Conheça mulheres que se apoiam e crescem juntas
Chegou o 8 de Março, data destinada especialmente para elas. Hoje, Dia Internacional da Mulher, é reservado para enaltecer a força, determinação e diversas outras qualidades de cada mulher em suas particularidades. Em Montenegro, grupos de mulheres se apoiam em diferentes causas, se fortalecem e crescem juntas dia a dia, provando que a força feminina é capaz de vencer barreiras.
Fortalecimento entre mulheres periféricas
O movimento Maria Maria foi criado dentro da Central Única das Favelas em outubro de 2007, em Montenegro. O grupo é liderado pela coordenadora Carliane Pinheiro, conhecida Kaká e tem a participação de 53 mulheres. Além de construir um projeto coletivo e democrático, a iniciativa tenta organizar o discurso das mulheres das periferias, sobretudo jovens, para que elas sejam estimuladas a participar dos processos políticos de decisão e ocupação de espaço na sociedade.
Dentro do grupo, as mulheres realizam rodas de conversas, palestras, capacitações, oficinas, orientações e encaminhamentos. Segundo Kaká, o grupo consegue desempenhar papel importante no fortalecimento das mulheres justamente pela realidade particular de cada uma das integrantes. “Cada mulher tem uma realidade de vida e situações de vulnerabilidade social. Existe um vínculo com as mulheres e adolescentes; momentos de escuta, troca e, acima de tudo, o fortalecimento mútuo dentre todas das participantes”, afirma.
Kauana Wilbert, 25, é uma das participantes do Maria Maria. Para ela, o núcleo está cada vez mais sólido e fortalecido. “Além da união, algumas mulheres compartilham da mesma história de vida, então, aquelas que sofreram muito estão sendo fortalecidas e acolhidas pelas outras. Isso faz toda a diferença”, relata. Para Kauana, um grupo formado exclusivamente por mulheres tem muito o que acrescentar na sociedade. “As mulheres podem se fortalecer e empoderar compartilhando suas dificuldades e vitórias. Lá, somos escutadas”, pontua.
Ela destaca que o projeto a ajudou muito, principalmente na retomada da autoestima. “Eu sempre fui muito vaidosa, mas com a chegada da pandemia, deixei de me cuidar para cuidar de quem eu amo, que é minha família. Com o passar do tempo, não tinha mais autoestima, não tinha vontade de viver”, conta. Foi então que entrou no grupo. “Nele eu aprendi me desenvolver como mulher, como mãe. Recuperei a minha autoestima e voltei a ser uma mulher feliz graças às mulheres do Maria Maria, que me fortaleceram a cada encontro”, ressalta.
Juntas em busca de saúde
Em 12 de março de 2007, um grupo de mulheres realizava sua primeira reunião, com foco em saúde: o Amigas do Peito. Há 16 anos, mais de 100 mulheres já passaram pelo grupo, que se encontra quinzenalmente para tratar de um assunto muito importante e delicado: o câncer de mama. O núcleo foi criado dentro do setor de medicina preventiva da Unimed Vale do Caí e integra o departamento de Atenção Integral a Saúde, com papel especial do médico Dirceu Mauch para implementação e, desde os primeiros passos, muita determinação da psicóloga Paulina Polking. Até hoje, o grupo gratuito e aberto à comunidade desenvolve papel de escuta, acolhimento e fortalecimento das mulheres que receberam o diagnóstico ou estão em tratamento, sempre com foco na importância da prevenção.
Paulina conta que muitas mulheres que entraram no grupo ao saber do diagnóstico, após a cura seguiram frequentando os encontros justamente para compartilhar sua experiência com outras integrantes. Para ela, o ditado “a união faz a força” é antigo, mas segue atual. “A possibilidade de poder falar e ser ouvida por quem pode saber do que eu estou falando, poder falar sem o temor de parecer frágil ou em sofrimento, poder mostrar-se e saber que será ouvida sem causar sofrimento, faz a diferença em grupo”, destaca.
Angélica Schons Kaspar, 36, é uma das integrantes do grupo que recebeu o diagnóstico em 2018 e depois teve recidiva, então, segue em tratamento. Ela afirma que com o passar do tempo, o grupo se fortaleceu dia após dia, principalmente devido ao convívio e troca de experiências. “Não me vejo mais fora deste grupo”, salienta. Para Angélica, a união das mulheres é o que estimula a força para passar pelos obstáculos da doença. “Uma simples mensagem de como você está, desejando força que vai dar tudo certo, já é muito importante. Todas as gurias do grupo são incríveis e no presencial a energia de todas nós contagia, dá ânimo pra não desistir”, ressalta. Ela ainda destaca que o grupo se fortalece justamente no momento em que algumas mulheres não tem o apoio necessário em família. “Muitas vezes nós nos vemos sozinhas naquela batalha. Nossa autoestima também fica bem abalada, então ali é um grupo em que nós nos sentimos acolhidas”, conta.
Unidas pelo empreendimento
Em outro ramo, mas com o mesmo objetivo, a Confraria de Mulheres Empreendedoras foi fundado em março de 2020. O intuito da associação sem fins lucrativos, segundo a presidente Márcia Farias, é fomentar negócios que inspiram e promovem mulheres, visando o crescimento de cada uma delas dentro do seu empreendimento. Atualmente com 36 associadas, o grupo realiza eventos sociais e culturais, cursos, capacitações, feiras de empreendedorismo feminino, rodas de conversas, café de negócios, entre outras tantas atividades.
Para Márcia, a união de mulheres que estão à frente de empreendimentos é fundamental. “Trocando informações a gente pode crescer juntas. Muita ação social e evento, sozinha tu não consegue fazer. A associação fortalece muito pelas parcerias possíveis, trabalho e conjunto”, enfatiza. Ela ainda relata que muitas das mulheres que procuraram pela Confraria não acreditavam no seu papel como empreendedora. Assim, o núcleo se tornou essencial para que cada mulher perceba a empreendedora de sucesso que é.
Melissa Lopes de Araújo, 42, é integrante da Confraria desde sua criação, segundo ela, por acreditar que pequenos movimentos fazem grandes mudanças. Para ela, os movimentos femininos são de extrema importância para que elas se reconheçam, se apoiem e se valorizem entre si. Ela pontua que a grande virada de chave é que as mulheres percebam que são aliadas, e não rivais. “Vivemos numa sociedade competitiva e individualista, movimentos como a Confraria das Empreendedoras nos ensinam que somos muito melhores quando estamos juntas, quando nos fortalecemos, quando uma estende a mão para a outra, apoia e vibra com a conquista da companheira, percebemos que há espaço pra todas, nao somos competidoras, somos aliadas”, destaca. Ela ressalta a importância do grupo para a busca do sucesso. “No grupo da Confraria uma acredita na outra e vibra com as conquistas pessoais e profissionais. Temos um lema: Não mexe comigo, porque eu não ando só! Musica da Bethânia, que nos representa, somos um grande grupo e estamos juntas”, finaliza.
Mulheres em evidência no interior
Em março de 2004 foi criadoo Grupo Organizado do Lar, GOLs, que tem o objetivo de criar alternativas de ganhos para donas de casa que não podem trabalhar fora. Com o passar dos anos, o grupo foi se desenvolvendo e hoje em dia oferece aprendizado na área do artesanato, saúde e culinária com apoio da Emater. O grupo tem divisões por localidades, sendo hoje, 15 grupos ativos em Montenegro. Lorena Augustin da Silva presidente do GOL Nossa Senhora das Graças e integrante da localidade de Vendinha, explica que os grupos se mantêm com chás e rifas organizados durante o ano.
Após, segundo Lorena, o montante arrecadado é doado para instituições carentes de Montenegro. Para ela, o grupo é essencial para unir e incentivar as mulheres. “Elas vão vendo que os trabalho são bons e se interessam cada vez mais em também ganhar seu dinheiro“, diz. Ponto alto para Lorena é o conhecimento adquirido ao longo do tempo. “Uma repassa para as outras seus conhecimentos. É uma forma também de reivindicar que as mulheres sejam bem vistas pelos poderes públicos”, acrescenta.
Negras e empreendedoras!
Em setembro de 2021, nascia o Coletivo de Empreendedoras Negras, com o objetivo de apoiar mulheres negras no desenvolvimento de seus emprendimentos no Vale do Caí. Atualmente, o coletivo conta com a participação de 35 mulheres que, sob coordenação de Letícia Silva dos Santos, trabalham duro em busca do sucesso. Dentre as atividades desenvolvidas estão a realização de palestras, feiras, encontros e eventos até mesmo fora de Montenegro. Letícia afirma que este é o espaço para fortalecimento das mulheres, com organização da participação delas nas atividades da região. “Incentivamos o crescimento econômico, a busca por formação, a cooperação entre elas e apoiamos no campo social. Ser mulheres e negras nos torna solitárias e ter alguém com quem contar nos fez mais fortes”, enfatiza.
Thais Santos, 41, é uma das mulheres que participa do coletivo. Ela explica que, com o passar do tempo, o grupo foi ficando cada vez mais forte, assim, as mulheres seguiram sendo cada vez mais bem vistas na sociedade e em diversos meios de atuação. Eu sua opinião, um coletivo feminino as torna empoderadas. “Quando juntas, nos encorajamos, trocamos experiências e fortalecemos os laços. As rotinas do dia a dia da mulher podem deixá-las desanimadas e principalmente sobrecarregá-las. No coletivo ela descobre que não está só, pois outras mulheres negras, mães, esposas e empreendedoras também passam pelas mesmas dificuldades”, explica.
Ela expõe que mulheres são forças da natureza. Muitas vezes geram filhos, cuidam da casa, trabalham fora, são donas de seus negócios e também por diversas vezes são as únicas provedoras da família. “São potências e ainda assim pouco protegidas pela sociedade que insiste em dar aos homens os principais benefícios e chances de crescimento. Está na hora de equipararmos a força da mulher tanto no pessoal quanto no profissional para sermos mais justos e constantes”, conclui.