Religião. Missa, seguida de procissão e almoço, já é tradição da localidade
“Viva Nossa Senhora do Caravaggio”, dizia o padre. “Viva!”, respondiam os fiéis, em coro. Este era o clima na comunidade de São Pedro do Maratá, no Maratá, durante a manhã de domingo (20). Os termômetros marcavam 11 graus e o vento soprava forte, mas o clima não afastou os devotos, reunindo, na capela da localidade, cerca de 120 pessoas em celebração à santa.
Bem agasalhados, os moradores das redondezas seguiam a tradição que, ali, já tem quase meio século. Na missa, ouviram do padre Eduardo Haas lições sobre a fé e o sopro da vida, além de uma fala sobre a real importância da imagem que, como ele explicou, é Maria, Mãe de Deus, se manifestando conforme a realidade do local de sua aparição.
Eduardo contou que, no caso de Caravaggio, Maria manifestou-se para uma mulher simples, que estava em dificuldades e precisava de apoio para fortalecer a sua fé. O milagre ocorreu em uma comunidade italiana que se chamava Caravaggio e deu o nome à santa. “Maria não faz milagres, mas sendo a mãe de Jesus, ela tem uma força especial para pedir. Ela nos aproxima de Deus, servindo de intercessora e também de modelo. Ela sabe muito bem o que são os sofrimentos de nossa vida”, disse.
Após a celebração, os presentes seguiram em procissão. Buscaram a imagem da santa no altar – carinhosamente enfeitada para a ocasião – e seguiram, levando também bandeiras de representação da fé, orando e cantando. A caminhada foi curta – apenas cerca de 150 metros, saindo pelo lado esquerdo da capela, passando em sua frente e voltando pelo lado direito -, mas cheia de significado.
Embalada pelos foguetes que marcavam a celebração, os fiéis realizaram quatro paradas, carregando Nossa Senhora. A primeira foi em direção à Igreja Luterana, que fica ao lado da capela. Ali, incentivados pelo padre, os presentes rezaram pela religião e pediram por uma maior unidade da fé.
A segunda parada foi em frente ao salão da comunidade, onde estava sendo preparado o almoço que posteriormente seria oferecido à comunidade. De mãos levantadas, a prece foi em benção aos que trabalhavam no local e ao alimento que seria servido. Uma terceira pausa lembrou as pessoas em dificuldade – seja financeira, de saúde ou de relacionamento – e pediu graças. A última e quarta parada virou-se à comunidade de São Pedro do Maratá, que se dedicava à igreja.
A fé que percorre distâncias
Voltando da procissão, houve na capela um minuto de silêncio e, após, a benção dos presentes e de seus objetos. Muitos levaram fotos, chaves do carro ou da casa para receberem a proteção de Nossa Senhora. Dentre eles, estava a família Dahmer. Devotos de Caravaggio, o pai Sandro, a mãe Daniela e a filha Bianca, de apenas cinco anos de idade, ficaram pertinho do altar e, ao final da cerimônia, levaram para casa algumas flores que haviam enfeitado a imagem.
Daniela é natural do Maratá, mas ontem eles foram de Harmonia – onde estão morando – para acompanhar a celebração. Viajar em prol da fé, eles contam, não é incomum para os três. “A cada dois meses, quase, nós estamos lá no Santuário de Caravaggio, em Farroupilha”, conta a mãe. Ela e o marido se orgulham do incentivo que dão à filha, para seguir na fé.
Tudo começou com uma promessa na década de 70
A devoção da comunidade de São Pedro do Maratá – que leva o nome de um santo – à Nossa Senhora do Caravaggio começou em uma família que ali morava em meados do ano de 1976. A descendente, Maria Helena Lerner, lembra da história até hoje.
Aos 63 anos, ela recorda que os pais sempre foram muito devotos à santa. “Eu era pequena e nós íamos lá pro Santuário, em Farroupilha. Fazíamos piquenique”, recorda. Em 76, um problema no coração colocou seu pai no hospital, precisando de uma cirurgia urgente que teria que ser feita em São Paulo.
E foi uma promessa pelo bom resultado desta cirurgia que originou a tradição vista em prática ontem. Ele ficou bem, viveu por mais 11 anos após o procedimento médico e doou a imagem à capela local. “Foi a devoção de uma família que acabou virando a devoção de toda uma comunidade”, resume o padre Eduardo.