos agressiva
No Santuário Hípico Spiritu Liberi, em Capela de Santana, embaixo da figueira multicentenária chamada Atã, o silêncio reinava, e os olhares observadores e atentos focavam em somente uma coisa: a conexão entre homem e cavalo sendo criada. Enquanto o montenegrino Paulo Augusto Petry, o Guto, de 24 anos, amansava a égua Boneca no redondel, pessoas vindas de todo o Brasil acompanhavam os ensinamentos de lida – e vida – na quarta edição do Viver – Doma Índia e conexão com cavalos.
Quem também experimentou um pouco dessa conexão foi a paranaense Alice Martins, de 43 anos, que se dispôs a tentar enfrentar as suas dificuldades e ir ao encontro de Boneca. “O Guto sempre fala nas lives dele, que o Viver é o Viver, e não tem como explicar. E realmente, não tem como explicar, é mágico”, diz.
Fisioterapeuta por formação, Alice conseguiu tirar uma semana de folga do serviço para vivenciar a experiência, e após 620 Km de carro garante que valeu muito a pena. “No primeiro dia que ele fez o amanse do cavalo baio e aconteceu a entrega, mesmo a gente não estando fazendo, a vibração que vem é muito grande. A emoção que toma conta da gente é uma vibração interna. Se só de olhar já foi mágico, imagina quando for eu fazendo”, declara.
Antes da pandemia, Alice relata que iniciou seu trajeto para uma vida mais próxima aos cavalos. Após comprar alguns animais, ela disse que a transformação foi externa e interna. “Eu nessa minha andança toda de trabalho tomava remédio para ansiedade; eu estava tomando seis comprimidos por dia. E quando eu comecei a mexer com os cavalos em trinta dias parei de usar todos os remédios. Eu senti na prática o bem que o cavalo traz para a nossa vida, e comecei a ver o quão eles são especiais”, completa. Agora, ela garante que os planos de vida mudaram, e que está confiante que será renovador.
Vindos de Brasília, o casal Samanta Nadin, 32 anos, e Euriler Jubé, de 22 anos, tiveram um contato também com a Boneca, e ambos descrevem que a sensação é inigualável. “Quando eu estou ali dentro (redondel) e com o cavalo rodando parece que tem uma bola de energia que você nem sabe o que está acontecendo do lado de fora. É uma experiência interior também. Eu estava ali dentro hoje e entendi muita coisa que eu faço, que acontece comigo, que eu sinto”, fala Samanta.
Ambos fizeram o curso de final de semana de Guto em São Paulo no mês de dezembro e contam que gostaram tanto que decidiram vir às terras gaúchas para passar por essa imersão de uma semana. “A gente sempre vem pensando que é uma coisa, e quando você chega aqui você vê que é um propósito totalmente diferente. É muito mais maravilhoso”, declara. O casal gostou tanto da experiência que já comprou dois cavalos e planeja investir em um haras próprio.
Autoconhecimento
Muito mais que um curso de doma, o Viver também envolve o autoconhecimento. “Eu não consigo descrever isso aqui, e ninguém vai conseguir, porque é uma coisa que vai além de conceito”, afirma o instrutor, Paulo Augusto.
Desde março de 2021, o Santuário Hípico Spiritu Liberi recebe pessoas de todos os Estados que buscam partilhar da experiência transformadora. “É um curso de Doma Índia e conexão com cavalos, eu poderia dizer que é um curso de autoamanse, que é a filosofia da doma índia. Para amansar um cavalo, nós temos que antes nos amansarmos”, fala Guto.
Além do Viver, Guto conta que no Santuário também são oferecidas atividades de constelação familiar assistida por cavalos, centro de Doma Índia e a escola de equitação índia, pioneira no Brasil e regida por ele. Mas afinal, qual a filosofia da Doma Índia? Guto explica que é, principalmente, viver amorosamente e com muita alegria. “Porque a gente amansa como doma, doma como vive e vive como pensa”, concluí.
Tudo começou quando em dezembro de 2019, Guto realizou o curso de doma índia, técnica criada pelo argentino Oscar Scarpati Schmid. Segundo ele, essa é uma vontade que tinha há muito tempo. Amante dos cavalos, desde os seus onze anos ele já conhecia a técnica através de vídeos na internet. “Sempre me encantava a ideia de estabelecer uma conexão mais intensa com o cavalo do que aquela que parte de um par de rédeas”, comenta.
Aos 13 anos Paulo Augusto teve seu primeiro cavalo, aos 16, o segundo. Porém, ambos já chegaram domados e ainda que já tivesse montado cavalos em fase de doma, o montenegrino nunca havia domado um do início ao fim. “Depois que comecei a estudar, morar sozinho e trabalhar em outro setor da agropecuária, me afastei um pouco da ideia de fazer o curso. Mas quando saí a viajar, quando deixei de lado todas as expectativas de ser alguém com ascensão profissional, com dinheiro e com um lugar onde passaria a vida toda, busquei trilhar um caminho de reencontro”, explica.
Em uma motocicleta CG 150, o jovem passou por terras Chilenas, Peruanas e Argentinas, onde finalmente deu início ao seu sonho. “Oscar aprendeu sua técnica com seu avô, que era um índio da tribo Ranquel. Estes índios eram exímios cavaleiros, que treinavam seus cavalos para a guerra. A fama se dá por não se tratar apenas de uma forma de domar cavalos sem o uso da violência, mas sim de uma forma de ver a vida”, explica Guto. Desde então, ele tenta difundir a Doma Índia e compartilhar seus conhecimentos sobre etologia e amanse equino.
Conheça mais
Guto fala que todos são mais que convidados para conhecer o Santuário e a técnica. “Aqui tem mate esperando e uma boa prosa”, diz. O telefone para contato é (51) 995299261, e mais informações também podem ser adquiridas nas páginas do Instagram, @spiritu_liberi e @guto_petry.