DATA valoriza a cultura e os valores das comunidades
O Dia da Favela é comemorado no dia 4 de novembro. O termo apareceu pela primeira vez em um documento oficial nesta data, em 1900, quando o delegado da 10ª Circunscrição e chefe de polícia da época redigiu um documento se referindo ao Morro da Providência, localizada no bairro da Gamboa, região central do Rio de Janeiro, como “favela”. Por isso, o local é considerado a primeira comunidade do Brasil. Hoje, a Central única das Favelas (Cufa) é uma das maiores se não a maior representante das favelas no Brasil.
Rogério Santos, coordenador da Cufa Montenegro, diz que várias constatações levaram à celebração do dia, mas o principal foi este aparecimento do termo no documento. Ele explica que outra curiosidade é que o nome “favela” surgiu por causa de uma planta medicinal com o mesmo nome. A faveleira da Caatinga pode ser encontrada em alguns lugares dos estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Dependendo da região, também é conhecida como favela-de-cachorro.
Ele destaca que antes de comemorar a data, é preciso entender seu significado. “Não se pode falar em favela sem entender do que se trata. A favela existe há mais de 100 anos, mesmo assim, continua muito mal compreendida, sendo vista como um problema e uma ameaça”, reflete. Rogério sinaliza que desde o seu surgimento as favelas abrigaram os mais pobres, principalmente os negros, nordestinos e todos aqueles que não se enquadravam no que se chamava de “boa sociedade”. “Precisamos reconhecer muito que a origem das favelas remota as nossas desigualdades sociais, culturais, raciais e econômicas mais gritantes”, acrescenta.
Um local com diversas potencialidades
Rogério pontua que a favela sempre foi vista com significados negativos, o que continua muito presente na sociedade. “Lembrando que são territórios muito férteis de valores humanos, de solidariedade, união, gente trabalhadora e gente que compreende que esta corrente é a nossa principal estratégia de luta e resistência. Hoje, esta celebração é uma reflexão sobre este território que é tão importante na geração da economia neste País. São mais de R$ 119 bilhões gerados pela população da favela através do seu trabalho, esforço e dignidade”, sinaliza.
Rogério lembra que Celso Athayde, fundador da Cufa, costuma dizer que “favela não é carência, favela é potência”. Isso diz muito sobre o trabalho da Central nas comunidades. A intenção é potencializar tudo de bom que estes locais têm a oferecer. Hoje o Brasil tem mais de 14 milhões de pessoas vivendo em favela. Quanto a Montenegro, Rogério afirma que são 15 anos de trabalho e de luta. “Celebrar o Dia da Favela é comemorar as conquistas de gerações, famílias, que neste dia comemoram seu empoderamento, dignidade, cultura, alegria e seu protagonismo em superar as barreiras impostas pela história”.
São muitas potencialidades a serem destacadas, levando em consideração que já existe a Taça das Favelas de futebol, que inclusive tem sua edição em Montenegro; a ExpoFavela RS, que dá visibilidade aos empreendedores em vulnerabilidade social; o projeto Notas da Quebrada, que por meio de oficinas ensina as crianças da comunidade a tocar diversos instrumentos; Núcleo Maria Maria, que estende a mão para as mulheres da periferia, sempre focando na auto-estima; Mães da Favela, que atende exclusivamente as mães de família; a Horta Comunitária no espaço Isokan, com produção orgânica e cozinha sustentável e ainda diversas ações com o Slam e Hip Hop, levando artistas para fora do Estado para competições de poesia.
Favela é pura cultura e arte
MC Pedrão tem grande papel como transformador social dentro das favelas de Montenegro. O embaixador do Hip Hop gaúcho desenvolve o projeto Hip Hop Além dos Palcos. Pedrão realiza bate-papos em escolas e associações a fim de contar um pouco sobre suas vivências, escutar principalmente crianças e adolescentes e trocar experiências, sempre com uma palavra de auto-estima e superação. Este é um dos maiores exemplos de que a favela tem grandes potencialidades para serem exploradas e valorizadas.
Para Pedrão, o Dia da Favela é “uma forma de dizer que estamos vivos e também uma forma de mostrar o orgulho de onde se vive”. Ele pontua que é de extrema importância mostrar para o pessoal da “perifa” que no local onde vivem há muita coisa boa e potenciais a serem desenvolvidos. “O maior potencial que vejo na periferia e favela é não desistir dos objetivos, mesmo quando tudo vem contra. É a força de lutar pelo que se acredita”, ressalta. Ele diz que realiza diversas ações dentro das favelas com muito gosto. “Acredito que com oportunidades podemos mudar o rumo da própria vida e das pessoas que te cercam e eu tento fazer isso com meu projeto. Meu trabalho é esse: ser uma fonte de inspiração e superação de obstáculos, e é o que sou hoje”, finaliza.
O slam é uma parte fascinante dentro da cultura das favelas. Henry Adriel Rodrigues Moura, escritor, poeta e MC montenegrino, foi um dos artistas que representou Montenegro no Rio de Janeiro no mês passado. Ele destaca que o slam é uma subcultura dentro do Hip Hop, mas que ambos são bem semelhantes. Conforme ele, é uma maneira de manifestação cultural das comunidades. “Estas manifestações se fazem presentes todos os dias na vida do morador de periferia”, assinala.
No slam é muito comum que os poetas abordem assuntos que potencializam os seus, como auto-estima, força, positividade e beleza. Para Henry, o slam abre portas de oportunidades para quem segue e pratica a cultura. “Muitos talentos surgem a partir disso. Me abriu portas para trabalhar com teatro, locução, fazer comerciais, escrever livro”, diz. “O mundo da arte e da cultura para mim é um salvador de vidas todo santo dia. A arte é a válvula de escape para qualquer coisa. O slam é muito mais escuta do que fala e é uma troca de conhecimento”, complementa.