O dia 21 de junho marca o início do Inverno no Brasil e também é considerado o Dia Nacional do Controle da Asma. A data tem extrema importância para reforçar os cuidados para prevenção da doença crônica, ou seja, que não tem cura. Mesmo assim, vale destacar que há como controlar a asma, que é uma doença inflamatória das vias aéreas. Pierangelo Tadeu Baglio, médico pneumologista do Hospital Moinhos de Vento, adianta que se consegue obter um ótimo controle a partir de um tratamento continuado, por isso, a data serve como alerta. Ele ressalta que a doença é prevalente, potencialmente grave e não deve ser desprezada. “O paciente asmático deve procurar o atendimento com seu pneumologista, ter uma boa avaliação e acompanhamento. Entender a doença, saber o que fazer em caso de agudização, estar sempre atento ao controle e principalmente aprender a viver com uma doença que não vai ter cura, mas um tratamento contínuo”, enfatiza.
Pierangelo relembra que, geralmente, o paciente asmático sabe que deve ter um bom controle principalmente do ambiente domiciliar. Alguns cuidados são essenciais para tentar conter as crises. Dentre eles, o pneumologista destaca que se deve evitar locais onde possa haver o acúmulo de poeira e ácaros, que são os principais alérgenos, além de ambientes com muita umidade ou poluição. Por isso, mantenha os seus espaços de circulação sempre limpos e arejados. Uma das principais dicas de prevenção, e muito importante, é que o paciente aprenda a reconhecer seus gatilhos e evite-os. Entre os mais comuns estão pólen, poeira e pelos de animais.
Evitar cheiros fortes também é uma maneira de prevenção, já que para os asmáticos, isso pode ser “um prato cheio” para crises. Evite também tapetes, cortinas e carpetes. Outra dica que pode funcionar é usar cobertores, colchões e fronhas com materiais antialérgicos e encapados com plástico. Também tome cuidado com os aquecedores. Não os deixe ligados durante a noite toda enquanto dorme, pois ressecam o ar. Se ligar por um longo período de tempo, deixe no ambiente uma bacia com água ou toalha molhada.
Mesmo com tantos cuidados, Pierangelo reafirma que a doença pode se manifestar e é por isso que o paciente precisa ter o acompanhamento, assim como deve fazer o tratamento regularmente para evitar essas exacerbações e crises que podem ser um fator de bastante gravidade no curso clínico.
Doença tem característica genética
O pneumologista Pierangelo Tadeu Baglio destaca que, no Brasil, dados indicam que de 10 a 15% da população conviva com a asma. “Até 20% das crianças e adolescentes têm sintomas respiratórios que são compatíveis com asma, mas em termos de gênero não há uma prevalência. Ela pode ser frequente tanto em homens como em mulheres”, assinala. A asma é resultante, principalmente da inflamação crônica dos brônquios. “Esta inflamação ali presente vai ser exacerbada através da exposição da pessoa a determinados alérgenos, ou substâncias que podem estar no ambiente, como poluição, cheiros fortes, entre outros”, explica.
A asma tem característica genética e, na maioria dos casos, surge na infância. O pneumologista destaca que a doença pode surgir na fase de bebê, assim como também pode iniciar tardiamente, na fase adulta. Quando surge na infância, normalmente há um período de melhora na adolescência, para depois voltar a se manifestar na vida adulta, o que reforça a cronicidade da doença. “As causas são determinadas geneticamente e os sintomas vão ocorrer basicamente a partir da exposição a fatores alérgicos ou que acentuam esse processo inflamatório das vias aéreas”, salienta.
Os sintomas mais característicos são a tosse persistente, falta de ar e chiado ou aperto no peito. “Também pode acompanhar, muitas vezes, de sintomas de rinite alérgica, como obstrução nasal, coriza e espirros”, acrescenta. Não há fatores de risco que vão fazer a pessoa desenvolver asma. É o fator alérgico do indivíduo, somado às inflamações das vias aéreas que determinam o surgimento e a intensidade dos sintomas.
O médico relembra que, antigamente, se achava que a asma era igual para todo mundo, mas o conhecimento mais recente mostrou que isso não é verdade. “Tem asma com uma característica mais alérgica, uma asma mais mista, que mistura um pouco de alergia e inflamação, e tem um terceiro tipo que é mais inflamatória, que não é tão dependente dos processos de alergia”, explica. Embora os sintomas finais sejam semelhantes, é importante entender que é uma doença diferente nesses três grupos. Segundo Pierangelo, isso se dá porque as opções de tratamento podem ser diferentes de acordo com o que o paciente manifesta e com as características que ele apresenta. “Então isso é um conceito relativamente novo em asma, de ela não ser uma doença única, mas uma doença bem heterogênea com características diferentes para cada grupo de doente.”
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico de asma leva em conta principalmente o aspecto clínico, ou seja, uma história compatível de sintomas respiratórios recorrentes que oscilam ao longo do tempo. O médico pontua que, muitas vezes, se consegue identificar os fatores que são desencadeantes para a asma, para o surgimento dos sintomas. Para corroborar esse diagnóstico, existem os testes de função respiratória, onde é possível verificar um caráter obstrutivo. A asma é uma doença obstrutiva que causa dificuldade do ar transitar nas vias aéreas e isso pode ser identificado através do exame de espirometria ou exame de pico de fluxo respiratório. “Quando a gente detecta essa obstrução e, principalmente, quando ela é reversível ao uso de broncodilatador, isso é um dos critérios de diagnóstico principais da asma”, diz.
Quanto ao tratamento, é basicamente feito através de terapia inalatória, onde a principal medicação é o corte asteróide inalatório. “De acordo com a necessidade de dose dessa medicação e da necessidade de associar um broncodilatador de ação prolongada, vamos ter os passos de tratamento”, completa Pierangelo. Ele afirma que existe uma convenção internacional de manejo da asma, o Gina. Lá, são definidos cinco passos, ou cinco steps, de tratamento. “Nos steps um e dois seria um tratamento intermitente, baseado na sintomatologia, que é usar a medicação conforme a necessidade. O passo três é aquele quando o paciente precisa de uma dose baixa de medicação. No passo quatro ele precisa de uma dose moderada e o cinco é aquele paciente que precisa de doses altas das medicações, principalmente do corticoide inalatório e do broncodilatador para se manter controlado”, detalha.
O principal tratamento da asma são as medicações inalatórias, especialmente os cortes asteroides e broncodilatadores. Mas, quando se fala de asma grave, nos últimos anos, também tem crescido muito o uso de imunobiológicos. “Conseguimos fazer um tratamento bem personalizado de acordo com a necessidade do paciente, mas os imunobiológicos hoje em dia estão mais reservados para aqueles pacientes com asma de difícil controle ou asma grave, sendo que o padrão de tratamento ainda segue sendo as medicações inalatórias comuns que vão controlar na grande maioria dos casos”, acrescenta.
A asma não pode desencadear outras doenças, mas tem uma associação grande com outras situações clínicas como a rinite alérgica e o refluxo gastroesofágico, que são situações que atrapalham o controle da asma. Porém, as consequências de uma crise asmática, mesmo que para o asmático leve, são muito importantes. “Algumas pessoas julgam ter uma asma leve, que incomoda muito de vez em quando, mas até 30% dos óbitos de pessoas com asma são desse grupo de pacientes. Se julgam com uma doença mais leve e daqui a pouco podem ter uma crise grave que pode colocar em risco a sua vida”, declara.
Então, pode-se dizer que a consequência mais grave da asma é a possibilidade de óbito, embora essa taxa tenha caído muito nos últimos 20 anos, devido ao avanço das terapias. Conforme Pierangelo, o paciente que não está controlado, consequentemente tem impacto muito grande na sua qualidade de vida. “Pode perder produtividade, limitação para fazer atividade física, perder dias de trabalho, dias de escola. É uma doença que pode impactar bastante na vida da pessoa, então é importante que ela tenha isso acompanhado, controlado e tratado da melhor maneira possível”, conclui.
Desde a infância controlando a doença
A montenegrina Giovanna Cerveira, 22, sempre teve problemas respiratórios. Ela pontua que não lembra exatamente quando e como descobriu que se tratava de asma, mas que a avó paterna também tem a doença e que tem alguma relação. “Minha mãe sempre me levou para tratamento com especialistas, como pediatras e pneumologistas. Quando eu era menor, além da asma, também sofria muito de bronquite, a ponto de ter muita tosse e não conseguir respirar por causa da inflamação nos pulmões”, relembra.
Além disso, Giovanna sempre sofreu com falta de ar. “Quando corria demais ficava muito cansada. Ficava doente constantemente e usava quase sempre nebulizador”, destaca. Por isso, desde pequena, ao saber da doença, fazia nebulização com frequência, assim como o uso de medicamentos para respirar melhor.
Desde lá, tem convivido com a doença, buscando controlá-la. “É bem ruim ter uma respiração limitada. A sensação é que realmente teu pulmão fica apertado”, conta. Além disso, ela ainda tem ansiedade, o que aumenta a falta de ar. Por isso, faz tratamento para as duas coisas. Atualmente, Giovanna diz que não tem mais tantas crises de asma, mas que no início eram muito constantes. Os ataques de bronquite também não são mais comuns.
Seu tratamento consiste no uso da bombinha Aerolin quando começa a época fria do ano, a pior para quem tem asma. “É o período que eu sinto mais falta de ar. Na Primavera e Verão eu não uso nada, mas gosto de fazer natação, que me ajuda a melhorar o fôlego”, pontua. Ela reitera que entre junho e setembro são os piores meses. “Fico muito sem ar. De noite também piora por causa do ar gelado da rua, aquela umidade me faz muito mal”, acrescenta.
Ela conta que seu dia a dia é normal, mas algumas situações trazem a falta de ar à tona. “Se eu precisar correr em alguma situação ou subir muitos lances de escada eu perco o ar, mas não a ponto de passar mal. A máscara também atrapalha um pouco porque dá a sensação de sufocamento, mas com o tempo eu me acostumei”, relata.
Giovanna conta que percebeu que quando frequentava academia, seu fôlego melhorava consideravelmente, mas acabou parando e a falta de ar piorou. Para ela, um dos piores momentos foi durante a pandemia de Covid-19. “Eu tive bastante medo de pegar o vírus, porque sabia que passaria mais mal que outras pessoas. Por isso, me cuidei bastante e por algum milagre, até hoje não peguei a doença”, finaliza.