Sem renda e sem apoio, eles se refugiaram em um terreno perto do Morro
Há quatro meses, um grupo de famílias invadiu uma área privada, entre a mata do morro do São João e a rua Padre Balduíno Rambo. Sem água e luz, as casas foram erguidas com madeiras e lonas. Algumas reaproveitadas de outras instalações antigas. Ao todo são seis famílias com crianças entre quatro meses e seis anos de idade, totalizando sete menores em situação de alto risco de vulnerabilidade social. Não existem banheiros, apenas latrinas.
As histórias de vida se repetem na ocupação. São desempregados. Gente que pagava aluguel e que, diante das circunstâncias, da crise econômica, da falta de oportunidades após os 40 anos, com pouco estudo, viu-se às margens da sociedade. Um dos posseiros, o pintor Paulo dos Santos conta que, quando surge um “bico”, parte da renda acaba sendo para ajudar as famílias que possuem crianças. “Às vezes, é um leite. Aqui a gente se ajuda”, diz o homem de 53 anos. Casado com a dona de casa Madalena de Melo, o pintor aponta a casa onde morava, na mesma rua. “Era ali na esquina. Mas sem dinheiro, ficou difícil se manter lá, então viemos pra cá”, conta Paulo. “Os vizinhos nos conhecem, sabe que somos gente de bem”, aponta dona Madalena. Ela, assim como os demais moradores da área invadida, sonha com uma estrutura mínima. “Complica viver sem água e sem banheiro”, desabafa a mulher.
Proprietário teme nova invasão e surgimento de uma “favela”
Recentemente, o dono da área invadida, o empresário Cleomar Schaurich esteve no local para conversar com os moradores. O advogado dele, Gabriel Joner, foi junto e fez registro fotográfico para levantamento de impacto ambiental provocado no local. “Árvores foram derrubadas. Nós avisamos as autoridades municipais, o Conselho de Meio Ambiente e a Patrulha Ambiental”, explica. Segundo Joner, a conversa entre as partes foi pacífica. “Pedimos para que não derrubem mais árvores e eles entenderam”, afirma.
Como se trata de um imóvel registrado, ontem mesmo (15) o proprietário já solicitou na Justiça a reintegração de posse. “Primeiramente, registramos um boletim na DPPA sobre a ocupação e ajuizei o instrumento jurídico para assegurar o direito do proprietário”, atesta o advogado. Ainda de acordo com o empresário, dono do imóvel, há o interesse de lotear a área para conjuntos habitacionais ou mesmo erguer um parque de lazer no local, mas os projetos ainda não tiveram liberação na Prefeitura de Montenegro. Há rumores de que um ônibus com sem tetos estaria por chegar de Gravataí, o que poderia resultar em uma favela no local. “Isso é o que alguns moradores do bairro nos comentaram. Isso é preocupante”, alerta o advogado.
Vulnerabilidade social
Situação delicada também é a do posseiro Juarez Amaral, 49 anos. Carpinteiro por oficio, ele está desempregado. Há dois anos, ele faz tratamento contra a hepatite. Já recorreu ao INSS, mas diz que o benefício foi negado todas as vezes em que solicitou. “Até presidiário tem situação melhor que a nossa”, compara Amaral.
Parte dos medicamentos que consegue junto à Prefeitura estão em falta e Amaral não tem dinheiro para comprá-los. Com a saúde debilitada e sem recursos para manter o aluguel, ele acabou recebendo ajuda dos demais moradores da área para erguer o casebre onde vive. “Eu tinha uma casa alugada no Timbaúva. Agora, se não fosse pelo Paulo, que pregou as tábuas e as telhas, eu estaria na rua”, aponta.
Como se trata de uma ocupação de área particular, a Administração Municipal alega que não pode tomar nenhuma medida do ponto de vista da Assistência Social e habitacional, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura.